Por: Antonieta Dias (*) |
Sendo a diabetes uma doença silenciosa, que pode ser
diagnosticada tardiamente, existe a necessidade de descobrir critérios que
possam ser aplicados de forma uniforme, para a sua classificação.
Muito se tem investigado e publicado sobre esta doença, que
pelas suas consequências, gravidade e complicações tardias pode ser fatal para
os doentes que dela padecem.
Quando um paciente tem associado à diabetes uma doença
cardiovascular, situação muito comum neste grupo de doentes, maior é a
necessidade de investigar e aumentar os conhecimentos etiológicos, para poder
adoptar critérios baseados em níveis de glicemia em jejum, com correspondência
adequada entre os referidos valores e os resultados determinados na realização
de uma prova de tolerância à glicose oral (P.T.G.O).
Os critérios de diagnóstico e classificação da Diabetes
Mellitus, serviram de suporte na constituição de um grupo de trabalho da
Organização Mundial de Saúde (O.M.S), designado “W.H.O. Consultation”, que
funciona de forma independente, mas em paralelo com um outro grupo de
investigadores “Expert Committée” da A.D.A, cuja investigação realizada veio a
reflectir-se no enriquecimento e na aplicação destes critérios, diferindo
apenas uma da outra na valorização da Prova de Tolerância à Glicose Oral
(P.T.G.O.).
Existem várias publicações com recomendações fundamentais
para os doentes diabéticos emanadas pela Associação Americana da Diabetes
(A.D.A) e pela Organização Mundial de Saúde (O.M.S.).
O primeiro trabalho publicado da A.D.A, surgiu em 1997, logo
seguido pelo da O.M.S. Estes dois trabalhos de investigação, apesar de serem
preliminares, permitiram definir de imediato os novos critérios de diagnóstico
e fazer a classificação da Diabetes Mellitus.
Por sua vez em 1999, as novas recomendações publicadas, por
este grupo de trabalho, “Reporto of W.H.O. Consultation “passaram a fazer parte
das recomendações da O.M.S., embora tivessem sido assumidas posteriormente.
Não é tarefa fácil vencer a barreira entre os dados dos
ensaios clínicos e os ensaios da prática médica diária no tratamento da
diabetes de tipo 2 (diabetes não insulino dependente).
Porém, foi com base nesta publicação que a Federação
Internacional da Diabetes (I.D.F.) e de todas as Sociedades de Diabetologia,
onde se inclui também a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (S.P.D.),
sustentou o suporte científico estes critérios.
Portugal também não ficou alheio a estas recomendações e
adoptou estes novos critérios da Comunidade Europeia, passando a ter um suporte
científico fundamentado que lhe permitiu usar uma metodologia no tratamento da
diabetes que englobava estes novos conhecimentos.
Diagnosticar a diabetes é um desafio. Estima-se que 5.1%, dos
doentes, não está diagnosticado.
Com os avanços da ciência e a introdução de novos fármacos
para optimizar o tratamento dos doentes diabéticos já diagnosticados, passou a
ser uma regra obrigatória, a aplicação das novas terapêuticas mais eficazes no
tratamento e na estabilização dos doentes.
Porém, para além da farmacologia, existem outros apoios que
podem ser utilizados para minimizar os malefícios desta doença.
Todavia, não nos devemos esquecer que para garantir o sucesso
do tratamento e uma boa adesão terapêutica é necessário incutir no doente
conhecimentos suficientes para que ele saiba lidar com a sua doença e com as
complicações que dela podem surgir.
Envolver o doente neste processo é uma exigência das boas
práticas médicas, tendo em conta, que só com um conhecimento profundo, da
patologia, das suas potenciais consequências, e da adesão integral do paciente
é que podemos organizar um plano de tratamento em que o doente se sinta
responsabilizado no cumprimento das recomendações terapêuticas, da dieta e do
exercício físico na sua totalidade.
Em suma, que recomendações devemos fazer aos pacientes
diabéticos para além da prescrição farmacológica?
1.º incutir a necessidade de fazer uma alimentação saudável,
com restrição de gordura, açúcar e sal, e aumentar o consumo de alimentos ricos
em produtos hortícolas.
