Por: Antonieta Dias (*) |
A qualidade na prescrição terapêutica, não é uma mera designação
terapêutica que permita uma substituição banal por agentes que não conhecem os
produtos, e muito menos por doentes que por si só, pelo desconhecimento total
do fármaco e pela sua doença se tornam incapazes de decidir livremente.
A prescrição terapêutica é
um acto médico, que exige um conhecimento farmacológico exaustivo, para ser
considerada uma prescrição científica e racional.
Ao prescrever um
medicamento, temos de ter a certeza que corresponde à alternativa
farmacoterapêutica mais segura, de menor custo, que vai ser eficaz e que vai
ser utilizado na dose e pelo período de tempo adequado ao tratamento do quadro
clínico do doente a que se destina.
A prescrição médica resulta
de uma reflexão do raciocínio clínico baseado nos dados, recolhidos através da
história clínica, do exame físico detalhado (que obrigatoriamente deve ser
realizado ao doente), suplementado pelos exames complementares de diagnóstico,
e baseado no conhecimento científico do clínico, optimizado para a obtenção do
resultado terapêutico esperado.
A qualidade na prescrição
terapêutica tem indicações específicas, que são determinadas, pelas
características farmacocinéticas e farmacodinâmicas do doente e da faixa etária
em que se encontra.
Prescrever um fármaco a uma
criança, não é a mesma coisa que prescrever um fármaco a um adulto ou a um
idoso.
Apesar da existência da
avaliação do padrão da qualidade da prescrição, as crianças e os idosos são
mais vulneráveis, e exigem uma utilização terapêutica adaptada e específica na
opção do medicamento a seleccionar, sem prejuízo do conhecimento profundo e
experiência médica sobre a doença, sobre o doente e o sobre o fármaco a
utilizar, se torna num acto médico demasiado complexo e de difícil decisão.
Com base no número de
pessoas doentes, cujos indicadores nos demonstram que os doentes aumentam
diariamente, implicando um maior consumo de medicamentos, acresce ainda, que
uma faixa etária bastante significativa
da população, corresponde ao grupo de idosos, que padecem de múltiplas patologias, o que torna ainda mais
difícil a prescrição terapêutica devido às interacções medicamentosas e à
elevada prevalência de grupos de fármacos utilizados, onde se incluem:
antidiabéticos, antihipertensores, analgésicos, psicotrópicos e
anti-inflamatórios, que podem interagir entre si.
Os estudos efectuados
levam-nos a concluir que os idosos, representam cerca de 50% dos utilizadores
dos fármacos, portadores de patologias múltiplas, cuja grupos terapêuticos
exigem um rigor acrescentado tendo em conta a pequena margem de segurança disponível.
Nas investigações
realizadas, constata-se que é muito comum encontrar situações onde as
prescrições, as dosagens, não são as adequadas, para aquele doente, conduzindo
a riscos acrescidos, já por si sujeito a
eventuais e graves interacções medicamentosas.
Para avaliar a qualidade do
uso da prescrição terapêutica, na
população em geral, precisamos de usar indicadores fiáveis, que sejam capazes
de identificar, quantificar e analisar os medicamentos, as doses, as combinações
e as interacções possíveis, bem como as influências negativas na utilização dos
fármacos.
É absolutamente necessário
conhecer bem os princípios activos, as respectivas concentrações, as formas
farmacêuticas, o modo de utilização e a indicação terapêutica, para se
prescrever adequadamente.
Prescrever um fármaco é um
acto médico complexo, que exige o conhecimento detalhado da farmacocinética,
destinada a caracterizar os medicamentos, o seu modo de utilização e a sua
aplicabilidade no doente a que se destinam.
É a partir de análises qualitativas
que conseguimos obter e identificar as combinações em dose fixa, onde o valor
intrínseco do medicamento se torna aceitável ou não para poder ser utilizado
com fins terapêuticos.
Se investigarmos
exaustivamente os fármacos iremos encontrar princípios activos que são uma
incógnita, e que existem em todos os grupos das classes terapêuticas mais
utilizadas, onde se incluem: os complexos vitamínicos, os analgésicos, os
antiflatulentes, os antiulcerosos, os psicolépticos, os diuréticos, os agentes
cardiovasculares, os bloqueadores Beta, os suplementos minerais, os relaxantes
musculares, os laxantes, os inibidores da enzima de conversão da angiotensina
(IECA), os bloqueadores dos canais de cálcio, os antidepressivos,
anti-histamínicos, os simpaticomiméticos, os hipoglicemiantes, os
hipolipemiantes, os relaxantes musculares, sendo uma exigência e um dever, a
sua substituição por fármacos seguros e eficazes, com efeitos adversos
reduzidos.
