O líder do BE, Francisco Louçã, lança na próxima segunda-feira um livro sobre a crise das dívidas soberanas e do euro e defende que "uma parte importantíssima" da dívida portuguesa é "ilegítima" e devia ser cancelada.
Em declarações à agência Lusa a propósito deste seu novo livro, intitulado "A Dividadura" e que também é assinado por uma dirigente do BE e economista, Mariana Mortágua, Louçã diz que a Europa e Portugal concretamente chegaram "a uma situação absolutamente insustentável e que é o resultado absoluto de uma construção ilegítima e tirânica de uma dívida que não existe".
"Acho que uma parte importantíssima da dívida devia ser cancelada porque simplesmente é dívida ilegítima, que não foi contraída pelos portugueses e resulta simplesmente do jogo financeiro e da acumulação de juros excessivos", defende.
Para além de abordar a atual crise e o caso português, "A Dividadura" traça uma perspetiva histórica do conceito de dívida e do seu contexto desde a Mesopotâmia, passando pelos textos bíblicos e indo até à bancarrota portuguesa no reinado do rei D.Carlos I, no fim do século XIX, à Grande Depressão ou às renegociações de dívida que tiveram lugar na Argentina ou na Islândia.
"O livro surgiu de uma conversa que tivemos entre nós a propósito da apreciação dos sucessivos relatórios do FMI sobre a dívida, em que entendemos que esta é a questão política determinante em Portugal, é a questão social determinante e a questão económica determinante", refere Louçã.
O líder bloquista, autor e coautor de diversas obras sobre economia, considera que a atual crise "só é excecional pela dimensão e pelo poder da chantagem financeira, por existir hoje uma finança mais global, mais poderosa e mais intocável".
"No livro é citado um estudo do Michel Rocard, ex-primeiro-ministro francês, em que este diz que o pacote de empréstimo do Estado norte-americano à banca americana foi feito a um juro de 0,01 por cento. Como é que Portugal pode estar a pagar acima de 3 e de 4 por cento quando a sua economia vai cair 4 por cento este ano?", interroga.
Para Louçã, a atual crise e os programas de austeridade impostos aos países, com o "desmantelamento" e "precarização" dos direitos laborais, irão levar a uma democracia "sem conteúdo, sem devolução, que só tem impostos e salários baixos".
"Portugal paga 8 mil milhões de euros de dívida este ano, mas daqui a poucos anos vai pagar 21 mil milhões de euros num único ano, quase três vezes mais", nota o líder e fundador do BE, considerando que os sacrifícios impostos aos países constituem "uma renda permanente de longo prazo para o capital financeiro".
Francisco Louçã refere que um dos objetivos ao escrever este livro é mostrar à opinião pública "as estratégias da dívida, a política da dívida, a tirania da dívida".
"Este é um fator decisivo para as escolhas democráticas, procurámos juntar muita informação factual, muita informação histórica, muitos pontos de vista diferentes, são muito citados os autores do FMI, são muito discutidas as posições dos economistas liberais e outros", disse.
"A Dividadura - Portugal na crise do euro" é apresentado na próxima segunda-feira pelo ex-líder do PSD e comentador político, Marcelo Rebelo de Sousa, numa livraria de Lisboa.
«Lusa»
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