Por: Gabriel Tapadas Marques |
Lembro que há uns tempos este jornal publicou um apelo do filho de Fernando Tordo.
Homens como Tordo não precisam de misericórdia. Apenas espaço para poderem exprimir todo o TALENTO herdado dos seus progenitores. Tordo tem um espólio muito rico no panorama artístico do pais. As pessoas inteligentes dão sempre a volta por cima. O que Tordo precisa é do tal espaço para soltar a sua veia de artista em conjunto com a sua voz.
É um dos compositores contemporâneos mais credenciados na nossa musica .
Foi um dos convidados do programa (PROGRAMA DO JÔ) de Jô Soares que muitos Portugueses se lembram do programa Viva o Gordo.
Acompanhado de Fafá de Belém, foi lhe dado o tal espaço, e soltou a voz e o dedilhar da sua viola, em rede nacional, para milhões de brasileiros. Levou a plateia do estúdio da Globo á loucura com a interpretação de : A tourada, é tarde,e fado novo. Interpretações, desde fado a musica ligeira.
Deixou bem vincado, continuará no Brasil se (me quiserem por cá), suas palavras.
Trás na sua bagagem muitos sonhos. Um deles é estabelecer um paralelo com a musica dos dois países, e também das culturas, especialmente a língua falada em ambos países. Apesar da hora do programa não perdi uma palavra dos interlocutores. Quando lhe foi perguntado porque saiu de Portugal , respondeu em direto em cadeia nacional: RECUSO-ME A VIVER NO MEU PAIS, GOVERNADO POR ESSA GENTE.
Fernando Tordo |
Esses sonhos de Tordo levam-me a uns anos atrás, quando conheci aqui no Brasil um tuga que vivia no Brasil há 28 anos sem nunca ter voltado a Portugal. Chefe de secretaria da saúde da cidade de Parnamirim. Quando fomos apresentados as primeiras palavras que ele pronunciou, denunciou ser alfacinha , mas de gema!. Perguntei como ele 28 anos depois ainda mantinha intacta a língua original e o sotaque regional. Tocou o seu (celular), atendeu, era um subordinado seu. Falou com ele no sotaque alfacinha. Então perguntei:
- como ele te entendeu?
-Problema dele, o chefe sou eu, ele que tem que me entender.
Uma risada saudável e a explicação: Sempre procuro ser fiel ás minhas raízes e manter a minha língua pátria.
Depois destes anos eu próprio entendo e mantenho o meu sotaque, as minhas expressões que usamos em Portugal e se alguma vez mudo algo , é só para ser entendido , pois a minha ocupação me obriga a tal.
Outro sonho do Tordo é reverter essas tendências especialmente musicais, mas também de sotaque da língua, o que acho muito difícil.
Sabemos perfeitamente que hoje a cultura brasileira, especialmente a musica, influencia em muito a cultura portuguesa , especialmente pelas novelas. Mas a cultura portuguesa não consegue no mínimo beliscar a cultura brasileira. Em Portugal é ouvida muita música brasileira. No Brasil ninguém conhece a nossa música, e na poesia salva-se apenas Camões e Pessoa.
Como bons lusitanos, somos orgulhosos do que é nosso e que amamos.
Fernando Tordo não precisa de piedade, mas sim do tal espaço que já começou a conquistar.
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