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domingo, 16 de dezembro de 2012

SAÚDE: O pé do diabético


Por: Antonieta Dias (*)

O pé do diabético é uma complicação frequente no doente diabético, algumas vezes de difícil resolução pelo impacto e pela gravidade das lesões que podem evoluir para a cronicidade devido à fragilidade e vulnerabilidade da resposta imunológica, bem como pelo diagnóstico tardio da doença, que nalguns casos já se encontra em fase avançada, acarretando só por si sérios problemas para as vítimas, que apesar dos tratamentos adequados que lhes são efetuados, não conseguem libertar-se facilmente deste grave problema.
Assim, tendo em conta estes pressupostos, há que aconselhar os doentes, para os ajudar a prevenir ou minimizar este evento.
É-lhes exigido um estilo de vida saudável, de tal forma assertivo, que lhes permita manter os níveis de glicemia aceitáveis (normais). Esta recomendação deve ser entendida pelo doente diabético como uma medida prioritária para estabelecer um bom prognóstico.
Outras doenças estão muitas vezes associadas à diabetes, sendo então, o papel do médico ainda mais interventivo para conseguir controlar todos os parâmetros que envolvem a complexa decisão clínica no tratamento atempado e sobretudo no investimento para a educação do doente e para a necessidade de o envolver activamente no tratamento da sua doença e/ das outras patologias que podem estar associadas.
Sem a motivação e a adesão do paciente não atingiremos os objetivos, e muito menos conseguiremos nivelar, padronizar, ou normalizar os valores da tensão arterial e do colesterol, que são doenças muito frequentes neste grupo de doentes.
Estabilizar os parâmetros da glicemia, é uma meta a atingir o mais rapidamente possível.
A diabetes é uma doença que cursa com várias outras complicações, designadamente as oculares (retinopatia diabética), as vasculares e as renais(nefropatia diabética).
Para ajudar estes doentes a minimizar os efeitos adversos destas situações, devemos estabelecer um plano de tratamento, onde se inclui a educação do diabético, isto é, ensiná-lo a avaliar a sua glicemia, a tomar os seus medicamentos de forma adequada, a investir na qualidade da sua alimentação, promovendo os hábitos alimentares com refeições regulares à base de alimentos saudáveis, ricos em vegetais, fibras, frutas naturais e pobres em gorduras e sal.
Estes alimentos devem ser ingeridos diariamente.
Outro investimento importante é ensinar o diabético a examinar os seus pés diariamente, preferencialmente à noite.
O doente diabético devido à neuropatia diabética, tem diminuição da sensibilidade, estando por isso mais susceptível ao aparecimento de lesões, pelo que o paciente deve ser esclarecido sobre a vantagem da necessidade de observar diariamente os seus pés, para verificar se não tem feridas, se não tem cortes, manchas vermelhas ou edemas.
Aqui também se inclui a observação das unhas, que deve ser feita de forma minuciosa para verificar se não estão infectadas, devendo aconselha-lho a fazer uma boa higienização dos pés, que deverão lavados diariamente com água morna, numa temperatura entre os 32 e 35º (nunca usar água quente pelo risco de queimaduras), obrigando a uma prévia confirmação da temperatura da água, podendo para o efeito usar um termómetro.
O banho deve ser suave e curto, para não secar muito a pele, impedir que os pés permaneçam húmidos durante muito tempo, pois a humidade é um foco de proliferação de infeções, nomeadamente fúngicas.
No fim da higiene dos pés o doente deverá secá-los muito bem, tendo especial atenção para os espaços interdigitais, esfregando-os sempre na mesma direção para evitar ferir a pele.
O uso de um creme ou loção, no final da higiene dos pés, tornará mais macia a pele, devendo o mesmo ser aplicado na região dorsal e plantar dos pés. O creme não deve ser aplicado nos espaços interdigitais, pelo risco de infeção.
É ainda uma grande preocupação do médico incentivar a doente diabético a deixar de fumar, tendo em conta que fumar reduz o fluxo de sangue para os pés podendo agravar ainda mais as lesões pelo facto de o paciente ter menos percepção dolorosa, devido às alterações da sensibilidade que cursam com esta doença.
Faz ainda parte da terapêutica médica promover e incentivar o paciente para a vantagem de fazer uma consulta de rotina anual nas especialidades de oftalmologia e de estomatologia.
Sem prejuízo de outras informações complementares, deve o médico estimular o doente para a prática de exercício físico que deve ser realizado de forma regular, adaptado aos gostos do paciente e às suas características individuais.
Compete ainda ao médico assegurar e estabelecer um plano de atividade física, respeitando as motivações desportivas e as condições pessoais vivenciadas por estes doentes.
