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domingo, 17 de julho de 2011

CINISMO, ÉTICA E POLITICA

Por: Anabela Melão

O cinismo. Aqueles seguidores intrépidos dos velhos cínicos (uma espécie mais ou menos idêntica aos novos ricos que copiam e plagiam os velhos, mas que, na ausência de termos de referência, são “mais ou menos” ou “assim assim” abonados sem o glamour dos outros) - todos conhecemos uma mão cheia - enganadoramente moralistas (não, de todo, talvez sim ou talvez não, imoralistas) que se entretém a despejar regras “sobre” os outros. Conheci e conheço alguns. Na Política assisti várias vezes, em carreiras ditas impolutas e por gente dita impoluta, a exercícios de exibicionismo sobre aquele famoso chavão da “Ética”. Gosto de pensar que, como o meu avô dizia, esta é uma daquelas “qualidades” que ou se tem ou se não tem. Sem folclores nem demagogias. Ninguém se “forma” em Ética embora se possa dar educação para a Ética. Porque essa fica como uma raiz não como uma pétala ou um adorno. A propósito disto e daquilo – lembro-me das viagens em económica e das gravatas – vem-se discutindo se é ético usar estas imagens de marketing para colher popularismos fáceis em épocas de crise (já que, no contexto da actual “realidade”, dificilmente se colherão pelas vias “reais”). É (ou não) ético para quem? que ética? segundo que política? segundo que interesse?.

Saramago acusou o papa Bento XVI de “cinismo” e defendeu que à “insolência reaccionária” da Igreja há que responder com a “insolência da inteligência viva”. Um pouco o que apetece dizer a propósito. Se é ou não ético o futuro o dirá. Se a toneladas de “areia para os olhos” se juntar alguma medida verdadeiramente significativa há aqui alguma ética. Se assim não for tudo não passa de um grande cinismo, daqueles bem encenados e programados. Como a dizer que “pequenas” medidas como estas poderiam ter evitado o buraco onde estamos metidos.

O cinismo também precisa de uma ideologia, mesmo que meio que às avessas. Não basta dizer mal. Ou basta ainda muito menos exibir aquele inefável ar de superioridade, de enfado, “whatever”, que é “too sexy for this song e too cool for school”. Pode-se ser cínico desde que não se deixe de ser crítico.



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