O envelhecimento da população é uma "ameaça global" que atingirá também os países em vias de desenvolvimento, um problema de "difícil resolução" devido à ausência de uma aposta no crescimento sustentável, alertam especialistas.
A conjugação de uma quebra no número de nascimentos com o aumento da esperança de vida nos países mais desenvolvidos resultou na predominância de pessoas com mais idade, uma situação que está no centro das preocupações dos especialistas na área, mas também dos políticos.
As medidas de apoio à natalidade avançadas por alguns países não parecem estar a conseguir resultados e a sociedadade mantém a dificuldade em lidar com os seus idosos.
A propósito do Dia Mundial da População, que se assinala na segunda-feira, a presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes, referiu o envelhecimento da população como "uma ameaça global" que já não abrange só os países industrializados.
A transição demográfica dos países em vias de desenvolvimento "tem sido tão rápida e tem mostrado que efetivamente os níveis de envelhecimento vão ser nos próximos anos de grande preocupação", apontou a especialista.
Para já, "temos uma população muito jovem ainda nestes países, mas que rapidamente tenderá também a atingir idades mais avançadas e a proporção de idosos nessas populações vai aumentar imenso nos próximos anos".
A dicotomia entre nações menos industrializadas e países desenvolvidos vai esbater-se e "o ritmo de envelhecimento desses países é muito mais rápido do que o ritmo naqueles que já são agora envelhecidos", explicou Maria Filomena Mendes.
Contribuíram para esta situação o aumento da esperança de vida, o aumento da longevidade e uma redução da mortalidade, permitindo que as pessoas vivam durante mais anos e com maior qualidade.
Stela António, especialista em Demografia e Gerontologia, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica, por seu lado, resumiu a realidade atual: "Nos países mais desenvolvidos há velhos e ricos e nos países em desenvolvimento jovens e pobres".
A distribuição da população de forma "não equilibrada" tem consequências sociais mas também económicas, realçou a professora, acrescentando que a solução é "difícil porque não se está a apostar no que poderia considerar-se um crescimento sustentável".
Para Stela António, "nos países mais ricos, [a solução] seria apostar na natalidade, no crescimento populacional", uma medida que "só teria alguma relevância daqui a alguns anos".
De qualquer modo, as medidas de fomento da natalidade têm passado por algumas ajudas económicas e, para a professora, importante seria o apoio às mães, criando condições para que trabalhem tranquilas.
A especialista não deixa de alertar para o cuidado a ter na elaboração de uma qualquer estratégia, sendo necessário prever as consequências e, principalmente, preparar a sociedade para uma percentagem elevada de idosos.
"Temos de ver não só quais são as consequências hoje, mas também para amanhã e penso que é aí que está a falhar um pouco e era preciso analisar para onde queremos ir", realçou Stela António.
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