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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Coimbra e o ciclismo. Uma paixão antiga

1. Coimbra e a paixão pelo Ciclismo
Numa altura em que a Volta a Portugal em Bicicleta percorre o país, convém recordar que, naqueles anos 50, Coimbra era uma cidade apaixonada pelo ciclismo. Era uma paixão antiga! Vinha do tempo em que o União e o Sport tinham boas equipes de ciclistas. Em que “A Volta à Conraria” era um dos clássicos do ciclismo nacional.
Quando chegava o Verão começavam os circuitos, por todo o lado. A Barbearia do Adónis, ali na Rua da Sota, organizava excursões para ir ver os circuitos que se realizavam na região. Por 20 escudos, havia transporte para um domingo bem passado; O Circuito da Curia, a Volta dos Campeões na Figueira, ou as 3 Voltas à Mamarrosa!
Desde miúdo, ainda de calções, entrei, decidido, nesses meandros! E tornei-me um excursionista convicto!
O autocarro partia manhã cedo, junto da Estação Nova, cheio de ruidosos e apaixonados entusiastas pelas duas rodas. Eu partia com eles, com o coração a transbordar de alegria! Cada um com o seu farnel, que mais tarde era dividido, democraticamente, por todos; bolos de bacalhau, pão com marmelada, bananas e laranjadas do Buçaco.
 2. Era o tempo do Alves Barbosa
Era um dia de grandes emoções, em contacto com “os gigantes da estrada”, em carne e osso. Corridas a grande velocidade onde não faltavam os incitamentos dignos de um conto de Torga; Vai Rola (Maximiano)! Aperta Corvo (Jorge)! Aguenta Pisco (António)!
A emoção subia ao rubro quando aparecia o nosso ídolo, o nosso campeão; Alves Barbosa. E a malta, quando ele, em esforço, se adiantava ao numeroso pelotão, gritava bem alto; Força Barbosa!! Era um grito que saia dentro da alma e ecoava, imponente, por todo o Circuito! À noite regressávamos a casa, cansados, mas com a barriga cheia de ciclistas!
 3. Quando chegava a Volta
Quando chegava o mês de Agosto, chegava o ponto alto “A Volta a Portugal”. Eram 15 dias de grandes emoções!
Nesse tempo, a Volta era corrida por equipas. Era pão, pão, queijo, queijo; Porto, Sporting e Benfica, Sangalhos, Académico do Porto, Águias de Alpiarça, Louletano e Ginásio de Tavira.
A maior parte dos corredores não tinha a profissão de “ciclistas”. Até parecia mal! Era o mesmo que dizer que não faziam nada! Eram sim, “honestos” pedreiros, carpinteiros, moços de fretes, empregados de balcão, marinheiros….. Muitos deles mal sabiam andar de bicicleta!
Iam correr a Volta com quem faz um “biscate”, para ganhar uns tostões, para fazer figura lá na terra, para mandar uma beijoca à namorada, pela Rádio!
Nem sabiam para onde iam! Enquanto lá andassem, pelo menos comiam bem! Só custava os primeiros dias. Pedalar sempre em frente. Uns atrás dos outros. Depois logo se via, nem se sentia o corpo!
 4. Coimbra, com “A Volta”, de repente era uma festa!
A Volta passava sempre por Coimbra, mas muitas vezes era final da etapa. Era logo nomeada uma Comissão Organizadora que tratava de tudo; o percurso na cidade, o alojamento dos ciclistas, o Jantar de Gala no Nicola, as Taças, o Festival no Parque.

Quando chegava o dia aprazado, a cidade acordava alvoraçada! A população vinha, em peso, para a rua. Com bandeiras, cadeiras e garrafas de agua, para viver, eufórica, tão invulgar acontecimento! Coimbra, com “A Volta”, de repente, era uma Festa!

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