1. Coimbra e
a paixão pelo Ciclismo
Numa altura em que a Volta a Portugal em Bicicleta percorre o
país, convém recordar que, naqueles anos 50, Coimbra era uma cidade apaixonada
pelo ciclismo. Era uma paixão antiga! Vinha do tempo em que o União e o Sport
tinham boas equipes de ciclistas. Em que “A Volta à Conraria” era um dos
clássicos do ciclismo nacional.
Quando chegava o Verão começavam os
circuitos, por todo o lado. A Barbearia do Adónis, ali na Rua da Sota,
organizava excursões para ir ver os circuitos que se realizavam na região. Por
20 escudos, havia transporte para um domingo bem passado; O Circuito da Curia,
a Volta dos Campeões na Figueira, ou as 3 Voltas à Mamarrosa!
Desde miúdo, ainda de calções, entrei,
decidido, nesses meandros! E tornei-me um excursionista convicto!
O autocarro partia manhã cedo, junto da
Estação Nova, cheio de ruidosos e apaixonados entusiastas pelas duas rodas. Eu
partia com eles, com o coração a transbordar de alegria! Cada um com o seu
farnel, que mais tarde era dividido, democraticamente, por todos; bolos de
bacalhau, pão com marmelada, bananas e laranjadas do Buçaco.
2. Era o tempo do Alves Barbosa
Era um dia de grandes emoções, em contacto com “os gigantes da
estrada”, em carne e osso. Corridas a grande velocidade onde não faltavam os
incitamentos dignos de um conto de Torga; Vai Rola (Maximiano)! Aperta Corvo
(Jorge)! Aguenta Pisco (António)!
A emoção subia ao rubro quando aparecia o
nosso ídolo, o nosso campeão; Alves Barbosa. E a malta, quando ele, em esforço,
se adiantava ao numeroso pelotão, gritava bem alto; Força Barbosa!! Era um
grito que saia dentro da alma e ecoava, imponente, por todo o Circuito! À noite
regressávamos a casa, cansados, mas com a barriga cheia de ciclistas!
3. Quando chegava a Volta
Quando chegava o mês de Agosto, chegava o ponto alto “A Volta a
Portugal”. Eram 15 dias de grandes emoções!
Nesse tempo, a Volta era corrida por
equipas. Era pão, pão, queijo, queijo; Porto, Sporting e Benfica, Sangalhos,
Académico do Porto, Águias de Alpiarça, Louletano e Ginásio de Tavira.
A maior parte dos corredores não tinha a
profissão de “ciclistas”. Até parecia mal! Era o mesmo que dizer que não faziam
nada! Eram sim, “honestos” pedreiros, carpinteiros, moços de fretes, empregados
de balcão, marinheiros….. Muitos deles mal sabiam andar de bicicleta!
Iam correr a Volta com quem faz um
“biscate”, para ganhar uns tostões, para fazer figura lá na terra, para mandar
uma beijoca à namorada, pela Rádio!
Nem sabiam para onde iam! Enquanto lá
andassem, pelo menos comiam bem! Só custava os primeiros dias. Pedalar sempre
em frente. Uns atrás dos outros. Depois logo se via, nem se sentia o corpo!
4. Coimbra, com “A Volta”, de repente
era uma festa!
A Volta passava sempre por Coimbra, mas muitas vezes era final
da etapa. Era logo nomeada uma Comissão Organizadora que tratava de tudo; o
percurso na cidade, o alojamento dos ciclistas, o Jantar de Gala no Nicola, as
Taças, o Festival no Parque.
Quando chegava o dia aprazado, a cidade
acordava alvoraçada! A população vinha, em peso, para a rua. Com bandeiras,
cadeiras e garrafas de agua, para viver, eufórica, tão invulgar acontecimento!
Coimbra, com “A Volta”, de repente, era uma Festa!
Fonte: http://www.asbeiras.pt
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