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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Mais de 35% dos casais criam conflitos em torno de questões financeiras


Um questionário realizado por um projeto de investigação do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra mostra que mais de 35% dos casais com filhos criam conflitos em torno de questões financeiras.
Cerca de 80% referem que a crise afetou "significativamente" o orçamento familiar, tendo quase dois terços dos inquiridos referido que "deixaram de sair ou de se divertir" e mais de 25% "procura mais vezes o médico por problemas emocionais, de ansiedade ou insónias", disse à agência Lusa Lina Coelho, coordenadora do projeto "FINFAM - Finanças, Género e Poder: como estão as famílias portuguesas a gerir as suas finanças no contexto da crise?".
O projeto, que apenas se centra em casais com filhos, conclui também que 50% das famílias "tiveram que recorrer às poupanças para despesa corrente", tendo 27,5% dos inquiridos referido que "a crise os levou a endividarem-se".
Dos que se endividaram, cerca de metade recorreu ao banco e metade à família, tendo havido também o recurso de famílias aos dois meios, explica Lina Coelho.
Nesta "radiografia dos impactos da crise nas famílias", mostra-se que mais de 50% das famílias reduziram a despesa no vestuário, viagens, restaurantes e aparelhos eletrónicos e eletrodomésticos e cerca de 10% cortaram na saúde e na educação.
Um dado "preocupante" é também a redução de gastos nos serviços de apoio a dependentes, idosos e pessoas com deficiência.
Segundo o questionário do projeto, dos mais de 200 inquiridos (de 1.001) que tinham a seu cargo pessoas com deficiência ou idosos, 40% "afirmam que reduziram nos serviços de apoio, o que significa que estes cidadãos terão sido muito penalizados pela crise", frisa a investigadora.
Também na alimentação, 20% dos casais referiram que reduziram a despesa, tendo também um terço das famílias registado uma diminuição nos transportes e em comunicações.
No plano laboral, cerca de 24% dos casais passaram a trabalhar mais horas e um terço viu o seu salário ser reduzido, aponta ainda o projeto de investigação.
Das 1.001 famílias questionadas, 73% pagam prestação de empréstimos, sendo 87% dos mesmos para crédito à habitação, avança Lina Coelho, sublinhando que mais de metade dos inquiridos declara que a prestação é "um fardo pesado ou muito pesado".
Os 20% que referem que a crise não afetou o seu orçamento "são de baixa escolaridade" e a grande maioria está empregada, sendo "pessoas que já viviam num limiar de sobrevivência e que no contexto da crise não são muito afetadas".
Contudo, "há um impacto enorme de crise", observa a economista, sublinhando que as famílias com filhos - o objeto de estudo do projeto - "têm sofrido bastante" nos últimos três anos.
Numa altura em que se fala de políticas de promoção de natalidade, "tudo leva a crer que ter filhos tem um custo muito elevado" no atual contexto, sendo "arriscadíssimo ter filhos" por "pôr a qualidade de vida dos casais e dos filhos em risco", afirmou.
«Lusa»

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