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sábado, 1 de maio de 2010

Memórias do 1.º de Maio

Lembro-me, como hoje fosse, de quando miúdo, a caminho da escola, na minha rua (Dr. Queiroz Vaz Guedes/Rua do Jardim) ver na longa parede da “Serração da Paula” escrito a vermelho “VIVA O 1.º DE MAIO – DIA DO TRABALHADOR” para pouco depois ao entrar na Rua Direita (Rua José Relvas) ver a GNR (na frente do prédio onde esteve os “Móveis Jardim”) armados de metralhadoras e capacetes na cabeça como se em Alpiarça fosse uma «terra de bandidos».

Isto porque, durante a noite “alguém” mandava meia dúzia de foguetes para festejar a data e enchia a rua de papéis – pequenos panfletos – contra a ditadura.

Todos os anos se repetia esta cena no 1.º de Maio. Lembro-me de certo ano ter apanhado um “papel”.

Li-o, reli-o para depois mostrá-lo ao meu amigo “Jorge” que me acompanhava diariamente na ida e vinda para a Escola.

Jorge, aconselhou-me que o deitasse fora e não falasse de tal coisa a ninguém e muito menos o mostrasse a quem quer que fosse, senão a minha mãe poderia ser presa para me acrescentar que «não se fala mais nisto e estás proibido de falar a quem quer que seja» no que tinha acontecido. Acabou o sucedido com a ameaça «se falares nisto com alguém, levas uma valente carga de porrada».

O assunto “morreu” ali e naquele instante, mas tomei uma decisão - que levou algum tempo - «hei-de descobrir a razão.

Levei anos da minha vida a tentar decifrar todo este enigma, esta proibição e este silêncio.

Hoje, passados já muitos anos do acontecido, no dia 1 de Maio, lembro-me sempre do relatado.

Quando passo no local em que estava instalada a “Serração da Paula” recordo daquilo que lá estava escrito e dos alpiarcenses corajosos que escreviam aquilo. Hoje a maioria dos jovens apenas sabem que é o “Dia do Trabalhador” ou mais um “Feriado”.

Desconhecem por completo o que este dia representava para os seus antepassados como não sabem o que foi a “Jorna”.

António Centeio

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