Subsídios para compreender a morte de Manuel Vital
Para satisfazer a curiosidade de alguns leitores do Jornal Alpiarcense acerca da morte misteriosa do nosso conterrâneo Manuel Vital, encontrámos, depois de alguma pesquisa na Net, no site: “Estudos sobre o Comunismo”, algumas referências a Manuel Vital. É nossa intenção apenas contribuir com alguma luz para o esclarecimento da veracidade dos factos.
Naturalmente que estas ténues referências não são suficientes para compreender o que sucedeu a Manuel Vital ou o que deu origem à sua morte. No entanto, será uma pequena contribuição para essa investigação.
A organização do Partido Comunista Português, terá certamente respostas mais valiosas e fidedignas para dar acerca deste caso. Assim o queira fazer.
“Alhandra, 1/3/1923 – 5/5/2004)
Severiano Pedro Falcão, que tinha a alcunha de “Espanhol”, era filho de um “trabalhador sem profissão”, e de uma “operária têxtil”, que descreveu como “pessoas sérias” embora desinteressadas da política. Seus irmãos, pelo contrário, já tinham interesse pela política. Frequentou a escola primária e começou a trabalhar muito cedo numa oficina, cujo patrão era simpatizante dos republicanos espanhóis. Foi mudando de oficina e ofício em função das dificuldades. A sua profissão oficial era de carpinteiro, mas sempre se considerou marceneiro.
Jovem nos meios operários de Alhandra foi desportista e músico amador,– tocava clarinete na Sociedade Euterpe - , participou em actividades animadas por Soeiro Pereira Gomes. Foi recrutado para as Juventudes Comunistas em 1942 e permaneceu nessa situação até 1944, altura em que entrou para um organismo partidário. Depois das greves de 8 e 9 de Maio de 1944, foi chamado ao CL de Alhandra (?) para substituir elementos que tinham sido presos. Participou em actividades sindicais mas o seu nome era vetado pela PIDE para cargos nos Sindicatos. Em 1947, passou a ser membro do CR do Ribatejo e, nessa qualidade, participou, no ano seguinte, na agitação legal e semi-legal em apoio à candidatura do General Norton de Matos para a Presidência da República.
Quando morreu Soeiro Pereira Gomes, participou na organização da manifestação que se realizou quando da passagem do seu funeral em Alhandra, em 7 de Dezembro de 1949, e escreveu um texto distribuído na altura. Essas actividades colocaram-no em risco de ser preso. Passa à clandestinidade em fins de Dezembro de 1949.
O período em que passa à clandestinidade é dos mais críticos da história do PCP, ameaçado quase de desaparição por uma sucessão de traições e pela acção eficaz da PIDE. Falcão, com o pseudónimo de “Artur”, foi tomar conta de organizações em situação crítica no Alto e Baixo Alentejo. Substituindo Manuel Vital /”Teixeira”, assassinado pelo partido, e posteriormente Agostinho Saboga /”Jaime”, trabalhou numa zona muito afectada por prisões e traições. Um ano depois de passar à clandestinidade, foi vítima de uma traição e preso com a sua mulher Maria Beatriz Rodrigues, e um filho com três anos, numa casa na Amora/Seixal, a 30 de Dezembro de 1950.
Foi preso pela mais eficaz e brutal brigada da PIDE na perseguição ao PCP, que incluía José Gonçalves e Fernando Gouveia, e que estava envolvida na investigação do assassinato de Manuel Vital. Gouveia acusou-o imediatamente de ser responsável pelo assassinato de Vital. Após um período inicial em que Falcão não foi maltratado, a PIDE iria tortura-lo com mais violência do que era habitual. Foi espancado e colocado várias vezes de cabeça para baixo, provocando desmaios. Estas violências tem certamente a ver com a convicção da polícia de que Falcão, tendo substituído Vital, deveria conhecer as circunstâncias em que este fora morto. Severiano Falcão não prestou quaisquer declarações.
Condenado, foi enviado para Peniche de onde saiu em 1956. Voltou a trabalhar, agora na construção civil, passando a dirigir obras em Lisboa. Retoma o contacto com o PCP e participa na campanha de Humberto Delgado. É preso de novo em 21 de Agosto de 1958, julgado e condenado como militante do PCP. Volta à cadeia de onde só sai em 1966.
