Por: Antonieta Dias (*) |
O pé do diabético é uma
complicação frequente no doente diabético, algumas vezes de difícil resolução
pelo impacto e pela gravidade das lesões que podem evoluir para a cronicidade
devido à fragilidade e vulnerabilidade da resposta imunológica, bem como pelo
diagnóstico tardio da doença, que nalguns casos já se encontra em fase
avançada, acarretando só por si sérios problemas para as vítimas, que apesar
dos tratamentos adequados que lhes são efetuados, não conseguem libertar-se
facilmente deste grave problema.
Assim, tendo em conta estes
pressupostos, há que aconselhar os doentes, para os ajudar a prevenir ou
minimizar este evento.
É-lhes exigido um estilo de vida
saudável, de tal forma assertivo, que lhes permita manter os níveis de glicemia
aceitáveis (normais). Esta recomendação deve ser entendida pelo doente
diabético como uma medida prioritária para estabelecer um bom prognóstico.
Outras doenças estão muitas vezes
associadas à diabetes, sendo então, o papel do médico ainda mais interventivo
para conseguir controlar todos os parâmetros que envolvem a complexa decisão clínica
no tratamento atempado e sobretudo no investimento para a educação do doente e para
a necessidade de o envolver activamente no tratamento da sua doença e/ das
outras patologias que podem estar associadas.
Sem a motivação e a adesão do
paciente não atingiremos os objetivos, e muito menos conseguiremos nivelar,
padronizar, ou normalizar os valores da tensão arterial e do colesterol, que
são doenças muito frequentes neste grupo de doentes.
Estabilizar os parâmetros da
glicemia, é uma meta a atingir o mais rapidamente possível.
A diabetes é uma doença que cursa
com várias outras complicações, designadamente as oculares (retinopatia
diabética), as vasculares e as renais(nefropatia diabética).
Para ajudar estes doentes a minimizar
os efeitos adversos destas situações, devemos estabelecer um plano de
tratamento, onde se inclui a educação do diabético, isto é, ensiná-lo a avaliar
a sua glicemia, a tomar os seus medicamentos de forma adequada, a investir na
qualidade da sua alimentação, promovendo os hábitos alimentares com refeições
regulares à base de alimentos saudáveis, ricos em vegetais, fibras, frutas
naturais e pobres em gorduras e sal.
Estes alimentos devem ser
ingeridos diariamente.
Outro investimento importante é ensinar
o diabético a examinar os seus pés diariamente, preferencialmente à noite.
O doente diabético devido à
neuropatia diabética, tem diminuição da sensibilidade, estando por isso mais
susceptível ao aparecimento de lesões, pelo que o paciente deve ser esclarecido
sobre a vantagem da necessidade de observar diariamente os seus pés, para verificar
se não tem feridas, se não tem cortes, manchas vermelhas ou edemas.
Aqui também se inclui a
observação das unhas, que deve ser feita de forma minuciosa para verificar se
não estão infectadas, devendo aconselha-lho a fazer uma boa higienização dos pés,
que deverão lavados diariamente com água morna, numa temperatura entre os 32 e
35º (nunca usar água quente pelo risco de queimaduras), obrigando a uma prévia
confirmação da temperatura da água, podendo para o efeito usar um termómetro.
O banho deve ser suave e curto,
para não secar muito a pele, impedir que os pés permaneçam húmidos durante
muito tempo, pois a humidade é um foco de proliferação de infeções, nomeadamente
fúngicas.
No fim da higiene dos pés o
doente deverá secá-los muito bem, tendo especial atenção para os espaços
interdigitais, esfregando-os sempre na mesma direção para evitar ferir a pele.
O uso de um creme ou loção, no
final da higiene dos pés, tornará mais macia a pele, devendo o mesmo ser
aplicado na região dorsal e plantar dos pés. O creme não deve ser aplicado nos
espaços interdigitais, pelo risco de infeção.
É ainda uma grande preocupação do
médico incentivar a doente diabético a deixar de fumar, tendo em conta que
fumar reduz o fluxo de sangue para os pés podendo agravar ainda mais as lesões
pelo facto de o paciente ter menos percepção dolorosa, devido às alterações da
sensibilidade que cursam com esta doença.
Faz ainda parte da terapêutica
médica promover e incentivar o paciente para a vantagem de fazer uma consulta
de rotina anual nas especialidades de oftalmologia e de estomatologia.
Sem prejuízo de outras
informações complementares, deve o médico estimular o doente para a prática de
exercício físico que deve ser realizado de forma regular, adaptado aos gostos
do paciente e às suas características individuais.
Compete ainda ao médico assegurar
e estabelecer um plano de atividade física, respeitando as motivações
desportivas e as condições pessoais vivenciadas por estes doentes.
Caminhar, andar de bicicleta,
nadar são atividades físicas que não causam sobrecarga aos pés, sendo por isso
aconselhadas.
