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domingo, 1 de julho de 2012

Saúde, uma prioridade em Portugal


Por: Antonieta Dias (*)
 A qualidade na prescrição terapêutica, não é uma mera designação terapêutica que permita uma substituição banal por agentes que não conhecem os produtos, e muito menos por doentes que por si só, pelo desconhecimento total do fármaco e pela sua doença se tornam incapazes de decidir livremente.

A prescrição terapêutica é um acto médico, que exige um conhecimento farmacológico exaustivo, para ser considerada uma prescrição científica e racional.
Ao prescrever um medicamento, temos de ter a certeza que corresponde à alternativa farmacoterapêutica mais segura, de menor custo, que vai ser eficaz e que vai ser utilizado na dose e pelo período de tempo adequado ao tratamento do quadro clínico do doente a que se destina.
A prescrição médica resulta de uma reflexão do raciocínio clínico baseado nos dados, recolhidos através da história clínica, do exame físico detalhado (que obrigatoriamente deve ser realizado ao doente), suplementado pelos exames complementares de diagnóstico, e baseado no conhecimento científico do clínico, optimizado para a obtenção do resultado terapêutico esperado.
A qualidade na prescrição terapêutica tem indicações específicas, que são determinadas, pelas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas do doente e da faixa etária em que se encontra.
Prescrever um fármaco a uma criança, não é a mesma coisa que prescrever um fármaco a um adulto ou a um idoso.
Apesar da existência da avaliação do padrão da qualidade da prescrição, as crianças e os idosos são mais vulneráveis, e exigem uma utilização terapêutica adaptada e específica na opção do medicamento a seleccionar, sem prejuízo do conhecimento profundo e experiência médica sobre a doença, sobre o doente e o sobre o fármaco a utilizar, se torna num acto médico demasiado complexo e de difícil decisão.
Com base no número de pessoas doentes, cujos indicadores nos demonstram que os doentes aumentam diariamente, implicando um maior consumo de medicamentos, acresce ainda, que uma faixa etária bastante  significativa da população, corresponde ao grupo de idosos, que padecem de  múltiplas patologias, o que torna ainda mais difícil a prescrição terapêutica devido às interacções medicamentosas e à elevada prevalência de grupos de fármacos utilizados, onde se incluem: antidiabéticos, antihipertensores, analgésicos, psicotrópicos e anti-inflamatórios, que podem interagir entre si.
Os estudos efectuados levam-nos a concluir que os idosos, representam cerca de 50% dos utilizadores dos fármacos, portadores de patologias múltiplas, cuja grupos terapêuticos exigem um rigor acrescentado tendo em conta a pequena margem de segurança disponível.
Nas investigações realizadas, constata-se que é muito comum encontrar situações onde as prescrições, as dosagens, não são as adequadas, para aquele doente, conduzindo a riscos acrescidos,  já por si sujeito a eventuais e graves interacções medicamentosas.
Para avaliar a qualidade do uso da prescrição terapêutica,  na população em geral, precisamos de usar indicadores fiáveis, que sejam capazes de identificar, quantificar e analisar os medicamentos, as doses, as combinações e as interacções possíveis, bem como as influências negativas na utilização dos fármacos.
É absolutamente necessário conhecer bem os princípios activos, as respectivas concentrações, as formas farmacêuticas, o modo de utilização e a indicação terapêutica, para se prescrever adequadamente.
Prescrever um fármaco é um acto médico complexo, que exige o conhecimento detalhado da farmacocinética, destinada a caracterizar os medicamentos, o seu modo de utilização e a sua aplicabilidade no doente a que se destinam.
É a partir de análises qualitativas que conseguimos obter e identificar as combinações em dose fixa, onde o valor intrínseco do medicamento se torna aceitável ou não para poder ser utilizado com fins terapêuticos.
Se investigarmos exaustivamente os fármacos iremos encontrar princípios activos que são uma incógnita, e que existem em todos os grupos das classes terapêuticas mais utilizadas, onde se incluem: os complexos vitamínicos, os analgésicos, os antiflatulentes, os antiulcerosos, os psicolépticos, os diuréticos, os agentes cardiovasculares, os bloqueadores Beta, os suplementos minerais, os relaxantes musculares, os laxantes, os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA), os bloqueadores dos canais de cálcio, os antidepressivos, anti-histamínicos, os simpaticomiméticos, os hipoglicemiantes, os hipolipemiantes, os relaxantes musculares, sendo uma exigência e um dever, a sua substituição por fármacos seguros e eficazes, com efeitos adversos reduzidos.