Apesar do grande esforço na
averiguação dos produtos e das receitas utilizadas, as informações quanto ao
uso dos fármacos podem estar incompletas, cabendo ao médico a obrigatoriedade
de prestar os esclarecimentos pormenorizados e entendíveis, para o doente a que
se destina.
Num dos estudos efectuados
sobre a análise da qualidade dos medicamentos utilizados conseguimos apurar que
55.9% eram monodrogas e 44,1%, associações em doses fixas.
Porém, uma enorme fatia dos
fármacos utilizados e consumidos com regularidade, prescritos ou não por
médicos que não se conseguem classificar, preocupa-nos e alerta-nos para a
existência de um mercado de produtos desnecessários, e nalguns casos nefastos,
que são lançados e vendidos pelas indústrias farmacêuticas.
Todos os princípios activos
deveriam estar em conformidade e em concordância com as substâncias
preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), implicando uma
actualização periódica e atempada, e uma notificação permanente das reacções adversas e das interacções
medicamentosas.
A importância da prescrição
terapêutica e o conhecimento profundo dos fármacos utilizados no tratamento da
doença, são os pilares de segurança que irão minimizar os efeitos adversos, e
são os principais factores decisores da prescrição com qualidade a que respeita
a quantidade do consumo de medicamentos e onde está implícito por parte do
prescritor o conhecimento da dose, custos, via de administração, eficácia e
sucesso terapêutico.
A indústria farmacêutica tem
uma grande responsabilidade na potenciação, no lançamento e promoção de consumo
de fármacos sem eficácia estabelecida e desprovida de efeitos curativos.
Prescrever implica uma
decisão médica na selecção e opção de um medicamento existente e disponível no
mercado, de forma a assegurar que os produtos farmacêuticos que vão ser
utilizados correspondam às exigências demonstradas pela investigação científica
farmacológica, destinada à doença que se quer tratar.
E por fim é necessário
esclarecer que para se poderem utilizar medicamentos genéricos os critérios têm
de ser os mesmos, obrigando a uma política racional do uso do medicamento, a
uma vigilância da qualidade permanente, de forma a impedir o uso de
medicamentos potencialmente perigosos para os doentes.
Todos os sinais de perigo
devem ser sinalizados e um alerta a ser
incluído nas actividades da educação para a saúde, tornam-se imprescindíveis as
divulgações das informações detectadas como situações anómalas e que podem
colocar em risco a vida dos doentes.
Em suma, ser um prescritor
de medicamentos, exige um conhecimento profundo de fontes de informação de
eficácia terapêutica permanentemente disponíveis para os médicos, de forma a
evitar a influência negativa dos mecanismos e estratégias de mercadização,
baseadas em folhetos, panfletos, anúncios em revistas médicas propagandistas,
amostras grátis, brindes etc...
Prescrever com qualidade é
ter suporte de material científico que demonstre o conhecimento claro de todas
as contra-indicações, reacções adversas, interacções, complementado pela
informação disponível e divulgada pelos próprios fabricantes que procederam à
sua investigação.
O médico que prescreve com qualidade não se
pode deixar influenciar pela publicidade da indústria farmacêutica, deve sim
basear a sua prescrição na documentação existente nas revistas médicas de
carácter científico, nas informações das autoridades de saúde, nas normas
orientadoras e em todas as recomendações emanadas pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), respeitando as guidelines,
sendo estas as únicas fontes credíveis que fundamentam a sua prescrição.
Para se ser um bom
prescritor, é necessário ter disponibilidade para recolher a informação
científica, respeitar a pluridisciplinaridade e responsabilidade das
instituições, desprovido de toda e qualquer influência promotora da indústria
farmacêutica.
Todo o prescritor terá que
respeitar os critérios exigidos para uma prescrição de sucesso terapêutico
tendo por base o conhecimento do nome genérico, efeito farmacológico,
indicações e contra-indicações, mecanismo de acção posologia, reacções
adversas, indicações e contra-indicações, apresentação, fabricante e
importador.
Por todas estas razões que
agora aqui se transcrevem podemos concluir que a complexidade na prescrição
terapêutica é um acto da exclusiva competência médica, e que não pode ser
considerado como um mero produto farmacêutico, comparável aos produtos de venda
livre existentes nas farmácias.
A vida do doente e a cura da
sua doença implica uma prescrição médica de qualidade e responsável, sendo um
acto médico insubstituível.”
(*)doutorada em medicina
1 comentário:
tenho que dar os parabéns a esta médica, pelos seus belíssimos escritos: Com critica, conselhos.
Faz um bom trabalho.Pena que não aparecem outros profissionais das diversas áreas, escrevendo e enriquecendo este espaço. Estamos fartos de comentários e postagens de politica, e outros ocos de conteúdo
Muito obrigado
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