Caça sustentávelA actividade cinegética em Portugal, em particular a caça às aves aquáticas e às espécies migradoras, não é regulada, nem praticada de forma sustentável. A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) enviou uma Carta Aberta ao Ministro da Agricultura pedindo avanços no sentido da Caça Sustentável.
A SPEA entende que a caça é um recurso natural, que gerido de uma forma sustentável pode trazer benefícios económicos e sociais. A gestão da caça é também relevante para a protecção das aves e da biodiversidade. Neste sentido, e aproveitando a abertura da caça geral no fim-de-semana passado, enviou uma Carta Aberta ao Ministro da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas.
A SPEA alertou o Ministro da Agricultura para o facto de Portugal estar passar à margem da iniciativa Europeia em prol da Caça Sustentável. Somos um dos poucos países da Europa Ocidental que ainda usa munições com chumbo em zonas húmidas, contribuindo para o envenenamento de milhares de patos e outras aves. Em Portugal é permitido caçar patos em Agosto e Setembro, quando as populações migradoras ainda não chegaram e as populações locais (algumas ameaçadas, como o Pato-colhereiro e o Zarro) ainda estão a criar. Caçamos espécies migradoras que estão diminuir drasticamente há décadas. O caso mais grave é o da Rola-comum, uma espécie que em toda a Europa diminuiu 66% nos últimos 20 anos e em Portugal diminuiu 43% nos últimos 5 anos. Por cada 100 rolas que podiam ser caçadas na Europa em 1990, actualmente são apenas 34. A tutela da caça insiste, ano após ano, em tomar decisões sobre gestão da caça sem considerar o estado das populações em Portugal e na Europa e sem tornar pública qualquer estatística de abate minimamente credível.
SPEA pede ao Ministro da Agricultura e ao seu gabinete que iniciem uma mudança no sentido do rigor e da responsabilidade na gestão da caça. A SPEA considera urgente:
• Banir o uso munições com chumbo em todas as zonas húmidas, para erradicar os problemas do saturnismo;
• Suspender da caça às espécies migradoras fortemente ameaçadas na Europa, em particular à Rola-comum e ao Estorninho-malhado;
• Fixar a abertura da caça às aves aquáticas em Outubro, para minimizar o abate de patos pertencentes às populações reprodutoras ameaças e o abate de patos-reais em situação de muda da plumagem;
• Criar e implementar um sistema credível de estatísticas da caça e utilizar também a informação da monitorização científica das populações de aves produzida por universidades e organizações portuguesas e europeias para fundamentar as decisões anuais em sede de Calendário Venatório.
A SPEA acredita que só estando na linha da frente da defesa das espécies cinegéticas e da gestão responsável deste recurso poderemos garantir que no futuro possamos continuar a caçar.
«Lusa»
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