Apesar do grande esforço na averiguação dos produtos e das receitas utilizadas, as informações quanto ao uso dos fármacos podem estar incompletas, cabendo ao médico a obrigatoriedade de prestar os esclarecimentos pormenorizados e entendíveis, para o doente a que se destina.
Num dos estudos efectuados sobre a análise da qualidade dos medicamentos utilizados conseguimos apurar que 55.9% eram monodrogas e 44,1%, associações em doses fixas.
Porém, uma enorme fatia dos fármacos utilizados e consumidos com regularidade, prescritos ou não por médicos que não se conseguem classificar, preocupa-nos e alerta-nos para a existência de um mercado de produtos desnecessários, e nalguns casos nefastos, que são lançados e vendidos pelas indústrias farmacêuticas.
Todos os princípios activos deveriam estar em conformidade e em concordância com as substâncias preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), implicando uma actualização periódica e atempada, e uma notificação permanente das  reacções adversas e das interacções medicamentosas.
A importância da prescrição terapêutica e o conhecimento profundo dos fármacos utilizados no tratamento da doença, são os pilares de segurança que irão minimizar os efeitos adversos, e são os principais factores decisores da prescrição com qualidade a que respeita a quantidade do consumo de medicamentos e onde está implícito por parte do prescritor o conhecimento da dose, custos, via de administração, eficácia e sucesso terapêutico.
A indústria farmacêutica tem uma grande responsabilidade na potenciação, no lançamento e promoção de consumo de fármacos sem eficácia estabelecida e desprovida de efeitos curativos.
Prescrever implica uma decisão médica na selecção e opção de um medicamento existente e disponível no mercado, de forma a assegurar que os produtos farmacêuticos que vão ser utilizados correspondam às exigências demonstradas pela investigação científica farmacológica, destinada à doença que se quer tratar.
E por fim é necessário esclarecer que para se poderem utilizar medicamentos genéricos os critérios têm de ser os mesmos, obrigando a uma política racional do uso do medicamento, a uma vigilância da qualidade permanente, de forma a impedir o uso de medicamentos potencialmente perigosos para os doentes.
Todos os sinais de perigo devem ser sinalizados e um alerta  a ser incluído nas actividades da educação para a saúde, tornam-se imprescindíveis as divulgações das informações detectadas como situações anómalas e que podem colocar em risco a vida dos doentes.
Em suma, ser um prescritor de medicamentos, exige um conhecimento profundo de fontes de informação de eficácia terapêutica permanentemente disponíveis para os médicos, de forma a evitar a influência negativa dos mecanismos e estratégias de mercadização, baseadas em folhetos, panfletos, anúncios em revistas médicas propagandistas, amostras grátis, brindes etc...
Prescrever com qualidade é ter suporte de material científico que demonstre o conhecimento claro de todas as contra-indicações, reacções adversas, interacções, complementado pela informação disponível e divulgada pelos próprios fabricantes que procederam à sua investigação.
 O médico que prescreve com qualidade não se pode deixar influenciar pela publicidade da indústria farmacêutica, deve sim basear a sua prescrição na documentação existente nas revistas médicas de carácter científico, nas informações das autoridades de saúde, nas normas orientadoras e em todas as recomendações emanadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), respeitando as guidelines, sendo estas as únicas fontes credíveis que fundamentam a sua prescrição.
Para se ser um bom prescritor, é necessário ter disponibilidade para recolher a informação científica, respeitar a pluridisciplinaridade e responsabilidade das instituições, desprovido de toda e qualquer influência promotora da indústria farmacêutica.
Todo o prescritor terá que respeitar os critérios exigidos para uma prescrição de sucesso terapêutico tendo por base o conhecimento do nome genérico, efeito farmacológico, indicações e contra-indicações, mecanismo de acção posologia, reacções adversas, indicações e contra-indicações, apresentação, fabricante e importador.
Por todas estas razões que agora aqui se transcrevem podemos concluir que a complexidade na prescrição terapêutica é um acto da exclusiva competência médica, e que não pode ser considerado como um mero produto farmacêutico, comparável aos produtos de venda livre existentes nas farmácias.
A vida do doente e a cura da sua doença implica uma prescrição médica de qualidade e responsável, sendo um acto médico insubstituível.”

(*)doutorada em medicina


1 comentário:

Anónimo disse...

tenho que dar os parabéns a esta médica, pelos seus belíssimos escritos: Com critica, conselhos.
Faz um bom trabalho.Pena que não aparecem outros profissionais das diversas áreas, escrevendo e enriquecendo este espaço. Estamos fartos de comentários e postagens de politica, e outros ocos de conteúdo
Muito obrigado