.

.

.

.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pensar a crise, pensar as pessoas

Pensar a crise, pensar as pessoas’ é o nome atribuído à conferência organizada pelo Município de Loures, em que irei participar. Nome feliz mas de interesses incompatíveis e inconciliáveis. A crise e as pessoas são duas linhas paralelas que nunca se cruzam. São realidades antagónicas. E é pena.
Entre a crise e as pessoas, são sempre estas que ficam para trás. A Europa e os nossos dirigentes políticos pensam na crise, esquecendo-se das pessoas. Como se fosse possível resolver a crise sem pensar nas questões sociais e económicas. A qualidade de vida e a dignidade do ser humano não são uma prioridade. Não foi por causa das pessoas que aqui chegámos. Foi pela ganância, pela procura do lucro fácil e por mercados loucos sem qualquer tipo de regulação ou de fiscalização.
A crise tem de ser pensada em função das pessoas e a sua resolução só faz sentido se for para melhorar as condições de vida dos europeus. Os senhores da Europa, aqueles que muito reúnem, com luxos asiáticos e que muito gastam, já ganharam muito dinheiro com a crise. Estão mais ricos e o cidadão europeu mais pobre. Para eles é na crise que está o ganho. Resolver a crise não é deixar o desemprego disparar, a miséria social aumentar, a família perder rumo e sentido e potenciar os conflitos sociais que geram insegurança e o crescimento da criminalidade. A política existe para servir as pessoas. Esquecer as pessoas é o mesmo que esquecer a vida. Pensa-se na crise mantendo a ganância, os lucros e o poder.
A crise política da modernidade, que deixou de olhar para as pessoas como a principal preocupação, perdeu, também, o sentido da crítica. Ninguém reflecte, com responsabilidade e respectivas consequências políticas, sobre as razões de estarmos nesta encruzilhada. A crítica não existe. Arendt, assim como Foucault, ensinam-nos que crítica e crise são fenómenos modernos indissociáveis, convidando-nos a enxergar a crise como momento privilegiado para o exercício da actividade da crítica. Nesta "sociedade de massas" o futuro imediato é que conta. Vivemos num mundo em que a qualidade de vida, a sua humanização, cedeu aos interesses hegemónicos de alguns. Ser um bom líder, honesto e transparente, com preocupações sociais e solidário, é coisa rara e pouco vista.
Só nos vamos safar no dia em que ao pensarem a crise não abandonarem as pessoas, estas linhas deixarem de ser paralelas e se restabelecer a confiança entre eleitos e eleitores, o que só acontecerá quando os verdadeiros responsáveis pela crise forem mandados para a prisão. Até lá, a ganância vai continuar, a corrupção não vai parar, vamos viver em crise e as pessoas vão continuar a ser esquecidas e a alimentar os "glutões" e suas famílias políticas.
Fonte:«CM-Rui Rangel, Juiz Desembargador»
Enviado por um leitor

1 comentário:

Anónimo disse...

Sei que muita gente irá concordar com o desembargador Rui Rangel nos seus sempre elequentes argumentos mas,quando chegar as eleições tudo isto será esquecido. Os fazedores de promessas levarão a melhor, e disso não tenhamos dúvidas.
Porquê? Essa é a questão que devemos colocar para que possamos destruir a "teia" que nos impede o raciocínio e a acção. A "teia" que nos tolhe a capacidade de tomar decisões objectivas e correctas no momento oportuno. O acto de votar terá de ser levado mais a sério e de maneira mais consciente e responsável.
Assim,desta maneira, nunca mais vamos sair disto. A repetição dos mesmos erros durante décadas é confrangedora. Até parece que somos um povo que gosta de ser mal tratado por meia dúzia de xicos-espertos.
Como diz o desembargador Rui Rangel :" Vivemos num mundo em que a qualidade de vida, a sua humanização, cedeu aos interesses hegemónicos de alguns."

F. Soares