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domingo, 24 de outubro de 2010

Uma vergonha chamada PCP

O Nobel da Paz foi entregue a um opositor democrático chinês, Liu Xiaobo. Na resposta, o PCP gritou de indignação. Eis a verdadeira face do PCP: uma força anti-democrática, que envergonha Portugal
I. Em agosto, meio a brincar, escrevi: "o marxismo acabará em Cuba antes de desaparecer em Portugal" . Em setembro, rebenta a notícia: o comunismo cubano está a morrer, e as mudanças 'capitalistas' estão a caminho. Misteriosamente, este assunto não está a ser seguido em Portugal. Há uns aninhos, as nossas TVs estavam sempre a falar de Cuba (sobretudo do catarro de Fidel Castro). Mas agora não mostram nada. O PCP agradece o silêncio. Assim não tem de explicar por que razão o seu modelo político preferido está a morrer.
II. Na semana passada, depois de Liu Xiaobo ter recebido o prémio Nobel da Paz, o PCP disse o seguinte: este acto é um "golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre povos". Bravo. Um homem que luta contra a ditadura comunista não merece o respeito do PCP. Estamos a falar do mesmo PCP que passa a vida a invocar a PIDE para se sentir superior em relação aos outros partidos. Meus amigos, Liu Xiaobo tem uma "PIDE" à perna, está preso por uma "PIDE". Aliás, ao pé desta "PIDE" chinesa, a PIDE era brincadeirinha. A China ainda é um Estado totalitário. Já não mata aos milhões, como no tempo de Mao, mas a estrutura está lá. Mas, claro, o PCP não reconhece isto, porque o regime chinês é comunista, e os comunistas, como toda a gente sabe, não criam ditaduras.
III. Coisa ainda mais curiosa: é na China que existe o tal "capitalismo selvagem" de que tanto fala o PCP. O capitalismo sem regras, levado à força por um estado totalitário e sem qualquer base de estado de direito: eis a China em 2010. Curiosamente, o PCP defende o regime do "capitalismo selvagem".
IV. Nestas declarações sobre política internacional, o PCP torna explícito o seu desrespeito pela democracia. Mas, atenção, esse desrespeito também existe implicitamente dentro de casa. Dentro da nossa democracia, o PCP continua a pensar que a rua é mais importante do que a urna, continua a pensar que a democracia popular (a força demonstrada na rua) é mais importante do que democracia institucional (o peso real no parlamento). E isto criou um vício tremendo no nosso sistema político: Portugal dever ser o único país da UE onde é impossível a existência de um acordo de governação à esquerda. O PCP (e o BE) excluem-se do processo político, excluem-se do arco de governação, um facto que impede uma coligação de governo (PS/PCP, PS/BE) - a coisa mais normal em democracia. Por que razão isto acontece? Porque os nossos comunistas acham que o modelo de Cuba é que é bom. Um tema para outras conversas.
Por: Henrique Raposo (www.expresso.pt)