Por: Antonieta Dias (*) |
Do ponto de vista das competências médicas, por assim dizer,
profissional, a actividade clínica também requer a capacidade de ensinar e de
informar.
Além disso, impõe-se como condição a necessidade de se tratar
uma pessoa dependente integrada num ambiente que lhe permita fazer uma
integração social, verdadeiramente personalizada e adaptada às características
biopsicossociais a que estava habituada.
É evidente que a primeira observação a fazer é que se trata
de uma pessoa, em que o elenco ocasional e imprevisto, procura simplesmente
traçar um percurso de tratamento seguro, prudente, eficiente, estável, e
tecnicamente correto.
Todavia, esta reflexão sensata sobre a rede de cuidados
continuados integrados, não nos pode fazer esquecer que a pessoa humana é uma
profunda unidade.
Porém, os critérios inerentes à decisão de incluir um doente
na rede não podem colocar em risco a vida, nem bloquear ou estabelecer regras,
que possam diminuir a capacidade de estabelecer uma necessidade emergente e
muito menos defraldar as expectativas das curas possíveis e facilmente
controláveis.
Se é certo que uma experiência mal sucedida, desencadeia um
perigo que pode ser vital, o controlo e domínio de uma situação de sofrimento
ou de angústia gera um profundo conforto de confiança e de sucesso na decisão
clínica.
Para colmatar a necessidade de resposta atempada às situações
de dependência decorrentes de doenças imprevistas, que ocupavam demasiado tempo
de internamento hospitalar, criou-se um modelo de prestação de cuidados
destinado a resolver e apoiar o Serviço Nacional de Saúde, que desenvolve de
forma exemplar e inovadora um programa em Portugal designado por Rede Nacional
de Cuidados Continuados Integrados.
Consta do Guia prático – Rede Nacional de Cuidados
Continuados Integrados o seguinte:
“A Rede Nacional de
Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), é constituída por um conjunto de
instituições, públicas ou privadas, que prestam (ou virão a prestar) cuidados
continuados de saúde e de apoio social a pessoas em situação de dependência,
tanto na sua casa como em instalações próprias.
A RNCCI inclui
Unidades de internamento, que podem ser de:
-Cuidados continuados de convalescença;
-Cuidados continuados de média duração e reabilitação;
-Cuidados continuados de longa duração e manutenção.
Nos Cuidados Continuados Integrados a pessoa em situação de
dependência, independentemente da sua idade, recebe cuidados de saúde e apoio
social. O objectivo é ajudar a pessoa a recuperar ou manter a sua autonomia e
maximizar a sua qualidade de vida.”
Motivos gerais de referenciação, que deveriam ser
considerados no caso em apreço:
-Episódios frequentes de agudização de doenças graves que
geram recursos frequentes aos serviços de urgência;
-Casos de isolamento ou ausência de familiares directos;
Doente com dependência e com necessidade de cuidados
diferenciados diários.
Esta rede tinha como objectivo ser alargada e adaptada às
necessidades reais do País a fim de dar cobertura à complexidade de casos
patológicos cujos critérios se incluíam nos destinatários desta rede.
Todavia, constatamos que cada vez mais os recursos estão
verdadeiramente desadaptados à nossa realidade e há urgência em que o Estado
invista mais neste modelo de prestação de cuidados de saúde.
Quando acontecerá isso? Como? Poderemos então acreditar que
não vai ver desinvestimento nesta iniciativa?
Estas são as questões que mais nos preocupam, uma vez que a
Rede tem sido fulcral na diminuição dos tempos de internamento hospitalar,
libertando camas que podem ser ocupadas, por doentes cuja indicação para se
manterem hospitalizados é prioritária.
Em suma, resta-nos acreditar na sensibilidade dos decisores
para que este projecto mantenha a consistência e sustentabilidade necessária à
resposta dos utentes que dela dependem.”
(*) Doutorada em medicina
Sem comentários:
Enviar um comentário