O economista Medina Carreira não está pelos ajustes com o actual Governo. Em entrevista ao «Diário de Notícias», diz que o primeiro-ministro «já não tem crédito» e que o executivo «merecia uma sapatada».
«Há uns dois anos que não acredito naquilo que o Ministério das Finanças», por isso, acha que faz todo o sentido uma agência independente para controlar as contas públicas, como sugere o Banco de Portugal. «O Ministério das Finanças não merece crédito! Aquilo já é considerado uma barraca de farturas».
Acredita que o Governo foi «coagido» a tomar as mais recentes medidas de austeridade. «Nós temos, no chamado Estado social, qualquer coisa como seis milhões de portugueses. Tocar em salários, pensões, subsídios de doença ou de desemprego é uma tragédia, porque são seis milhões de portugueses que se põem de pé. Este último pacote... Não sei de quem foi exigência, se da senhora Merkel ou não, mas o Governo terá agido também sob uma pressão muito forte, senão não teria ido aos salários».
«O Governo não tem estratégia nenhuma na cabeça»
Não tem dúvidas de que «não há estratégia nenhuma! O primeiro-ministro não tem estratégia nenhuma na cabeça senão andar a fazer espectáculo e ir conciliando as circunstâncias para ver se vai durando. Aliás, este primeiro-ministro foi realmente uma desgraça para o País: nem tocou nos aspectos financeiros, nem tocou nos aspectos económicos».
Ainda assim, admite, não há outro remédio senão deixar passar o Orçamento do Estado (OE) para 2011, para acalmar os mercados. Passos Coelho deve abster-se explicando as razões ao País.
Pacotes de austeridade: ainda vêm aí mais
O ex-ministro das Finanças de Mário Soares ganhou notoriedade pública mais recentemente, fazendo a denúncia do crescente endividamento do País. Durante muito tempo foi apontado como um «catastrofista», mas o tempo deu-lhe razão.
Medina Carreira acredita que virão aí ainda mais pacotes de austeridade. «Quando chegarmos a 2013, saem as Scut e começam a entrar as parcerias público-privadas no Orçamento. Mil milhões, mil e seiscentos milhões, mil e quinhentos milhões todos os anos! Depois de termos isto arrumado, aparece a desarrumação. Nessa altura, é quase com certeza necessário outras medidas».
Cortar nas piscinas e redondéis a direito
Uma das áreas em que o economista diz ser preciso corar o quanto antes é na despesa das autarquias. «Por exemplo, o mapa autárquico de mil oitocentos e tal não presta. Temos 30% de municípios com menos de dez mil habitantes... O que pagam de impostos não dá para o presidente da câmara, o chauffeur e a secretária! Tem de se reorganizar o mapa autárquico. 4.500 freguesias é um disparate! E, no mapa autárquico, sabe porque não se mexe? Porque há presidentes de câmara que têm de ir tratar da vida para outro sítio. Não se faz nada que mexa em interesses!», diz.
Nas empresas municipais, a palavra de ordem é «suprimir a eito». «A gente viveu sem elas até há cinco anos! O que houve foi um esperto que descobriu que aquilo era maneira de fugir com o dinheiro às contas. Endividam-se pelas empresas municipais, e não se endividam pelas câmaras. Se estivesse nas finanças, no dia em que aparecesse a primeira, não deixava andar nem mais uma! Acabar com piscinas, redondéis, coisas onde se gasta dinheiro. Dizem: "Mas isso fez parte do meu programa." "Ai fez? E ganhou? Vá pedir aos seus votantes que lhe dêem dinheiro para fazer isso!" Porque eles querem cumprir os programas assumindo dinheiros que não têm».
Medina Carreira não quer falar em corte de apoios sociais, mas «há coisas que deve ser o ministro das Finanças a autorizar. Os carros devem ser modelo médio para ministros, e têm de durar cinco ou seis anos. Quando fui ministro, tinha um carro recuperado da sucata da alfândega de Lisboa».
Dado o interesse das declarações do economista Medina Carreira, transcrevemos as mesmas na integra.
Fonte: “Agência Financeira”
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