Regressa a Alhandra e vai trabalhar para uma empresa de Lisboa. Falcão era agora medidor e orçamentista e estudara na cadeia o método PERT de que era considerado especialista. Participou profissionalmente em obras da TAP no aeroporto e, à data do 25 de Abril, trabalhava na grande empresa de construção civil “Joaquim Francisco dos Santos”.
Depois do 25 de Abril, Severiano Falcão foi membro do CC de 1976 a 1992, deputado na Assembleia da República, de 1976 a 1979, onde foi vice-presidente da Comissão Especial de Trabalho. Em 1979, foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Loures, reeleito várias vezes , até que renunciou ao cargo em Novembro de 1990. O seu afastamento da Câmara, contra a sua vontade e pressionado pelo PCP, foi-lhe muito penoso, e não se coibia de manifestar a sua “insatisfação” com o modo como fora tratado. No entanto, apoiou o candidato do PCP a Loures em 1993.
Fontes:
F. (Severiano Pedro Falcão?), Queridos camaradas..., 1/5/54
"Artur" / Severiano Pedro Falcão, Queridos camaradas , s/d,
PIDE / DGS, Processo 314/50, NT 5051
Severiano Falcão, “Depoimento sobre Soeiro Pereira Gomes”, Diário 12/4/1981
Ruben de Carvalho, “E disse-me Severiano…”, Avante!, , 29/11/1990
Público , 6/5/2004
Avante!, 6/5/2004
Tribuna de Loures”e Revista Figura Online “
Nota marginal do repórter:
A própria PIDE (DGS) andaria a fazer uma investigação das causas que levaram ao assassinato de Manuel Vital (o Teixeira), sendo sua convicção de que, Severiano Pedro Falcão (o Artur ou espanhol) estaria envolvido na sua eliminação, ou conhecer as circunstâncias em que fora morto, uma vez que Falcão viria a ocupar o seu lugar nas funções do Partido.
Por: Repórter Y
Naturalmente que estas ténues referências não são suficientes para compreender o que sucedeu a Manuel Vital ou o que deu origem à sua morte. No entanto, será uma pequena contribuição para essa investigação.
A organização do Partido Comunista Português, terá certamente respostas mais valiosas e fidedignas para dar acerca deste caso. Assim o queira fazer.
“Alhandra, 1/3/1923 – 5/5/2004)
Severiano Pedro Falcão, que tinha a alcunha de “Espanhol”, era filho de um “trabalhador sem profissão”, e de uma “operária têxtil”, que descreveu como “pessoas sérias” embora desinteressadas da política. Seus irmãos, pelo contrário, já tinham interesse pela política. Frequentou a escola primária e começou a trabalhar muito cedo numa oficina, cujo patrão era simpatizante dos republicanos espanhóis. Foi mudando de oficina e ofício em função das dificuldades. A sua profissão oficial era de carpinteiro, mas sempre se considerou marceneiro.
Jovem nos meios operários de Alhandra foi desportista e músico amador,– tocava clarinete na Sociedade Euterpe - , participou em actividades animadas por Soeiro Pereira Gomes. Foi recrutado para as Juventudes Comunistas em 1942 e permaneceu nessa situação até 1944, altura em que entrou para um organismo partidário. Depois das greves de 8 e 9 de Maio de 1944, foi chamado ao CL de Alhandra (?) para substituir elementos que tinham sido presos. Participou em actividades sindicais mas o seu nome era vetado pela PIDE para cargos nos Sindicatos. Em 1947, passou a ser membro do CR do Ribatejo e, nessa qualidade, participou, no ano seguinte, na agitação legal e semi-legal em apoio à candidatura do General Norton de Matos para a Presidência da República.
Quando morreu Soeiro Pereira Gomes, participou na organização da manifestação que se realizou quando da passagem do seu funeral em Alhandra, em 7 de Dezembro de 1949, e escreveu um texto distribuído na altura. Essas actividades colocaram-no em risco de ser preso. Passa à clandestinidade em fins de Dezembro de 1949.
O período em que passa à clandestinidade é dos mais críticos da história do PCP, ameaçado quase de desaparição por uma sucessão de traições e pela acção eficaz da PIDE. Falcão, com o pseudónimo de “Artur”, foi tomar conta de organizações em situação crítica no Alto e Baixo Alentejo. Substituindo Manuel Vital /”Teixeira”, assassinado pelo partido, e posteriormente Agostinho Saboga /”Jaime”, trabalhou numa zona muito afectada por prisões e traições. Um ano depois de passar à clandestinidade, foi vítima de uma traição e preso com a sua mulher Maria Beatriz Rodrigues, e um filho com três anos, numa casa na Amora/Seixal, a 30 de Dezembro de 1950.
