Foi no dia das
mentiras, mas tratava-se de uma crua verdade. O ator, encenador e
declamador Mário Viegas morreu no dia 1 de abril de 1996, faz hoje 16
anos.
Nascido em 10 de Novembro de 1948, em Santarém,
António Mário Lopes Pereira Viegas estreou-se aos 15 anos fazendo teatro
amador na sua terra natal.
Aos 17 veio para Lisboa. "Nessa altura, em vez de me
dedicar ao futebol ou a outra coisa qualquer, comecei a interessar-me
pela política. E fiz da política, do antifascismo e dos movimentos
contra a guerra colonial e o regime, uma grande bandeira. E tinha as
minhas referências: o Zeca, pelo seu comportamento, era e continua a ser
uma referência fundamental para mim", assim respondeu ao jornalista
Viriato Teles, quando este, em 1992, lhe recordou numa entrevista que
ele se intitulara "um anarquista de esquerda".
Outra das referências que tinha, era a Maria Barroso,
mulher de Mário Soares. "Lembro-me que a vi actuar pela primeira vez em
Alpiarça, localidade que era um grande baluarte do Partido Comunista
Português e da Oposição, antes do 25 de Abril. Nunca mais me esqueço que
as duas primeiras filas da plateia estavam ocupadas por agentes da PIDE
e da GNR. Eu também queria fazer aquelas coisas todas. E fiquei com o
mito da Maria Barroso, que era uma mulher que, de facto, dizia muito bem
e que empolgava as pessoas.
"O sonho ao poder"
E, na mesma entrevista, falaria ainda dos seus muitos anos de teatro. Fazendo um balanço entre recordações más e boas, respondeu: "A maioria são boas. Fiz as coisas boas e más na altura em que tinha de as fazer. Claro que as melhores recordações que tenho da minha carreira (não gosto muito de utilizar a palavra carreira, mas enfim) são as coisas que concretizei principalmente fora de Lisboa".
E concretizou inúmeras coisas, desde peças de teatro a
filmes (mais de quinze), passando por programas televisivos. Mas também
fez a sua incursão na política, em 1995, concorrendo ao Parlamento nas
listas da UDP e candidatando-se à Presidência da República com o slogan "O sonho ao poder". Pouco depois, a 29 de Agosto, seria internado no Hospital de Santa Maria.
O programa da candidatura lançou-o no espectáculo
"Europa, Não! Portugal, Nunca!". Como recordou Viriato Teles em 2003, na
revista brasileira "Agulha", tratou-se de "uma genial provocação a
favor de "uma política sem máscaras", que só a doença impediu de levar
até ao fim, mas que ficou como derradeiro exemplo de insubmissão. Total,
radical, verdadeira, absoluta. A doer, como a vida."
Aqui deixamos uma lembrança, bem a propósito:
"Carreirista", do poeta Mário Henrique-Leiria, que também fez da
irreverência a sua vida, por Mário Viegas no seu programa televisivo de
1984, "Palavras Ditas".
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