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domingo, 11 de janeiro de 2015

II Cruzeiro Religioso do Tejo

Por: Lurdes Véstia


Foi-me pedido que registasse as crónicas do II Cruzeiro Religioso do Tejo.

Por primeiro impulso dei uma valente gargalhada…depois a “coisa” entranhou-se e finalmente surgiu o entusiasmo.
Uma crónica literária é um comentário de factos, vive do quotidiano e é uma espécie de narração de acontecimentos, uma apreciação de situações vividas. Trata-se de produzir um texto, curto, narrado na primeira pessoa, isto é: o “escritor” está a dialogar diretamente com o leitor. Normalmente utiliza-se uma crítica indireta e emprega-se comumente o humor.
Não posso deixar de referir-me, aos protagonistas destas crónicas que irei narrar, os pescadores taganos, homens do rio e homens de fé.
O quotidiano severo e arriscado dos pescadores é causador de uma necessidade devocional que impele, entre outras manifestações religiosas, à organização e à participação em procissões e romarias.
A proximidade ao divino aumenta-lhes a confiança, legitimando que contribuam monetariamente, apesar dos limitados rendimentos económicos, para a concretização destas manifestações religiosas, sobretudo se forem dedicadas a Maria, Mãe de Jesus Cristo, que superou a dureza da morte de um Filho.
Os pescadores taganos são maioritariamente católicos de religião, praticantes é que nem por isso. Contudo, vivem a religião e a sua fé de uma maneira muito própria, muito íntima e com uma intensa confiança em Deus e sobretudo em Maria.
Moisés Espírito Santo (1984: 104-105) interpreta esta submissão à Mãe, nas comunidades piscatórias, a partir da religião dos pescadores: “A Senhora dos pescadores representa tanto a terra que oferece segurança como a mãe biológica ou a mulher que fica em terra, enquanto os homens se aventuram sobre as ondas. É uma mulher e uma mãe atormentada. [...] A presença desta personagem feminina na religião dos pescadores está ligada à cultura específica deste meio, de tendência ginocrática. [...] Estando o pai ausente e constantemente ameaçado, as crianças fazem incidir a sua atenção exclusivamente sobre a mãe”. Face ao referido poder-se-á concluir que, apesar de não existir uma manifestação plena da religiosidade, esta está presente nos aspetos mais comuns da vivência dos pescadores taganos.
Os nomes das bateiras têm, muitas vezes, referências religiosas: Santa Rita, Vamos com Deus, S. Pedro, Deus te Guie, S. Pedro, Nª Sra. Te Guie, Santa Maria, Nª Sra. De Fátima… dentre tantos outros de que me lembro.
Por isso, podemos afirmar que as manifestações religiosas, dentro das comunidades piscatórias taganas, não assumem por inteiro uma tipologia tipicamente ligada à Igreja, mas representam toda uma tradição já enraizada, evocadora da atividade piscatória e da memória dos seus antepassados.
À semelhança do que aconteceu no ano passado, mais uma vez se realizou o Cruzeiro Religioso do Tejo.
Conhecer o Tejo é vivê-lo e é retirar dele aquilo que ele tem para connosco partilhar: fauna, flora, paisagem, cultura, história e tradição, dentre tantas outras descobertas.
Este evento revestiu-se, este ano, de uma particularidade muito especial, pois corresponde às vontades das comunidades de pescadores e de marítimos do Tejo, assim como de outras comunidades ribeirinhas, que exigiram e decidiram que o mesmo se deveria realizar de novo e de uma forma regular. Querem sentir a presença constante da divindade simbolizada na imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo
Assim, o Cruzeiro foi este ano organizado por um conjunto de associações e de instituições que têm como objetivo o desenvolvimento local sustentável das zonas ribeirinhas taganas. Associaram-se também à iniciativa várias entidades, entre as quais as comunidades piscatórias ribeirinhas, associações culturais, náuticas e etnográficas, câmaras municipais, juntas de freguesias e paróquias.
Esta procissão fluvial, em honra de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, bem como de outros santos da devoção dos pescadores ribeirinhos, evoca as tradições das populações ribeirinhas taganas.
O Cruzeiro visa representar o antigo trajeto que os marítimos faziam, nos chamados barcos de água-acima, desde as Portas do Ródão até ao grande estuário, quando o rio Tejo era navegável em quase toda a sua extensão.
Este cruzeiro fluvial, dividido em 8 etapas, realizou-se entre os dias 17 de maio e 15 de junho, pelo rio Tejo, desde Alvega (Abrantes) até a Paço de Arcos (Oeiras), e integrou embarcações tradicionais taganas, engalanadas, transportando a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, bem como outras imagens de santos de devoção dos pescadores de cada comunidade representada.
O envolvimento voluntário das comunidades ribeirinhas na organização e promoção do Cruzeiro foi um enorme passo para o sucesso desta iniciativa e a sua envolvência é o garante de uma elevada participação das gentes do Tejo.
Durante as próximas semanas irei então “contar” as ocorrências de cada etapa deste II Cruzeiro Religioso do Tejo.
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Oremos
Maria, Mãe de Jesus,
Senhora do Tejo e dos Avieiros.
Aconchego dos homens e das mulheres que, nas suas bateiras, trazem o pão e os sustento para a sua família.
Inundados pelo Espirito Santo, criaram remédios, receitas e orações para se cuidarem e curarem de todas as maleitas.
Intercede por nós e guia-nos para os Santos refúgios de Cristo Teu Filho
Ámen!

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