O banco luxemburguês diz não ter conhecimento de qualquer investigação pelas autoridades portuguesas.
"No seguimento de notícias publicadas nos meios de comunicação social, a Rothschild gostaria de esclarecer que não tem conhecimento que esteja sob qualquer investigação das Autoridades Portuguesas", lê-se num curto comunicado de dois parágrafos enviado à imprensa.
No mesmo documento, a Rothschild refere que, "de acordo com as notícias veiculadas pela imprensa, estas investigações aparentemente envolvem a sucursal em Portugal da sociedade 'Banque Privée Edmond de Rothschild', que desenvolve uma actividade totalmente independente e sem qualquer ligação e relação com a Rothschild Portugal, a Rothschild ou com o Grupo Rothschild".
O esclarecimento surge depois de o Diário de Notícias ter hoje avançado que a sucursal do banco luxemburguês Edmond Rothschild, no Príncipe Real, em Lisboa, foi ontem alvo de buscas policiais, por suspeita de branqueamento de capitais e fraude fiscal.
O jornal contou que uma equipa de magistrados do Ministério Público, elementos da Polícia Judiciária e técnicos do Banco de Portugal, acompanhada pelo juiz Carlos Alexandre, esteve esta semana um dia na sucursal do banco Edmond Rothschild, que gere as grandes fortunas e cujos clientes só entram por convite.
Segundo o DN, os técnicos tomaram o controlo do sistema informático do banco e, na base da investigação, esteve a detecção de lucros muito elevados por parte de alguns clientes, que não se reflectiam depois nas suas declarações fiscais.
O gestor dos Rothschild
José Luís Vasconcelos e Sousa (foto) joga um papel relevante no Banco Edmond de Rothschild. É o responsável pela expansão na Europa e na Índia e dos negócios com Angola e Brasil
Em 1941 Maurice Rothschild passou por Portugal em fuga para os Estados Unidos com um visto assinado por Aristides Sousa Mendes, diplomata de Portugal em Bordéus, levando uma fortuna em pedras preciosas costuradas num saco.
O financeiro francês era de origem judia e, como senador, votara contra a instauração do regime de Vichy. Em 2000 o Banque Privée Edmond de Rothschild Europe, sediado no Luxemburgo e um dos ramos financeiros do LCF Rothschild Group que Maurice Rothschild fundara, abriu sucursais em Lisboa e no Porto pela mão de José Luís de Vasconcelos e Sousa.
Este gestor partira, nos alvores do 25 de Abril de 1974, para Lausana onde se licenciou em Gestão, tendo trabalhado no Crédit Suisse e em seis anos passou por Lausana, Londres e Nova Iorque e no Banque Privée Edmond de Rothschild durante 11 anos.
Com a privatização da banca portuguesa, iniciada em 1989, acabou por ser convidado em 1992 para vir trabalhar para o Banco Espírito Santo, onde ficou até que o barão Benjamin de Rothschild o convidou a regressar ao banco.
Banqueiros à moda suíça
Se o nome Rothschild é sinónimo de distinção, o conceito de banco relacional por excelência explica a exclusividade. No elegante palacete ao Príncipe Real que serve de centro de operações a José Luís Vasconcelos e Sousa não há dístico a assinalar o banco.
'Nós é que vamos à procura do cliente ou é um cliente satisfeito que traz outro cliente', explica o gestor português. Refere que não estabelecem fasquias, mas 'existe um critério quantitativo em certo tipo de carteiras que não se justifica porque não são eficientes se não tiverem o montante Y. É o caso da gestão discricionária de produtos estruturados que para fazer uma diversificação óptima exige um mínimo de 1 milhão ou 2 milhões de euros'.
Benjamin de Rothschild (1963), neto de Maurice, o fundador do braço franco-suíço, decidiu nos anos 90 exportar o conceito de banca suíça para o resto do mundo, começando pela Europa.
O fio condutor é a empresa familiar, a partir da qual se desenvolvem as diferentes estratégias da banca sob medida, que tanto pode ser a preservação de capital, a criação de valor, o planeamento sucessório, a compra ou vendas de empresas.
Como refere Vasconcelos e Sousa, 'a média, grande ou pequena empresa para nós não se coloca, o que conta é se está nas mãos de uma família, que vai ter de pensar como é que a sua empresa se posiciona para a nova geração ou para os desafios de hoje'.
Depois segue-se uma organização, a que chamam pirâmide invertida, em que o front-office é ocupado pelos quadros superiores, mais experientes e mais aptos, e que são fidelizados através de uma lógica de partnership. Há ainda aspectos que sedimentam esta abordagem ao negócio: 'Estatutariamente o banco não tem participações próprias e portanto não há conflitos de interesses.
Outro aspecto é o facto de não termos crédito, o que hoje é uma situação de enorme privilégio. O balanço não tem risco, o que é um aspecto fundamental nos tempos que correm. 'Claro que a prática destes princípios lhes retira dimensão mas 'a solidez, mais do que a dimensão, é um critério fundamental'.
Médicos especialistas
O grupo LCF Rothschild tem 30 escritórios em todo o mundo, 250 gestores de fundos, um staff de 2000 pessoas, 30 das quais em Portugal, e mais de 100 mil milhões de activos sob gestão.
Só a sucursal portuguesa ultrapassará 1000 milhões de euros de activos administrados. Na banca de investimento, em que se inclui a assessoria financeira e o private equity, funciona como uma única plataforma ibérica.
Como José Luís Vasconcelos e Sousa enfatiza, são na área financeira o equivalente ao 'médico especialista' pois 'a complexidade da área financeira é tal que exige uma especialização'.
Aliás, o banco é pioneiro nos hedge-funds tendo criado em 1969 o primeiro fundo de fundos long short, que é o conceito de hedge fund inicial. Na gestão de activos lançaram a estratégia inovadora dos investimentos temáticos.
'Em vez de estarmos preocupados com a volatilidade diária, apostamos em temas que acreditamos que são de crescimento e mais tarde ou mais cedo a Bolsa vai retratar o valor intrínseco dessas empresas.' E cita os casos das energias renováveis, dos cereais, da água e do luxo.
A gestão de activos privado e institucional tem maior preponderância, mas as outras actividades como a banca de investimento e assessoria financeira são complementares e feitas na mesma óptica do private bank que é de uma relação duradoura e de proximidade: 'A nossa ideia não é a transacção, mas a parceria com o cliente.
Aliás, partilhamos o risco com o cliente porque nas operações de banca de investimento as nossas comissões são sobretudo comissões de sucesso (success fee)'.
Esta abordagem é também aplicada aos clientes institucionais que não são tratadas de forma industrial, 'mas com a filosofia Rothschild de tratamento como um cliente private, sob medida. A sucursal portuguesa tem particularidades na sua acção e no seu raio de influência.
Na banca de investimento, a equipa ibérica actua também em mercados como Angola e Brasil. Foi a partir de Lisboa, que José Luís Vasconcelos e Sousa traçou a chegada do banco à Índia, através da parceria feita, em 2005, com o Áxis Bank, o terceiro maior banco privado indiano.
Fez com a Norfin, gestora de fundos de investimento imobiliário, um fundo fechado de reabilitação urbana em Lisboa, que adquiriu e remodelou três prédios na Lapa.
Este sucesso levou ainda à criação da mediadora imobiliária, Edmond de Rothschild Real Estate, para vender, aos clientes estrangeiros, imobiliário em Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário