O socialista Mário Soares afirmou hoje que existe na Europa "a
consciência de que o 'euro' não pode acabar e alguns "ventos de
mudança", mas lamentou que sejam "os responsáveis pela crise" a liderar a
resposta.
Numa palestra na Ordem dos Médicos sobre o futuro da Europa, o antigo
chefe de Estado e fundador do PS considerou que "não podem ser os
responsáveis" pela crise europeia a conduzir o processo de resposta e
que as raízes dos problemas actuais estão no "desaparecimento" das
democracias-cristãs e na herança do antigo primeiro-ministro trabalhista
britânico Tony Blair, um dos defensores da 'terceira via'. Mário Soares deixou de resto várias críticas a Blair, que acusou de misturar a "política com os negócios".
O socialista considerou ainda que as democracias-cristãs europeias
"desapareceram" e se transformaram "em partidos populares, neoliberais,
que puseram os valores da doutrina social da igreja de lado".
No
entanto, o antigo secretário-geral do PS disse haver "um vento novo a
soprar na Europa" protagonizado pelo presidente francês, François
Hollande, e que levou a que na última cimeira europeia, no fim de Junho,
tenha sido "completamente inútil". "O dogma da inevitabilidade das
medidas de austeridade foi abertamente criticado, porque só pode
conduzir a maior recessão e a um aumento explosivo do desemprego",
afirmou.
Para Soares é preciso que a Europa volte "à
solidariedade e à unidade entre todos", porque o fim da União levaria a
que "o nacionalismo brotasse por todo o lado e possivelmente o
fascismo".
E, considerou, os eventuais responsáveis por esse
cenário "deveriam ser julgados no Tribunal Penal Internacional por um
crime contra a humanidade".
Soares disse ser "extraordinário que
os que provocaram esta crise, os neoliberais", estejam a "liderar a
Europa" e, nas respostas às várias questões que lhe foram colocadas,
voltou a insistir no fim dos paraísos fiscais e das agências de
'rating', que acusou de serem "criminosas".
«D. Económico»
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