Publicamos na integra, uma entrevista concedida por Rosa do Céu, ao jornal “Tinta Fresca”
Joaquim Rosa do Céu é, desde 2008 o presidente da Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, depois de ter presidido à Câmara Municipal de Alpiarça. Em entrevista ao Tinta Fresca, fala dos desafios do turismo em tempo de crise e da oferta turística diferenciada que o Ribatejo, o Oeste e Leiria-Fátima podem proporcionar. Apoia o concurso 7 Maravilhas da Gastronomia, mas discorda das rivalidades regionais, uma vez que muitos pratos são transversais a todo o território nacional. O Turismo de Lisboa e Vale do Tejo irá lançar até ao Verão um guia turístico da região.
Tinta Fresca - Como se concilia zonas turísticas tão diferentes, como o Ribatejo, Oeste, Lisboa cidade e Sul do Tejo?
Joaquim Rosa do Céu – A diversidade é um valor e uma vantagem no turismo. Diferentes ofertas significam que podemos atingir diferentes segmentos de mercado. Distintos turistas com distintas motivações. Associar, respeitando diferentes identidades, Ribatejo, com o Médio Tejo, com Lisboa e com a península de Setúbal permite ganhar dimensão e massa crítica. Permite oferecer mais e oferecer diferente.
Tinta Fresca - Qual a relação da ETLVT com o Oeste e Leiria-Fátima?
Joaquim Rosa do Céu – A nossa visão é a de estarmos juntos sempre que possível. Somos complementares e não concorrentes. Estamos juntos em diversas acções promocionais dirigidas a mercados externos com destaque para a Espanha “aqui tão próxima”. Estamos juntos numa candidatura ao QREN que inclui projectos turísticos, nas áreas da promoção, animação e desenvolvimento de produtos, no triénio 2009-2011. concretizamos, periodicamente, reuniões de reflexão e de coordenação de intervenções promocionais.
Tinta Fresca - Em termos de promoção para o ano 2011, quais os mercados em que a ET LVT vai apostar?
Joaquim Rosa do Céu – A nossa primeira aposta é em Portugal e nos portugueses, o nosso primeiro e mais importante mercado. A nossa segunda aposta é em Espanha.
Tinta Fresca - Quais os principais motivos da vinda dos turistas estrangeiros à região?
Joaquim Rosa do Céu – Lisboa e Vale do Tejo apresenta duas motivações principais. Uma primeira, associada essencialmente à cidade de Lisboa, correspondendo a curtas e médias estadias (city breaks). Uma segunda associada a viagens pela região e que incluem diferentes motivações como visitas ao património, quer construído quer natural, gastronomia, festividades e tudo o que a imaginação convidar (touring cultural e paisagístico).
Tinta Fresca - Qual a importância dos novos grandes mercados, como a China, Índia e Rússia? Sabe se existem problemas com obtenção de vistos?
Joaquim Rosa do Céu – A importância será certamente crescente. E será proporcional ao peso e à dimensão económica destes três países. China, Índia e Rússia sendo mercados emissores não tradicionais para Portugal, terão inevitavelmente, pelo seu peso económico e demográfico, um espaço no turismo português. A questão dos vistos, seja qual for o país a que nos referimos, é sempre uma limitação e um encargo superior. A sua existência ou a sua abolição são um problema e uma questão que ultrapassam, em muito, o turismo e a política de turismo. Desejável é que seja simples e acessível o procedimento de viajar para Portugal.
Tinta Fresca - Além da divulgação, que outras funções tem a Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo?
Joaquim Rosa do Céu – A Turismo de Lisboa e Vale do Tejo tem como grandes áreas de intervenção a gestão e a promoção do destino.
Tinta Fresca - Qual o impacto que a crise económica vai ter no turismo de Lisboa e Vale do Tejo?
Joaquim Rosa do Céu – Uma crise económica é sinónimo de menos poder de compra por parte dos cidadãos. E, no momento de decidir reduzir despesas, o turismo é, frequentemente, uma das primeiras opções. Uma crise também é uma oportunidade. A oportunidade de descobrir novas soluções, propor diferentes ofertas, melhorar e diferenciar serviços e propostas turísticas. Em síntese, procurar novas formas de abordar o mercado.
Tinta Fresca - Considera importante para o turismo a existência do novo aeroporto de Lisboa?
Joaquim Rosa do Céu – Não existe um sector turístico organizado, moderno e competitivo sem uma eficiente rede de transportes. O novo aeroporto faz parte dessa rede a que o país ambiciona.
Tinta Fresca - A oferta hoteleira da região está adequada às exigências dos turistas?
