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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cavaco Silva. "criou-se uma cultura de "proteccionismo social do Estado"


 O Presidente deu ajuda de última hora ao governo ao defender que é preciso pensar a intervenção do Estado
Na semana em que o governo discute em Conselho de Ministros extraordinário o guião da reforma do Estado, o Presidente da República deu uma ajuda antecipada à estratégia. Ontem, Cavaco Silva criticou a "cultura do proteccionismo social" que foi um modelo seguido em Portugal que "duplicou infra-estruturas de prestação de serviços" e nem por isso "ganhou eficiência ou se pouparam recursos".
As palavras do Presidente da República sobre o Estado social não foram em vão numa altura em que a oposição critica o governo por este querer desmantelar a protecção social e no mesmo dia em que o executivo de Passos Coelho marcou um Conselho de Ministros extraordinário para discutir o guião da reforma do Estado elaborado por Paulo Portas, que tinha sido prometido para Fevereiro. Ontem, no encerramento do seminário "A economia social, o emprego e o desenvolvimento local", organizada pela Cáritas, o Presidente da República, falando do terceiro sector - que inclui sobretudo as Misericórdias e outras Instituições Particulares de Solidariedade Social - o chefe e Estado disse que o modelo social português foi construído de maneira "centralizadora de intervenção directa da administração do Estado, muitas vezes marginalizando a acção das organizações de base territorial". Mais do que isso, para Cavaco esse modelo seguido na segunda metade do século XX "duplicou a infra-estrutura de prestação de serviços, sendo que nem por isso se ganhou eficiência ou se pouparam recursos. Mais grave ainda, criou-se uma cultura de proteccionismo social protagonizado pelo Estado, desresponsabilizando de algum modo os cidadãos e menosprezando os valores da cultura cívica, da participação, do voluntariado e do espírito de solidariedade".
O Presidente foi directo ao defender que há serviços que devem ser prestados por outros e não pelo Estado para lhes "conferir uma dimensão mais humanizada à alternativa burocrática que o Estado oferece". E se há medidas de carácter mais imediato para fazer face à "emergência social", que se destinam sobretudo "a resolver situações urgentes", o Presidente quer que as "medidas estruturais" que têm como objectivo "as mudanças no estatuto social das populações mais vulneráveis" sejam focadas na "recuperação do atraso na educação e a criação de um sistema de oportunidades que permita o retorno do investimento feito pelas famílias e pela Estado na qualificação das novas gerações".
Mas estas palavras de Cavaco não defendem uma desestatização dos serviços sociais de todo, numa visão mais liberal. Para o Presidente não se trata de optar por um dos dois modelos - "o do Estado de bem-estar e o da economia social", mas por conseguir conciliar o melhor dos dois modelos apoiando o terceiro sector. Cavaco, apesar do apoio implícito ao objectivo do governo de reformar o Estado, quis no entanto falar do desemprego, essa "realidade dramática" que "não podemos silenciar". E terminou dizendo que as crises económicas "são propícias" à "expressão do desalento e da descrença". Mas são também ocasiões propícias para, de forma convicta e determinada, reencontrarmos os caminhos da esperança colectiva e da dignidade humana".
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