Correr e saltar são exercícios a
evitar pela sobrecarga que causam nos pés.
No caso em apreço, em circunstância
nenhuma deve ser esquecido o prévio aquecimento antes de realizar qualquer
atividade física, bem como estimular o relaxamento pós exercício.
Nos conselhos para a prática
desportiva inclui-se o aconselhamento do tipo de calçado, que deve ser adaptado
ao exercício praticado, com sapatos bem ajustados aos pés de forma a permitir o
um apoio adequado dos mesmos.
Preconiza-se ainda que o doente diabético
deverá ter o seu dossier médico em
arquivo personalizado e na sua posse, para poder rapidamente aceder aos dados
clínicos e fornecê-los de imediato ao médico examinador que o assiste naquele
momento.
Sempre que exista uma limitação
funcional que impeça o paciente de fazer uma observação cuidadosa dos pés,
deverá o mesmo ser aconselhado a munir-se de um espelho para o auxiliar, ou
então solicitar a ajuda de uma terceira pessoa que o auxilie nessa tarefa.
Estes casos vão ainda necessitar
do apoio de uma terceira pessoa para os ajudar a cortar as unhas, devendo ser
alertados para fazerem uma observação detalhada da coloração e da consistência
das unhas, sendo que unhas amarelas e finas podem encravar facilmente.
Relativamente aos cuidados a ter
com as unhas, estas devem ser cortadas preferencialmente com um corta unhas de
forma reta, preservando o corte dos cantos pelo risco de infeções,
posteriormente limadas com uma lima suave, devendo ter a precaução de lavar e
secar bem os pés, no fim deste procedimento.
Importa, ainda referir que sempre
que existam calosidades, o médico poderá orientar o doente para o uso de pedra
– pomes, destinada a amolecer as calosidades com posterior referenciação do
doente desde que justificável para uma consulta de podologia, a fim de que o
podologista oriente adequadamente o doente.
Como contra-indicações formais
inclui-se o corte dos calos com lâminas, o uso de pensos calicidas, pelo risco
de lesionar a pele.
Os pés devem ser protegidos do
frio e do calor devendo utilizar-se sapatos na praia e nos pavimentos quentes.
Sempre que os doentes se expõem ao
sol, devem usar um creme protetor solar, no dorso e na região plantar para
evitar as queimaduras.
Nas situações de frio, o doente
diabético não deve usar botijas, sacos de água quente ou compressas quentes
sobre os pés, e deve ainda evitar aproximar-se da lareira e dos radiadores pelo
perigo das queimaduras.
Se o doente diabético tiver
arrefecimento dos pés durante a noite deverá protegê-los com meias ou botas de
lã macia para os manter quentes.
Estes doentes devem ser alertados
para a necessidade de observar várias vezes os pés para evitar o arrefecimento
e o aparecimento de frieiras.
O doente diabético deve ter
especial atenção para as meias e para o calçado que usa, devendo as meias ser macias,
de algodão, leves, que não sejam apertadas e que se ajustem bem aos pés e
sobretudo não devem ter costuras.
Os sapatos devem ser confortáveis,
evitando sapatos de plástico ou de vinul, por impedirem uma boa respiração dos
pés e pelo fato de serem pouco maleáveis, podem levar ao aparecimento de
bolhas.
Todo o diabético deve ter cuidado
em examinar sempre o interior dos sapatos antes de os calçar, com o objetivo de
verificar se não existe nenhum objeto dentro do calçado e de confirmar se a
sola se encontra lisa.
O tipo de sapato deve permitir um
bom apoio do pé, devem ser de consistência maleável mas suficientemente
resistente para proteger os pés.
Recomendações para a manutenção
de uma boa circulação sanguínea dos pés:
1-Sempre que o doente estiver
sentado deve elevar os pés com apoio gemelar a 45º.
2-Massajar duas a três vezes por
dia durante cinco minutos os dedos dos pés.
3-Mobilizar os calcanhares várias
vezes para estimular a circulação sanguínea das pernas e pés.
4-Evitar manter as pernas
cruzadas durante muito tempo.
Em suma, apesar da simplicidade
contida nestes conselhos, devido à sua importância na prevenção de lesões, faz
parte da leges artis, que o profissional médico com competência para o efeito, terá
obrigatoriamente de alertar o doente diabético para a prevenção e minimização
do risco de lesões graves dos pés aconselhando-o a recorrer a uma observação
medica sempre que tiver qualquer lesão dos pés.
Este procedimento irá diminuir a
probabilidade do agravamento das lesões e permitirá intervir atempadamente no
seu tratamento.
Por fim alertar para a
necessidade de uma periodicidade de vigilância anual do pé do diabético mesmo que
não haja ocorrência de lesões.
Ensinar o doente diabético a
cuidar bem dos seus pés e a tomar medidas antecipatórias, evitando o
aparecimento de lesões é um dever de qualquer profissional medico que assiste o
doente diabético.
(*) Doutorada em medicina
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