Devemos fazer um plano alimentar saudável, equilibrado nas
quantidades de alimentos, adequado a cada doente e não apenas à sua doença,
pois as necessidades alimentares variam com o quadro clínico, com a actividade
física praticada, com o peso e com a idade do paciente.
Importa, ainda referir que este plano alimentar equilibrado,
deve estar associado a um aumento da actividade física diária, para se poder
controlar os níveis da glicose e proporcionar um aporte de calorias necessárias
às que são gastas diariamente evitando assim as ingestões em excesso.
Estes dois factores irão contribuir eficazmente para que o
peso estabilize e não aumente. Uma pessoa só engorda se a quantidade de
calorias ingeridas diariamente, ultrapassarem as necessidades que são
consumidas. Manter este equilíbrio é o segredo do tratamento dietético.
Que dieta deve ser recomendada e quais são os alimentos mais
saudáveis para estes doentes?
Antes de prescrever uma dieta, é essencial respeitar a
ingestão diária das diferentes porções de alimentos cujos grupos envolvidos são
sete:
1-Cereais (devem ser distribuídos pelas seis refeições
diárias). Neste grupo incluí-se os derivados e tubérculos (pão, aveia, cuscuz,
arroz, centeio, batatas e massa) reconhecidos como os hidratos de carbono mais
saudáveis, onde ainda se associam os amidos integrais como a massa integral e o
pão escuro.
Os hidratos de carbono são indispensáveis na alimentação,
constituem a principal forte de energia e representam (50 a 55%) do nosso corpo.
2-As hortícolas, que podem ser comidas 3 a 5 porções por dia, são
pobres em hidratos de carbono e em calorias, ricas em fibras, lentificam a
absorção dos hidratos de carbono e por isso controlam a glicemia (couve flor,
couve, tomate e alface, que podem ser comidas cruas, cozidas ou nas sopas).
As leguminosas (lentilhas, ervilhas, grão, favas, feijão e
soja) constituem a fonte de proteína vegetal, sendo que na sua maioria são
desprovidas de colesterol e de gordura. Estes produtos são muito ricos em
fibras, porém devem ser consumidas em quantidades moderadas (por dia, deve
comer-se 1 a
2 porções).
3-O peixe deve ser comido de forma regular, pois reduz o
risco cardiovascular e controla os níveis de colesterol.
4-Os ovos, os lacticínios(leite, queijos frescos e iogurtes),
têm baixo teor de gorduras e a média diária consumida não deve exceder as 500 a 600 ml de leite magro
por dia.
5-As carnes (brancas e magras são as mais saudáveis), as
carnes gordas, devem ser evitadas, porque aumentam o risco cardiovascular.
A carne e o peixe devem ser comidos de forma moderada(um
quarto do prato nas refeições principais).
6-A fruta (maçãs, peras e laranjas, de preferência cruas)
devem ser comidas nos intervalos das refeições (uma peça de fruta tem um teor
de hidratos de carbono de 12 a
15 gramas
por porção). A quantidade deve ser 1
a 3 porções por dia. As frutas de conserva devem ser
evitadas.
7-Os óleos e gorduras, sendo aconselháveis a soja, o azeite
de oliveira, são uma excelente opção para temperar e cozinhar os alimentos. Os
óleos vegetais de girassol (devem ser usados exclusivamente nos temperos). As
gorduras insaturadas reduzem o risco cardiovascular e controlam melhor os
níveis de colesterol. A noz a amêndoa ou o amendoin, não estão contra-indicados
se consumidos de forma moderada.
Recomenda-se a ingestão de 1.5 a 3 litros de água por dia.
Associada à dieta destes doentes deve inclui-se a pratica de
exercício físico de forma regular, pois permite diminuir a glicemia (açúcar no
sangue), diminuir a Hb A 1 C,
diminuir o peso e aumentar a sensibilidade à insulina.
O exercício físico, para além de contribuir para a redução de
cerca de 20% dos valores dos triglicerídeos, melhora os níveis de colesterol
HDL (colesterol bom), diminuiu a tensão arterial (associada com a dieta
hiposalina), reduz os índices de massa gorda, melhora a tonicidade articular,
previne a osteoporose, aumenta a flexibilidade e a mobilidade articular.
Praticar actividade física é combater o sedentarismo,
melhorar a qualidade de vida e o bem estar para além de
melhorar a auto-estima do doente diabético.
(*) Doutorada em medicina
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