Manuel Mendes Colhe (*) |
Dois acontecimentos amargaram a clandestinidade
de Manuel Colhe: a perda da companheira Maria Albertina, por infecção após
parto, e o “ter falado2, à custa de muita porrada e tortura do sono; às mãos da
PIDE – é preso numa emboscada montada por um camarada traidor. De muito novo vi
as grandes diferenças na sociedade, daí resolver antecipar as lutas onde era
preciso”, relata-nos no lançamento do seu livro “Memórias Lembradas”, no
Mercado de Alpiarça, no passado dia 26 de Abril, com prefácio de João Luís
Madeira Lopes.
Forte de Peniche |
O seu depoimento tocou-nos fundo! Com 15 anos participou na
primeira “Praça de Jornas”, onde os assalariados rurais mais se pareciam a
animais pela forma como eram escolhidos para trabalharem. Capatazes e patrões
disputavam, miseravelmente, o mais baixo preço a pagar; o trabalho era de
sol-a-sol, às vezes, até à meia-noite nos lagares de vinho; havia cargas
brutais da GNR; seguiam-se prisões. “Falava-se a medo dos martírios passados
nas cadeias, das deportações para Angola e Tarrafal…Das pesadas penas, com mais
de vinte anos atrás das grades. Eu ouvia estas conversas aos mais idosos,
sentia que era preciso lutar, era um risco, mas não podia voltar atrás!”. Nas charnecas,
nos campos, reuniam-se aos fins de semana e mais se fortaleciam os laços para a
luta, dali saindo o preço que fixariam na “Praça” seguinte.
Forte de Peniche |
A prisão do Cunhado
António Curvacho Centeio, com uma sacada do jornal “Avante” (1959), leva-o à
fuga. Só regressa 11 anos depois, saído da cadeia com fortes medidas de
segurança e expulso do PCP. Apesar disso, o seu nome integra as listas do III
Congresso da Oposição Democrática em Aveiro (1973), onde se destaca como
orador. Chegou Abril, Manuel Colhe é reintegrado no PCP e, ainda hoje, das suas
palavras, ressalta que a luta continua pela dignidade humana. Visitem o Forte
de Peniche e leiam o nome de Manuel Mendes Colhe e o de mais 2.480
prisioneiros: somam as penas milhares de anos de humilhações e duras privações,
e a eles lhe devemos forte contributo pela conquista da Liberdade e da
Democracia.
(In: Arnaldo Vasques/O Ribatejo)
(*) Foto de Manuel Mendes Colhe é pertença da CMA. A colocação das restantes são de autoria/arquivo do JA
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