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quinta-feira, 1 de maio de 2014

A clandestinidade de Manuel Colhe

Manuel Mendes Colhe (*)
Dois acontecimentos amargaram a clandestinidade de Manuel Colhe: a perda da companheira Maria Albertina, por infecção após parto, e o “ter falado2, à custa de muita porrada e tortura do sono; às mãos da PIDE – é preso numa emboscada montada por um camarada traidor. De muito novo vi as grandes diferenças na sociedade, daí resolver antecipar as lutas onde era preciso”, relata-nos no lançamento do seu livro “Memórias Lembradas”, no Mercado de Alpiarça, no passado dia 26 de Abril, com prefácio de João Luís Madeira Lopes. 

Forte de Peniche
O seu depoimento tocou-nos fundo! Com 15 anos participou na primeira “Praça de Jornas”, onde os assalariados rurais mais se pareciam a animais pela forma como eram escolhidos para trabalharem. Capatazes e patrões disputavam, miseravelmente, o mais baixo preço a pagar; o trabalho era de sol-a-sol, às vezes, até à meia-noite nos lagares de vinho; havia cargas brutais da GNR; seguiam-se prisões. “Falava-se a medo dos martírios passados nas cadeias, das deportações para Angola e Tarrafal…Das pesadas penas, com mais de vinte anos atrás das grades. Eu ouvia estas conversas aos mais idosos, sentia que era preciso lutar, era um risco, mas não podia voltar atrás!”. Nas charnecas, nos campos, reuniam-se aos fins de semana e mais se fortaleciam os laços para a luta, dali saindo o preço que fixariam na “Praça” seguinte. 

Forte de Peniche

A prisão do Cunhado António Curvacho Centeio, com uma sacada do jornal “Avante” (1959), leva-o à fuga. Só regressa 11 anos depois, saído da cadeia com fortes medidas de segurança e expulso do PCP. Apesar disso, o seu nome integra as listas do III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro (1973), onde se destaca como orador. Chegou Abril, Manuel Colhe é reintegrado no PCP e, ainda hoje, das suas palavras, ressalta que a luta continua pela dignidade humana. Visitem o Forte de Peniche e leiam o nome de Manuel Mendes Colhe e o de mais 2.480 prisioneiros: somam as penas milhares de anos de humilhações e duras privações, e a eles lhe devemos forte contributo pela conquista da Liberdade e da Democracia.

(In: Arnaldo Vasques/O Ribatejo)
(*)  Foto de Manuel Mendes Colhe é pertença da CMA. A colocação das restantes são de autoria/arquivo do JA

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