Joaquim Rosa do Céu – Lisboa e Vale do Tejo tem um número de unidades de alojamento e em número de camas, uma oferta hoteleira muito razoável. No entanto, esta oferta tem uma distribuição pouco equilibrada pelo território. Os municípios da Grande Lisboa, e em particular a cidade de Lisboa, concentram a esmagadora maioria das nossas camas turísticas. Importa, portanto, levar o turismo a mais territórios e a mais municípios, tornando mais coesa e mais equilibrada a região.
Tinta Fresca - A oferta gastronómica da região está adequada às exigências dos turistas?
Joaquim Rosa do Céu – A gastronomia e também os vinhos são dos produtos mais diferenciadores da nossa região. Podemos mesmo afirmar que a gastronomia, da sopa da pedra ao peixe grelhado, é uma das imagens de marca de Lisboa e Vale do Tejo.
Tinta Fresca - Quantos turistas recebeu em 2010 esta região?
Joaquim Rosa do Céu – Ainda não tenho conhecimento dos números completos do turismo em 2010. Ainda assim, os números provisórios indicam que 2010 foi um ano positivo e um ano melhor do que 2009. Utilizando o indicador dormidas na hotelaria (com as condicionantes que já explicitei) tivemos, comparando 2010 com 2009, um crescimento de cerca de 9%.
Tinta Fresca - Entende que a região tem capacidade de crescimento?
Joaquim Rosa do Céu – A região de Lisboa e Vale do Tejo, e em particular, os seus municípios que ainda têm uma oferta cultural reduzida e diminuta, possuem ainda evidente margem de crescimento turístico.
Tinta Fresca - A crise nos países árabes pode potenciar o crescimento turístico na região? Já tem alguns sinais?
Joaquim Rosa do Céu – Não tenho conhecimento de uma relação directa e inequívoca entre as diversas crises no Norte de África e no Médio Oriente e um eventual crescimento de fluxos turísticos para Lisboa e Vale do Tejo
Tinta Fresca - Qual a importância da Rede de Mosteiros Património da Humanidade para o desenvolvimento da região?
Joaquim Rosa do Céu – Considerando o touring cultural e paisagístico como o nosso principal produto turístico, a Rede de Mosteiros Património da Humanidade, representa um valor patrimonial muito relevante e uma importante motivação para visitar Lisboa e Vale do Tejo.
Tinta Fresca - Está a decorrer o concurso "7 Maravilhas da Gastronomia". Qual a importância deste tipo de concursos para a promoção da região?
Joaquim Rosa do Céu – “7 Maravilhas da Gastronomia” é uma marca que reforça e amplia a notoriedade quer de Lisboa e Vale do Tejo quer de Santarém. Este evento que na prática inclui muitos outros eventos dentro de si próprio é uma boa notícia e uma excelente iniciativa para a região. A associação e o envolvimento da Turismo de Lisboa e Vale do Tejo às “7 Maravilhas da Gastronomia” é natural, evidente e vantajosa.
Tinta Fresca - Mas a região do Ribatejo e Estremadura só tem dois pratos nesta fase do concurso...
Joaquim Rosa do Céu - Fico muito feliz é que a oferta do País como um todo seja conhecida. Agora se é do Alentejo, se é do Douro, do Oeste ou dos Templários não me afecta rigorosamente nada e, definitivamente, não quero entrar nese campeonato, que não ajuda o País.
Tinta Fresca - A sua experiência autárquica tem sido importante para o desempenho deste cargo?
Joaquim Rosa do Céu – A minha anterior experiência autárquica deu-me essencialmente sensibilidade. Sensibilidade que, no dia-a-dia, se apresenta como tão importante no mundo e no sector do turismo.
Tinta Fresca – O que diria a um turista que queira visitar a região?
Joaquim Rosa do Céu – Tudo depende do tempo que tem para visitar a zona. Aterre em Lisboa ou saia em Santa Apolónia, visite Lisboa, mas não fique por Lisboa. Veja a grandiosidade de Lisboa, veja a oferta cultural de Lisboa, veja a única cidade que tem o mar e que tem dois rios, não há outra cidade com essa particularidade. Mas, depois saia um pouco e venha visitar a região.
Se for de uma formação religiosa com certeza que quererá visitar Fátima, mas descubra a beleza natural do Tejo, vá até à zona Oeste e descubra a cultura saloia, a oferta da nossa produção hortícola e de fruta da zona Oeste, venha também até ao Ribatejo, descubra a cultura ribatejana, suba um pouco mais e visite a grandeza dos templários. Se depois quiser ir um pouco até ao sul, faça uma visita até ao Sado, veja a riqueza dos golfinhos, passeie até ao Castelo de Palmela e ao fim da tarde pode-se sentar em Alcochete e observar o olhar sobre Lisboa que está na outra margem. Há uma oferta imensa.
http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=858c02f4-63eb-403a-a047-60fa92e8b028
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