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domingo, 21 de julho de 2013

Um líder fraco

"Como vê a agressividade crescente do PS em relação ao Governo e o distanciamento em relação ao cumprimento do Memorando?" - perguntou-me há já largos meses, em conversa informal, Pedro Passos Coelho.
Respondi-lhe: "Não me surpreende nada. E, quanto mais acossado se sentir António José Seguro no PS, mais se vai querer afastar de si e do acordo com a troika. O consenso com o Partido Socialista é uma ilusão".
Os meses seguintes dar-me-iam razão.
Agora, ao romper as negociações com o PSD e o CDS por pressão de Mário Soares, Manuel Alegre, João Galamba e companhia, Seguro mostrou que um líder fraco não tem margem de manobra para negociar com quem quer que seja.
Deve dizer-se que a forma como Seguro anunciou a ruptura das negociações foi a mais desastrada possível.
Depois de Cavaco Silva ter ‘exigido’ um diálogo interpartidário, os partidos iniciavam um jogo de cabra-cega: o primeiro a romper seria penalizado.
Ora, Seguro cometeu esse primeiro erro.
O segundo erro foi o modo como anunciou a ruptura.
É evidente que uma negociação implica sempre cedências de parte a parte.
Ora, a declaração de Seguro assemelhou-se a um tempo de antena.
Em vez de explicar: "nós cedemos aqui, cedemos ali, apresentámos alternativas de cortes da despesa, mas o Governo recusou tudo", o líder o PS limitou-se a repetir o que diz diariamente nos sítios por onde passa.
Afirmou: "rejeitámos os despedimentos no Estado, rejeitámos os cortes nas pensões, propusemos o aumento do salário mínimo", etc.
Então, que raio de negociação fez o PS?
E onde iria Seguro arranjar dinheiro para tudo isso?
"Renegociando o Memorando", como ele afirmou?
Mas Seguro não tinha alguma certeza de que a troika aceitasse a renegociação?
E, mesmo que aceitasse, que custos isso comportaria em termos da credibilidade de Portugal, em termos do aumento dos juros, de perdas das empresas e dos bancos, etc.?
Não é sério negociar assim – e Seguro sabe-o muito bem.
Então por que o fez?
Fê-lo por medo de Soares, Alegre e companhia.
Fê-lo para Soares e companhia verem que ele é ‘um homenzinho’, não tem medo de ninguém e não cede ‘à direita’.
O que não deixa de ser irónico, pois Soares, na vida política activa, até negociava com o diabo.
Recordem-se os seus encontros secretos com Carlucci num terraço onde havia a certeza de não serem escutados...
O problema é que Seguro, cedendo a Soares, Alegre e companhia, estraga a vida a si próprio.
Escrevi há 8 dias que, se Passos Coelho tivesse viabilizado o PEC IV, ainda teria melhores resultados eleitorais.
Se tivesse deixado José Sócrates ir até ao fim, o PSD teria aumentado a distância relativamente ao PS.
Mesmo assim, ao viabilizar o Orçamento de Sócrates para 2011, ao não votar a favor de uma moção de censura do BE que faria cair o Governo socialista, e ao apoiar o PEC II e o PEC III, o PSD credibilizou-se aos olhos dos portugueses.
Ganhou uma dimensão de Estado.
As pessoas pensaram: ora aqui está um partido que pensa no país, que não quer ir para o poder a todo o custo, que até colabora com o Governo na correcção das contas públicas.
Ora esta recusa do PS em viabilizar um acordo com o PSD e o CDS para os próximos cinco anos tem o efeito exactamente contrário.
Mostra um partido só preocupado consigo próprio e com a ambição do poder.
A recusa de Seguro em aceitar cortes na despesa do Estado (que este Executivo, note-se, é que iria fazer, com a consequente impopularidade) é tanto mais estranha quanto é certo que o Memorando que o Governo socialista assinou com a troika previa a redução do défice através de um aumento de 1/3 da receita e de um corte de 2/3 na despesa pública.
Como pode o PS vir agora dizer que não admite cortes na despesa?
E depois há uma coisa incompreensível: se se desse agora a queda do Governo, a situação financeira sofreria um tremendo agravamento.
Ora, sendo plausível que o PS ganhasse as próximas eleições, em que condições iria governar?
Depois de ter recusado a austeridade deste Governo, como poderia adoptar medidas de austeridade ainda mais gravosas em virtude do agravamento da situação financeira?
Que Mário Soares fale de eleições, ainda vá que não vá: ele já não tem de governar, não tem de resolver problemas, pode dizer o que lhe vem à cabeça sem ter de pesar muito as consequências do que diz.
Mas que Seguro o faça…
Finalmente, a atitude do PS em romper as negociações representou uma afronta ao Presidente da República.
Seguro tinha de um lado Cavaco a pedir o diálogo e do outro Soares e Alegre, quais ‘marretas’, a dizerem-lhe para recusar.
O líder do PS começou por fazer a vontade ao PR – mas no momento seguinte cedeu aos ‘marretas’.
Cedeu a políticos que trazem na cabeça os péssimos hábitos da I República: Soares é um típico tribuno republicano, Alegre também, e Galamba parece saído da Carbonária.
Acontece que, ao fazer abortar a proposta do PR, Seguro impediu Cavaco de demitir o Governo.
Como poderia o Presidente ceder ao tacticismo de um partido que rompeu as negociações pedidas por ele próprio com o objectivo de provocar eleições?
Seria premiar o infractor.
E abriria, além disso, um capítulo sem solução à vista.
Não seria só a incerteza dos resultados eleitorais -- que poderiam deixar o país numa situação ingovernável.
Seria muito mais do que isso.
Pelo conjunto de propostas que Seguro apresentou na sexta-feira, Cavaco terá percebido que um Governo do PS, com Soares e Alegre a pressionarem o líder, conduziria o país a uma tragédia.
Assim, não faz qualquer sentido convocar eleições para entregar o poder a este partido.
Depois do erro que representou a proposta de um acordo impossível entre PSD, PS e CDS, o Presidente da República não iria cometer um segundo erro que tornaria Portugal igual à Grécia
«sol/

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