Sónia Sanfona,deputada e candidata do PS à Câmara de Alpiarça, concorda com a proibição das duplas candidaturas mas critica a altura em que o PS tomou a decisão.
Correio da Manhã/Rádio Clube – Gostou que lhe chamassem sereia na comissão de inquérito ao caso BPN?
Sónia Sanfona – Não dei grande importância, confesso-lhe. Acho que foi um mimo, não foi com intenção de qualquer tipo. Até porque conheço há algum tempo o deputado Nuno Melo e sei que não tinha qualquer intenção negativa.
ARF – Foi uma despedida simpática.
- Exactamente.
ARF – A comissão de inquérito morreu na praia, como diz Miguel Cadilhe?
- Não partilho nada dessa opinião. É claro que as posições da oposição têm razão de ser. Está subjacente àquilo que foi o fio condutor da sua actividade na comissão de inquérito e que se funda no propósito de criar condições para se encontrar um culpado no Banco de Portugal e que esse culpado se chamasse Vítor Constâncio. Procuraram por esta via, e esta é única via de destituir ou fazer demitir o governador do Banco de Portugal. E procuraram sempre atingir este propósito.
ARF – Mas a supervisão falhou de facto, ou não?
- Eu reconheço no relatório que a supervisão bancária em geral falhou e falhou por todo o mundo.
BHS – Mas essas falhas não são suficientes para levar á demissão de Vítor Constâncio?
- Não, porque estamos a falar numa falha sistémica. Ou seja, a supervisão funciona em todos os países com regras transversais, que se baseiam na confiança. E este modelo de supervisão falhou em todo o lado.
ARF – Em Portugal aconteceu o caso BCP, depois o BPN e o BPP. Não acha que as pessoas perderam a confiança no sistema bancário e na supervisão?
- Acho que sim. Estes casos contribuíram de forma determinante para que hoje em dia a população se sinta muita desconfiada deste sistema e até da supervisão. Por isso mesmo a supervisão, nomeadamente a nível europeu, fosse colocada sob escrutínio e se estejam a preparar novas regras comuns a todos os países.
ARF –O CDS já anunciou que vai propor uma nova comissão de inquérito na próxima legislatura. Acha que isso faz algum sentido?
- Na minha opinião não tem justificação nenhuma. Do ponto de vista do CDS bem compreendo a sua justificação. O caso BPN foi para o CDS um motor importante da sua campanha eleitoral para as eleições europeias. O CDS não ficou contente com as conclusões, queriam outras que levariam à demissão do governador do Banco de Portugal.
ARF – Faz lembrar as comissões ao caso Camarate em que as conclusões mudavam em função da maioria parlamentar.
- Exactamente. E isso contribuiu para a falta de credibilidade do Parlamento e do seu trabalho. E não é justo para os deputados que estiveram seis meses a fazer um excelente trabalho.
ARF – É deputada há quatro anos. Agora vai sair. Tem pena de abandonar o Parlamento?
- Não tenho pena.
ARF – Pena em função do trabalho que fez, vice-presidente da bancada do PS e outras coisas mais.
- Se gostei da minha experiência parlamentar gostei, gostei imenso. Tive um pequeno período de adaptação, fui muito bem recebida e julgo que o meu trabalho teve alguns frutos. E comecei na comissão parlamentar de Defesa, onde era a única mulher. Fiz um caminho de que me posso orgulhar e que não deixou mal o meu partido e o Parlamento.
ARF – E agora, quatro anos depois, vai abandonar.
- Mas sabe que eu tenho uma vantagem.
ARF – Diga.
- É que eu gosto muito de novos desafios. Gostei muito de estar no Parlamento, gosto muito do trabalho parlamentar, mas neste momento há outro desafio pela frente. E este desafio também me é muito querido.
ARF – Ficou desiludida com a decisão do PS de proibir as candidaturas simultâneas ao Parlamento e às autarquias?
- Não fiquei desiludida porque eu concordo com o princípio que está implícito nesta decisão. Não me causa especial dificuldade dizer que considero que é útil, é positivo, que cada um de nós se dedique a fazer um determinado trabalho, que se centre nele e que o eleja como um objectivo, a sua tarefa. Não tenho, por isso, qualquer dificuldade com a decisão em si. Por outro lado, não é uma decisão que me afecte a mim particularmente.
ARF – Mas não pode ser deputada porque é candidata à Câmara de Alpiarça?
