Pensar a crise, pensar as pessoas’ é
o nome atribuído à conferência organizada pelo Município de Loures, em
que irei participar. Nome feliz mas de interesses incompatíveis e
inconciliáveis. A crise e as pessoas são duas linhas paralelas que nunca
se cruzam. São realidades antagónicas. E é pena.
Entre
a crise e as pessoas, são sempre estas que ficam para trás. A Europa e
os nossos dirigentes políticos pensam na crise, esquecendo-se das
pessoas. Como se fosse possível resolver a crise sem pensar nas questões
sociais e económicas. A qualidade de vida e a dignidade do ser humano
não são uma prioridade. Não foi por causa das pessoas que aqui chegámos.
Foi pela ganância, pela procura do lucro fácil e por mercados loucos
sem qualquer tipo de regulação ou de fiscalização.
A crise tem de ser
pensada em função das pessoas e a sua resolução só faz sentido se for
para melhorar as condições de vida dos europeus. Os senhores da Europa,
aqueles que muito reúnem, com luxos asiáticos e que muito gastam, já
ganharam muito dinheiro com a crise. Estão mais ricos e o cidadão
europeu mais pobre. Para eles é na crise que está o ganho. Resolver a
crise não é deixar o desemprego disparar, a miséria social aumentar, a
família perder rumo e sentido e potenciar os conflitos sociais que geram
insegurança e o crescimento da criminalidade. A política existe para
servir as pessoas. Esquecer as pessoas é o mesmo que esquecer a vida.
Pensa-se na crise mantendo a ganância, os lucros e o poder.
A crise
política da modernidade, que deixou de olhar para as pessoas como a
principal preocupação, perdeu, também, o sentido da crítica. Ninguém
reflecte, com responsabilidade e respectivas consequências políticas,
sobre as razões de estarmos nesta encruzilhada. A crítica não existe.
Arendt, assim como Foucault, ensinam-nos que crítica e crise são
fenómenos modernos indissociáveis, convidando-nos a enxergar a crise
como momento privilegiado para o exercício da actividade da crítica.
Nesta "sociedade de massas" o futuro imediato é que conta. Vivemos num
mundo em que a qualidade de vida, a sua humanização, cedeu aos
interesses hegemónicos de alguns. Ser um bom líder, honesto e
transparente, com preocupações sociais e solidário, é coisa rara e pouco
vista.
Só nos vamos safar no dia em que ao pensarem a crise não
abandonarem as pessoas, estas linhas deixarem de ser paralelas e se
restabelecer a confiança entre eleitos e eleitores, o que só acontecerá
quando os verdadeiros responsáveis pela crise forem mandados para a
prisão. Até lá, a ganância vai continuar, a corrupção não vai parar,
vamos viver em crise e as pessoas vão continuar a ser esquecidas e a
alimentar os "glutões" e suas famílias políticas.
Fonte:«CM-Rui Rangel, Juiz Desembargador»Enviado por um leitor
1 comentário:
Sei que muita gente irá concordar com o desembargador Rui Rangel nos seus sempre elequentes argumentos mas,quando chegar as eleições tudo isto será esquecido. Os fazedores de promessas levarão a melhor, e disso não tenhamos dúvidas.
Porquê? Essa é a questão que devemos colocar para que possamos destruir a "teia" que nos impede o raciocínio e a acção. A "teia" que nos tolhe a capacidade de tomar decisões objectivas e correctas no momento oportuno. O acto de votar terá de ser levado mais a sério e de maneira mais consciente e responsável.
Assim,desta maneira, nunca mais vamos sair disto. A repetição dos mesmos erros durante décadas é confrangedora. Até parece que somos um povo que gosta de ser mal tratado por meia dúzia de xicos-espertos.
Como diz o desembargador Rui Rangel :" Vivemos num mundo em que a qualidade de vida, a sua humanização, cedeu aos interesses hegemónicos de alguns."
F. Soares
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