José Relvas, que ficou para a História de Portugal como o homem que declarou a implantação da República, foi o tema da quarta conferência do ciclo organizado pelo Centro de Formação da Associação de Escolas (CFAE) do Centro-Oeste, a qual teve lugar a 9 de Outubro no CCC das Caldas da Rainha.
Trata-se de uma acção de formação destinada a professores (mas também aberta à comunidade) composta por 12 conferências, nas quais se pretende partilhar abordagens científicas relacionadas com a matriz republicana.
“Tendo sido a educação e a escola pública a base de legitimação da República e veículo privilegiado da sua implantação popular, não podem as comemorações do centenário ignorar uma e outra”, considera Nicolau Borges, director do CFAE Oeste-Centro.
“As escolas, os professores e os alunos, sobretudo no ensino básico, devem ser locais e protagonistas obrigatórios da evocação e celebração da República”, defende.
No início do século XX os livros escolares, os museus e as festas cívicas assumiram uma importância fulcral na construção do conceito de nação, assumindo-se como instrumentos utilitários para a construção do ideário republicano.
“Do ideário da revolução republicana de 1910 prevalece, na grande maioria das comunidades escolares nacionais contemporâneas, uma ideia positiva e afirmativa da acção política educativa da 1ª República”, diz o responsável.
Neste âmbito, a figura de José Relvas é incontornável. Não só pelo seu papel na implantação da República, mas também por ser um coleccionador de arte muito importante.
José Relvas legou a Quinta dos Patudos, a sua casa, a colecção de arte, a biblioteca e o arquivo, ao município de Alpiarça, impondo que a residência fosse conservada como museu e mantivesse a designação de Casa dos Patudos.
Neste museu existe uma grande representação de obras de José Malhoa e Rafael Bordalo Pinheiro.
José Relvas e José Malhoa tiveram uma amizade de 50 anos. No museu em Alpiarça existe um grande espólio de correspondência entre os dois, que está também disponível na Internet (http://bibalp.dyndns.org/docbweb).
Segundo a conferencista, Laurinda Paz (directora da Casa dos Patudos), José Relvas acompanhou a evolução artística do pintor.
“Para além da compra e venda de obras de arte entre os dois, podemos perceber a produção artística de José Malhoa e a actividade de coleccionador de José Relvas”, disse.
Com Bordalo Pinheiro também houve uma relação próxima, mas o ceramista era mais velho e acabou por falecer muito antes de José Relvas. A Jarra Beethoven foi criada por Rafael Bordalo Pinheiro expressamente para José Relvas.
Laurinda Paz começou a sua intervenção recordando os antecedentes familiares do coleccionador de arte, nomeadamente o facto de ser filho do fotógrafo Carlos Relvas.
A responsável da Casa dos Patudos salientou ainda a faceta de Relvas como empresário e líder associativo dos agricultores, mas também de político.
“É uma personalidade quase ignorada em Portugal, mas que deveria ser uma referência cultural, principalmente pelo legado que deixou. A Casa dos Patudos é uma das maiores colecções privadas de arte em Portugal”, concluiu.
A maior parte dos visitantes do museu são estudantes que são levados em visitas de estudo a Alpiarça, algumas dos quais oriundas das escolas caldenses.
Hoje, dia 16 de Outubro, a partir das 15h00 no CCC, António Matos Ferreira, doutorado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vai proferir uma conferência sobre “A 1ª República e as Correntes Religiosas em Portugal”
«Oesteonline»