- Eu assumi essa candidatura autárquica, foi a assumpção de um desafio que assumi livremente e portanto é uma decisão que não tem qualquer peso sobre mim. Agora isso não faz com que eu não tenha uma opinião e tenha tido vontade de a dar sobre o modo e o tempo em que foi tomada essa decisão. Alguns factos levam-nos a ponderar se de facto não devíamos ter tomado esta decisão há mais tempo.
ARF – É a história das regras do jogo, que foram alteradas a meio do jogo?
- É a história das regras do jogo. Acho que a transparência e o aprofundamento da democracia que o PS tem vindo a fazer há muitos anos é também melhorado se estipularmos sempre as regras no início do jogo. E na verdade é que era importante que esta decisão tivesse sido tomada antes de haver algumas excepções.
BHS – O PS foi a reboque do PSD?
- Julgo que o PS percebeu que era importante fixar cada um dos candidatos no objectivo que tinha pela frente. Não há qualquer seguidismo. A questão é que o PSD tomou esta decisão num tempo oportuno, na altura certa. O PS tomou-a numa altura que eu não considero melhor.
ARF – Tudo isto aconteceu por causa de Ana Gomes e Elisa Ferreira, eleitos deputadas europeias e que são candidatas às Câmaras de Sintra e do Porto. O PS percebeu a polémica que isto deu agora volta atrás. É isso?
- Não conheço em particular esses casos. Mas as duplas candidaturas sempre existiram. Não é uma regra nova no PS ou em outro qualquer partido. E nunca houve a sensação que isso era prejudicial. Agora houve a noção de que a população não apreciava essa situação e por isso o PS tomou essa posição.
BHS – Falando agora no País. Acha que o PS vai ter uma nova maioria absoluta?
- Acho que o eleitorado vai reconhecer o trabalho do Governo e dar uma nova maioria absoluta ao PS.
ARF – Acha que isso é importante? Sem isso é o caos?
- Não iria tão longe. O País já foi governado com governos de maioria relativa. Mas o País precisa agora de um Governo estável. Para continuarmos estas políticas e continuarmos a ser referência em algumas áreas. Pergunta-se se tudo isto pode ser desbaratado. Eu penso que não. E julgo que o País vai perceber isso.
ARF – Falou em desbaratar. Acha que os projectos do PS e do PSD são assim tão diferentes?
- Acho que são diferentes. A doutora Manuela Ferreira Leite já anunciou que vai rasgar todas as políticas do PS.
ARF – Já emendou essa afirmação.
- Mas contra factos não há argumentos. As imagens e a voz estão lá. E a verdade é essa. Apesar de haver em certas áreas algumas aproximações ideológicas, no âmbito da social-democracia.
ARF – Essas zonas comuns podem permitir um novo Bloco Central?
- Não acho nada possível e acho que o País fica a perder muito se permitir que a doutora Manuela Ferreira Leite seja a nova primeira-ministra de Portugal.
PERFIL
Sónia Isabel Fernandes Sanfona cruz mendes nasceu em Alpiarça no dia 10 de Dezembro de 1971. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Coimbra, advogada, foi eleita deputada em 2005 e é candidata do PS a Alpiarça.
2 comentários:
Opiniões do SOL e do EXPRESSO:
“Todos podem aspirar aos seus 15 minutos de glória. A deputada teve esta semana os seus, embora pelas razões erradas: protestou contra a proibição de duplas candidaturas (autárquicas e legislativas) e, como se não bastasse, escreveu um relatório final do inquérito ao caso BPN que mais parece ter saído do punho do próprio governador Vítor Constâncio.”
Martim Silva, In jornal “Expresso”.
“Viveu uma semana duplamente desastrosa. Foi alvo de todas as críticas pelo alinhamento com a versão e as conveniências da direcção do PS no relatório que fez do inquérito parlamentar ao BPN – defensor da ortodoxia governamental e desculpabilizador para as falhas de supervisão do Banco de Portugal e de Vítor Constâncio. Por outro lado foi uma das vítimas da proibição de duplas candidaturas no PS e não escondeu o desagrado, antevendo já uma derrota autárquica em Alpiarça e a perda do lugar de deputada. Ficou a perceber melhor o que é a ingratidão em politica.”
José António Lima, In jornal “Sol”.
Depois de ler esta entrevista e reconhecendo que estou completamente em desacordo com aa opiniões de Sónia Sanfona sobre as políticas que apoia, decidi que esta não é a candidata que leva o meu voto. Gosto da pessoa mas não da política.
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