Foi preso pela mais eficaz e brutal brigada da PIDE na perseguição ao PCP, que incluía José Gonçalves e Fernando Gouveia, e que estava envolvida na investigação do assassinato de Manuel Vital. Gouveia acusou-o imediatamente de ser responsável pelo assassinato de Vital. Após um período inicial em que Falcão não foi maltratado, a PIDE iria tortura-lo com mais violência do que era habitual. Foi espancado e colocado várias vezes de cabeça para baixo, provocando desmaios. Estas violências tem certamente a ver com a convicção da polícia de que Falcão, tendo substituído Vital, deveria conhecer as circunstâncias em que este fora morto. Severiano Falcão não prestou quaisquer declarações.
Condenado, foi enviado para Peniche de onde saiu em 1956. Voltou a trabalhar, agora na construção civil, passando a dirigir obras em Lisboa. Retoma o contacto com o PCP e participa na campanha de Humberto Delgado. É preso de novo em 21 de Agosto de 1958, julgado e condenado como militante do PCP. Volta à cadeia de onde só sai em 1966.
Regressa a Alhandra e vai trabalhar para uma empresa de Lisboa. Falcão era agora medidor e orçamentista e estudara na cadeia o método PERT de que era considerado especialista. Participou profissionalmente em obras da TAP no aeroporto e, à data do 25 de Abril, trabalhava na grande empresa de construção civil “Joaquim Francisco dos Santos”.
Depois do 25 de Abril, Severiano Falcão foi membro do CC de 1976 a 1992, deputado na Assembleia da República, de 1976 a 1979, onde foi vice-presidente da Comissão Especial de Trabalho. Em 1979, foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Loures, reeleito várias vezes , até que renunciou ao cargo em Novembro de 1990. O seu afastamento da Câmara, contra a sua vontade e pressionado pelo PCP, foi-lhe muito penoso, e não se coibia de manifestar a sua “insatisfação” com o modo como fora tratado. No entanto, apoiou o candidato do PCP a Loures em 1993.
Fontes:
F. (Severiano Pedro Falcão?), Queridos camaradas..., 1/5/54
"Artur" / Severiano Pedro Falcão, Queridos camaradas , s/d,
PIDE / DGS, Processo 314/50, NT 5051
Severiano Falcão, “Depoimento sobre Soeiro Pereira Gomes”, Diário 12/4/1981
Ruben de Carvalho, “E disse-me Severiano…”, Avante!, , 29/11/1990
Público , 6/5/2004
Avante!, 6/5/2004
Tribuna de Loures”e Revista Figura Online “
Nota marginal do repórter:
A própria PIDE (DGS) andaria a fazer uma investigação das causas que levaram ao assassinato de Manuel Vital (o Teixeira), sendo sua convicção de que, Severiano Pedro Falcão (o Artur ou espanhol) estaria envolvido na sua eliminação, ou conhecer as circunstâncias em que fora morto, uma vez que Falcão viria a ocupar o seu lugar nas funções do Partido.
Por: Repórter Y
NR: Ao nosso colaborador os nossos agradecimentos pelas informações prestadas como pela recolha que levou a efeito e que nos concedeu gratuitamente.
O Editor
2 comentários:
Parabéns ao Repórter Y. Um trabalho que denota grande sentido de responsabilidade e busca pela verdade histórica.
Sem dúvida, uma achega importante para mobilizar consciências e para não deixar cair no esquecimento factos históricos que devem ser contados com rigor e objectividade.
Ainda que isso doa a muita gente.
Leitor atento
Talvez um dia venhamos a saber as verdadeiras razões que levaram ao assassinato de Manuel Lopes Vital, até hoje tão envolto em mistério. Nesse dia pode ser até que sejam desvendadas também as mortes misteriosas de Amélia Celorico e Manuel Domingues (ex-membro do Comité Central do PCP).
A história tem por vezes o seu momento de verdade e lucidez que a leva a um acerto de contas com o passado.
Assim esperamos.
Leitor atento
Enviar um comentário