Comemorações do centenário do nascimento Álvaro Cunhal
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje a “actualidade” do pensamento de Álvaro Cunhal, que com “premonitória visão” antecipou a crise, mas afastando das comemorações do centenário do nascimento do histórico comunista “qualquer culto da personalidade”.
Na sessão de abertura das comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, em Lisboa, Jerónimo de Sousa referiu-se à actual crise nacional, que, disse, o antigo líder comunista “previa e com uma premonitória visão anunciava, em consequência da ofensiva da política de direita que se vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas”.
Jerónimo de Sousa insistiu na necessidade da “demissão do Governo e a devolução da palavra ao povo, em eleições antecipadas”, insistindo que o país está “numa espiral de medidas de austeridade que se seguem umas atrás das outras, e que têm na operação em curso da chamada ‘reforma do Estado’, a concretização de levar ainda mais longe a política de empobrecimento”.
Recuperando uma argumentação de Álvaro Cunhal, nos anos 1980, num debate com jovens da faculdade de Direito de Lisboa, Jerónimo de Sousa afirmou que não só o futuro veio a confirmar “as previsões” de Álvaro Cunhal, como as ideias para a recuperação económica do país se mantêm atuais.
“O aumento da produção nacional, questão vital e eixo fundamental de toda a política de desenvolvimento, o saneamento financeiro, que hoje, por maioria de razão, implica a renegociação da dívida, e o melhoramento das condições de vida do povo, onde se inclui o aumento do seu poder de compra”, expôs Jerónimo de Sousa.
A comparação do Fundo Monetário Internacional (FMI) a um buldogue, que apanha “um pouco de pele e não larga mais”, em luta com um cão-lobo, a que Jerónimo de Sousa se referiu na sexta-feira e hoje desenvolveu, é também de Álvaro Cunhal, a partir de uma ideia do escritor Jack London.
“É assim o FMI, dizia Álvaro Cunhal, e hoje dizemos, é assim que age a ‘troika’ do FMI e da União Europeia e que tem como ajudante de campo um Governo submisso a quem falta a dignidade do cão-lobo”, afirmou.
O que da evolução nacional ressalva também é “a confirmação como verdadeira da tese que afirmava que são inseparáveis e complementares as quatro vertentes principais da democracia: a económica, a social, a política e a cultural”, sendo que atacar uma é atacar as outras, defendeu Jerónimo de Sousa.
Na abertura das comemorações do centenário do nascimento de Cunhal, Jerónimo insistiu que as celebrações “não visam promover qualquer culto da personalidade”, que o histórico líder “sempre combateu”.
“Uma homenagem, portanto, não para incensar e endeusar - utilizando as suas próprias palavras -, mas de reconhecimento do seu valor e para aprender com os seus ensinamentos, o seu exemplo e que neste momento de mistificação e de generalizações grosseiras, pode e deve servir também para demonstrar que a política é uma atividade nobre e imprescindível na vida dos homens”, declarou.
A sessão do início das comemorações contou com interpretações musicais de Fausto Neves, da banda filarmónica da Academia Almadense, do coro do sindicato dos mineiros de Aljustrel, das militantes da JCP Vanessa Borges e Sofia Lisboa, do Coro Lopes Graça e de Luísa Basto, assim como de André Levy, que disse um poema de Ary dos Santos.
«Público/Lusa»
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