Caminhar, andar de bicicleta, nadar são atividades físicas que não causam sobrecarga aos pés, sendo por isso aconselhadas.
Correr e saltar são exercícios a evitar pela sobrecarga que causam nos pés.
No caso em apreço, em circunstância nenhuma deve ser esquecido o prévio aquecimento antes de realizar qualquer atividade física, bem como estimular o relaxamento pós exercício.
Nos conselhos para a prática desportiva inclui-se o aconselhamento do tipo de calçado, que deve ser adaptado ao exercício praticado, com sapatos bem ajustados aos pés de forma a permitir o um apoio adequado dos mesmos.
Preconiza-se ainda que o doente diabético deverá ter o seu dossier médico em arquivo personalizado e na sua posse, para poder rapidamente aceder aos dados clínicos e fornecê-los de imediato ao médico examinador que o assiste naquele momento.
Sempre que exista uma limitação funcional que impeça o paciente de fazer uma observação cuidadosa dos pés, deverá o mesmo ser aconselhado a munir-se de um espelho para o auxiliar, ou então solicitar a ajuda de uma terceira pessoa que o auxilie nessa tarefa.
Estes casos vão ainda necessitar do apoio de uma terceira pessoa para os ajudar a cortar as unhas, devendo ser alertados para fazerem uma observação detalhada da coloração e da consistência das unhas, sendo que unhas amarelas e finas podem encravar facilmente.
Relativamente aos cuidados a ter com as unhas, estas devem ser cortadas preferencialmente com um corta unhas de forma reta, preservando o corte dos cantos pelo risco de infeções, posteriormente limadas com uma lima suave, devendo ter a precaução de lavar e secar bem os pés, no fim deste procedimento.
Importa, ainda referir que sempre que existam calosidades, o médico poderá orientar o doente para o uso de pedra – pomes, destinada a amolecer as calosidades com posterior referenciação do doente desde que justificável para uma consulta de podologia, a fim de que o podologista oriente adequadamente o doente.
Como contra-indicações formais inclui-se o corte dos calos com lâminas, o uso de pensos calicidas, pelo risco de lesionar a pele.
Os pés devem ser protegidos do frio e do calor devendo utilizar-se sapatos na praia e nos pavimentos quentes.
Sempre que os doentes se expõem ao sol, devem usar um creme protetor solar, no dorso e na região plantar para evitar as queimaduras.
Nas situações de frio, o doente diabético não deve usar botijas, sacos de água quente ou compressas quentes sobre os pés, e deve ainda evitar aproximar-se da lareira e dos radiadores pelo perigo das queimaduras.
Se o doente diabético tiver arrefecimento dos pés durante a noite deverá protegê-los com meias ou botas de lã macia para os manter quentes.
Estes doentes devem ser alertados para a necessidade de observar várias vezes os pés para evitar o arrefecimento e o aparecimento de frieiras.
O doente diabético deve ter especial atenção para as meias e para o calçado que usa, devendo as meias ser macias, de algodão, leves, que não sejam apertadas e que se ajustem bem aos pés e sobretudo não devem ter costuras.
Os sapatos devem ser confortáveis, evitando sapatos de plástico ou de vinul, por impedirem uma boa respiração dos pés e pelo fato de serem pouco maleáveis, podem levar ao aparecimento de bolhas.
Todo o diabético deve ter cuidado em examinar sempre o interior dos sapatos antes de os calçar, com o objetivo de verificar se não existe nenhum objeto dentro do calçado e de confirmar se a sola se encontra lisa.
O tipo de sapato deve permitir um bom apoio do pé, devem ser de consistência maleável mas suficientemente resistente para proteger os pés.
Recomendações para a manutenção de uma boa circulação sanguínea dos pés:
1-Sempre que o doente estiver sentado deve elevar os pés com apoio gemelar a 45º.
2-Massajar duas a três vezes por dia durante cinco minutos os dedos dos pés.
3-Mobilizar os calcanhares várias vezes para estimular a circulação sanguínea das pernas e pés.
4-Evitar manter as pernas cruzadas durante muito tempo.
Em suma, apesar da simplicidade contida nestes conselhos, devido à sua importância na prevenção de lesões, faz parte da leges artis, que o profissional médico com competência para o efeito, terá obrigatoriamente de alertar o doente diabético para a prevenção e minimização do risco de lesões graves dos pés aconselhando-o a recorrer a uma observação medica sempre que tiver qualquer lesão dos pés.
Este procedimento irá diminuir a probabilidade do agravamento das lesões e permitirá intervir atempadamente no seu tratamento.
Por fim alertar para a necessidade de uma periodicidade de vigilância anual do pé do diabético mesmo que não haja ocorrência de lesões.
Ensinar o doente diabético a cuidar bem dos seus pés e a tomar medidas antecipatórias, evitando o aparecimento de lesões é um dever de qualquer profissional medico que assiste o doente diabético.
(*) Doutorada em medicina

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