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domingo, 13 de janeiro de 2013

O valor da vida

Por: Antonieta Dias (*)

Apesar de estarmos a viver uma fase de mudança social que implica uma séria reestruturação de Serviços e das Instituições, a vida humana tem de continuar a ser respeitada.
A defesa da vida, passa pela necessidade de manter os apoios preconizados que foram criados com objectivos bem definidos, no que se refere ao princípio básico de manter a sustentabilidade da dignidade humana.
Estas regras elementares de que depende a valorização da vida, não podem de forma alguma ser destruídas por razões economicistas e exclusivamente baseadas em fórmulas matemáticas, onde as pessoas são substituídas por números.
Somos confrontados com um maior número de casos de pessoas que necessitam de apoio de terceira pessoa, devido ao seu elevado grau de dependência e a um crescimento populacional de idosos que residem sozinhos ou têm como cuidador um outro idoso, que também necessita de ajuda.
Esta situação já de si constrangedora tem sido agravada pela falta de resposta e de investimento social adequado à realidade que estamos a viver, sendo desajustada para responder às inúmeras solicitações que surgem diariamente.
Este facto tem sido gerado pelas restrições e pela precaridade económica que vivenciamos atualmente.
Se é certo, que esta realidade é inevitável, devemos pelo menos investir num projecto que consiga responder à satisfação das necessidades básicas e seja o suporte social para colmatar este grave problema, que nos assusta por desencadear ainda mais a vulnerabilidade e abalar a resistência à sobrevivência humana.
Algumas medidas devem ser consideradas como uma prioridade, para a manutenção de uma qualidade de vida com padrões adaptados e rigorosos, que não prejudiquem sobretudo quem já se encontra carenciado e sem autonomia para resistir a tantas agressões (físicas, psicológicas e sociais).
O facto de a família ser um suporte insubstituível de coesão e apoio inquestionável temos de preservar a vida das pessoas que não têm família ou foram simplesmente abandonados ou excluídos dela.
Esta vivência da perda é uma realidade cada vez maior na população portuguesa, e o estado social não pode matar a esperança destas pessoas, nem omitir ou simplesmente ignorar este drama social.
Por outro lado, não se pode pretender que estas novas exigências estejam explicitamente tratadas, por medidas legislativas, muitas vezes insuficientes, pouco reconhecidas e incompreendidas pela população em geral.
A dimensão moral da liberdade e da racionalidade levam-nos a reconhecer que teorias filosóficas não sustentam a autonomia nem a riqueza humana.
Tudo aponta, para a necessidade de fazer uma análise detalhada da realidade em que vivemos e que a mensagem daí resultante seja autêntica, que ultrapasse a mera promessa de uma boa intenção.
Mais grave será ainda, se as medidas adoptadas não preservarem a vida e a considerem como um castigo ou um pecado.
Todos sabemos que os fins não justificam os meios e mesmo que as medidas sejam boas é preciso traçar o caminho com um conteúdo de intenções onde a verdade, tem que substituir a mentira, onde a solidariedade humana exclua o egoísmo, em que o rumo a seguir passará pela obrigatoriedade de entender o valor do ser humano e humanizar a medicina.
A problemática moral do racionamento da medicina, não pode servir de árbitro e condicionar as fontes da vida humana e muito menos servirem como administradores dos desígnios estabelecidos por critérios políticos, onde o homem fica privado do domínio do seu próprio corpo.
Assim, à luz de uma cultura generosamente orientada para servir a vida, não podem existir impossibilidades ou limitações que coloquem em causa a confiança e a esperança de manutenção da vida.
Ninguém pode ser indiferente ou insensível perante alguém que está indefeso, diminuído físico ou psicologicamente, ou porque é deficiente ou idoso fica privado dos valores comuns da dignidade humana e dos direitos do próprio homem.
Viver em democracia é reconhecer o poder público como um bem comum titular do reconhecimento e da tutela jurídica dos direitos humanos.
Por outro lado, a manutenção de carros de luxo, de ostentação de riqueza, numa sociedade onde as necessidades básicas dos cidadãos estão em risco, transforma-se numa violação dos direitos democráticos.
Será esta uma visão pessimista da nossa realidade social? Ou será que a nossa existência tem obrigatoriamente de ser regida pela violência fatal e inevitável de uma sociedade e de uma história da humanidade condenada a uma insociabilidade e a uma cultura de vida não expectável, onde o nocivo impera sobre a opção da ética e sobre o verdadeiro crescimento natural do ser humano?
Será que estamos mesmo no fim de um ciclo democrático e de uma inversão dos valores, onde a corrupção e a mentira escravizam a liberdade e precisamos de um profeta, que transforme e ignore o materialismo vigente e passe a dar sentido à vida?
Será que a Europa vai continuar a ser uma sociedade multicultural, onde cada País vai ter direito à sua identidade cultural e religiosa?
Ou será que estamos a viver um momento sociopolítico de fraqueza, tendencialmente passeiro e efémere cuja durabilidade é curta e rapidamente surgirá a justiça, a paz e o homem passará a ter novamente direito ao diálogo e à preservação da vida?
Temos de acreditar que sim, e pensar que os valores universais, que os direitos invioláveis e inalienáveis, serão o suporte da dignidade da pessoa, exigíveis da tutela de todo um sistema jurídico, económico e social fundamentais para a sobrevivência em democracia.
 (*)  doutorada em medicina

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