Cíclica e repetidamente, os partidos do bloco central de interesses, trazem á tona o magno problema da ligação dos eleitos aos eleitores.
Fazem-no com o propósito de alterar a legislação eleitoral através da criação dos chamados círculos uninominais (menos deputados, mais círculos eleitorais). Segundo eles, desta forma, através da eleição directa do deputado por um número reduzido de leitores, os cidadãos poderiam fiscalizar melhor os seus representantes e os deputados estariam obrigados a prestar contas do seu trabalho…
Tratam-se argumentos falaciosos e enganadores.
Vejamos este exemplo: Uma determinada pessoa, candidata do partido que vem a ganhar as eleições, é eleita por esse tal círculo. Essa pessoa é convidada para um qualquer lugar no governo que sai dessa maioria. Aceita. Dessa forma abandona o Parlamento dando lugar ao segundo da lista… que não foi eleito! Lá se vai a representação directa…
Por outro lado, se esses argumentos fossem para levar a sério, os mesmos partidos do sistema não se esforçavam tanto por fazer crer aos cidadãos que nas próximas eleições se vai eleger um primeiro-ministro. È que efectivamente vão ser eleitos 230 deputados. Da distribuição desses deputados pelos vários partidos sairão as maiorias que viabilizam e sustentam o governo. Pode até acontecer que o partido mais votado não venha a formar governo, logo o seu candidato a primeiro-ministro não passou de um candidato…para inglês ver…
Uns por manifesta má fé, outros por ignorância, fazem juízos apressados sobre a natureza da actividade parlamentar.
É certo que muitos dos 230 deputados não chegam a dar um ar da sua graça.
Mas não são todos iguais. Insisto.
Não resisto a contar uma história verdadeira:
Há alguns anos atrás, a CDU deixou de ter um deputado eleito pelo distrito de Braga (voltou a recuperá-lo no mandato seguinte, diga-se). Logo no dia seguinte ás eleições, um grupo de trabalhadores de uma determinada empresa têxtil, confrontado com o encerramento da sua empresa (isto acontece muitas vezes após as eleições…), dirigiu-se à sede do PCP em Braga para contactar com o deputado do PCP (que, como vimos, já não o era…) para que este levasse o seu problema à Assembleia da República, como tantas vezes o fez e faz…
Onde é que eu quero chegar?
Aqueles trabalhadores não foram contactar com outros deputados de outros partidos, porquê? Porque sabiam, de experiência vivida que eram os comunistas que se interessavam pelos seus problemas e não outros!
E, neste caso concreto, como em muitos outros, foi o PCP, apesar de não ter deputado eleito por Braga que levou os problemas daquela empresa à Assembleia da República!
Um outro traço distintivo da actividade dos deputados comunistas é que não andam pelo país apenas quando se aproximam as eleições…
Uma consulta à actividade dos deputados do PCP nesta legislatura, prova-o.
Onde há um problema, há um deputado do PCP.
Onde há um problema, há uma pergunta, um requerimento, uma intervenção no Plenários ou nas respectivas Comissões Parlamentares.
Muita dessa actividade não é conhecida.
A comunicação social dominante, entretém-se muitas das vezes com as picardias, os rasgos de retórica e muito pouco com aquilo que mais respeito diz ás pessoas.
Mesmo sabendo que muitas das nossas actividades e iniciativas não têm qualquer reflexo mos média, pautamos a nossa acção pelo que entendemos que deve ser dito e por aquilo que deve ser feito, independentemente da sua projecção na comunicação social.
Falemos de um exemplo no distrito de Santarém.
È sabido que os trabalhadores da Platex têm passado por momentos bastante difíceis.
Estiveram em Vigília durante muitos dias á porta da empresa. Quem organizou a solidariedade com esses trabalhadores desde a primeira noite, nomeadamente na confecção solidária de refeições? Quem esteve, sempre, SEMPRE, presente enquanto os trabalhadores se mantiveram à porta da empresa, 24 sobre 24 horas? O PCP.
Quem, estando de visita ao distrito, após o almoço em Alpiarça, se deslocou a Tomar para prestar solidariedade àqueles trabalhadores, mesmo sabendo que a comunicação social não a iria acompanhar? Ilda Figueiredo.
De tudo o que aqui se disse, nem uma linha, uma imagem passou na comunicação social nacional e regional.
Octávio Augusto