Um pouco por todo o país há alunos a abandonar a escola por causa das dificuldades financeiras da família. Uns fazem-no para ajudar os pais, outros simplesmente porque deixaram de ter dinheiro para estudar.
No agrupamento de Escolas da Cruz de Pau, no Seixal, há mais mesas vazias nas salas de aula desde o final do segundo período.
"Este ano tenho recebido várias anulações de matrículas: dez, até agora. São de alunos do 9º ano ou com mais de 15 anos. Três delas tenho a certeza de que foram feitas por questões económicas, porque os alunos falaram comigo", conta à Lusa o diretor do agrupamento, Nuno Adeganha.
Os casos detetados aconteceram na escola do 2.º e 3.º ciclos, frequentada por cerca de 870 estudantes e “inserida num contexto económico frágil”.
No entanto, sublinha Nuno Adeganha, os alunos que têm anulado as matrículas "não são dos bairros mais problemáticos. Pertencem à classe média baixa, são de famílias que de um momento para o outro deixaram de ter dinheiro para pagar coisas elementares. Dois dos casos são de famílias mono parentais, o outro é de uma família em que os pais ficaram desempregados", explica.
Na perspetiva do representante dos encarregados de educação do distrito, o cenário não é tão delicado como Nuno Adeganha o descreve. António Amaral, presidente da Federação Regional de Setúbal das Associações de Pais, afirma que “o abandono escolar está ao nível do ano passado” e considera que existem no distrito apenas casos “pontuais”.
A Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) discorda e diz que o fenómeno acontece um pouco por todo o país. Manuel Pereira, presidente da ANDE, lembra que algumas famílias em situação limite veem nos filhos uma fonte de rendimento extra: “Sei que há miúdos que estão a apoiar as famílias", diz.
Pessoalmente, Manuel Pereira conhece apenas um caso: “Um aluno meu que frequentava um curso de formação e o pai tirou-o da escola para ir trabalhar”, revela.
Já o presidente do Conselho de Escolas, Manuel Esperança, diz que há regiões onde o trabalho sazonal tem forte impacto, “nomeadamente no Algarve, onde os alunos deixam a escola para ir trabalhar”. O responsável conta à Lusa que o início da época balnear é sinónimo de salas de aulas mais vazias.
Há alguns anos “a taxa de abandono escolar em algumas escolas era surpreendente: era vê-los sair para ir trabalhar nas praias, nos bares e cafés”, recorda.
Também neste sentido, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Albino Almeida, admite “situações pontuais” em zonas com produção de calçado e vestuário, que nesta altura do ano "precisam de mais trabalhadores para acabar as encomendas a tempo de irem de férias”.
Mas não considera generalizado o fenómeno do abandono escolar em prol da economia familiar. Até porque, defende, “o mercado não tem capacidade para absorver este tipo de mão de obra tão jovem e tão pouco qualificada”.
Atualmente, os alunos só precisam de ter o 9.º ano ou 15 anos para poderem abandonar a escola. A partir de setembro, o ensino obrigatório estende-se a 12 anos. E só o tempo vai poder dizer de que forma vai isso refletir-se nos números do abandono escolar.
Este domingo comemora-se o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil.
«Lusa»
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