Artigo de Opinião
Por: Anabela Melão
Manuel Buiça e Alfredo Costa, autores do atentado contra o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, pertenciam ao Partido Republicano e à Carbonária. Esta foi o braço armado da República. Foram os carbonários que fizeram o regicídio, o que não equivale a dizer que foi a Carbonária, enquanto associação secreta, que o planeou, preparou e executou.
Falta esclarecer se o alvo foi o rei ou João Franco e se D. Carlos apenas foi um ocaso do Destino. Falta perceber se e como a morte do rei e a do herdeiro e a do príncipe Luís Filipe, já envolvido na governação, teve maiores consequências na precipitação do fim da monarquia do que a do próprio D. Carlos. Falta saber se aquele foi um acto isolado de um grupo de radicais que repugnava a monarquia, e, em especial o rei, já que, pela mesma altura, ocorreram na Europa e na América, outros casos de tiranicídios e de planos arquitectados para derrubar a monarquia.
Quando sondaram Bernardino Machado sobre a feitura do atentado contra D. Manuel II, ele falou com carbonários, como José do Vale, e compromissou-se a que a República não se construiria em cima de um crime. Desapareceu o processo de investigação que continha o inquérito policial, e perdeu-se a informação sobre como e quanto republicanos e uma dissidência progressista do sector monárquico participaram, em co-autoria, nas mortes. Quem comprou as armas e fomentou sublevações (frustradas)? Entre eles, o visconde de Ribeira Brava (bisavô de Isabel de Herédia, esposa de Duarte de Bragança). Diz-se até que esteve, conjuntamente com outros monárquicos, envolvido no regicídio, mas não há provas documentais dessas suspeitas. Após a implantação da República, o visconde assumiu um papel preponderante no Partido Democrático, acabando por ser, também ele, assassinado no tempo de Sidónio Pais, na ‘leva da morte’.
O regicídio, com ou sem direcção da Carbonária, foram carbonários que o executaram. E no 5 de Outubro de 1910 foram os carbonários que protagonizaram a firme oposição ao regime decadente da Republica. A independência destes homens era tal, que na Rotunda, foi Machado Santos, um dos três chefes máximos da Carbonária, quem comandou as hostes desiludidas das forças republicanas.
A Carbonária era mais poderosa e estendia-se a todo o País. A sua acção era contundente e eficaz. O Partido Republicano valia dezena e meia de deputados e só existia em Lisboa, Porto e outras cidades.
Pergunta-se se a Carbonária, na nossa nova nomenclatura das forças político-sociais, era um movimento terrorista? Não. A Carbonária era uma associação secreta virada para a luta política republicana. A Carbonária era republicana e revolucionária. Propunha a instauração da República pela força. Os carbonários eram homens preparados técnica e materialmente para a reivindicação armada.
Mas, acima de tudo, quem acredita na República e na mobilização das forças idealistas recusa-se a encarar a Carbonária como um movimento que planeava e concretizava actos terroristas.
Para os republicanos, a Carbonária, mais, os republicanos, prepararam a REVOLUÇÃO.
ASSIM SE MOVEM OS HOMENS PELA FORMA E PELA FORÇA DOS IDEAIS DE QUE ESTÃO CONVICTOS
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