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domingo, 9 de maio de 2010

Visão de uma exilada lisboeta, filha e neta de valecavalenses

OPINIÃO

Os primeiros artigos escritos sobre Maçonaria pretendiam partilhar com os alpiarcenses alguns cantos e recantos desta Ordem, que muitos qualificam de secreta, desconhecendo que a reserva e a discrição são heranças de um passado histórico e, naturalmente, se prende com a maneira de ser de cada maçon. Ser maçon pertence à área da vida privada de cada um e é cada maçon que decide se revela ou não que o é. Esta vossa filha não enjeita tal qualidade, provavelmente mercê do estar escalabitano. Falo-vos hoje como uma amiga de Alpiarça.

Ver, ouvir e sentir as maleitas de Alpiarça apoquenta-me diariamente. Numa época em que o País sofre uma crise transversal, embora a assumamos financeira, e em que se recomenda o ressurgimento da unidade nacional, aquela que se impôs como um grito de revolta e de cidadania em tempos de revolução, quer para fazer nascer a República quer para acabar com o Estado Novo e libertar Abril, atravessa um período triste da sua própria história. Um cenário, não se sabe até onde político até onde económico, que, tudo aponta, é de à beira do abismo. O abismo decorre não dos problemas económicos – que estes resolvem-se – mas da cisão da alma alpiarcense. Como acontece nos divórcios, as contas bancárias recompõem-se mas os afectos podem ferir e até matar. E esta terra corre o risco de ficar irremediavelmente exangue.

Todos os dias leio depoimentos amavelmente enviados pelo António Centeio em que deparo com acesas criticas à actuação do Executivo. Espero que reconheçam que mais de vinte anos de carreira, entre a Inspecção-Geral de Finanças, vários cargos em gabinetes ministeriais e na Assembleia da Republica, e o Tribunal de Contas, me deram alguma capacidade para destrinçar o trigo e o joio. A verdade da mentira. A política e as finanças. E estou convicta de que a situação financeira da Câmara é superável.

Constatei pelo perfil de comentadores que Alpiarça tem grandes filhos e muitos valiosos amigos. Cada um terá competências que podem ser uma mais-valia na resolução dos problemas financeiros do Executivo. Forme-se, pois, uma “Junta de Salvação Local”. Doemos o nosso saber em prol da ressurreição económica de Alpiarça.

Importa, porém, para já, empreender uma outra luta séria. E essa sim, preocupa-me muito mais, porque, a não ser frutuosa, pode vir a confrontar os que são, de alma e coração, alpiarcenses, com uma verdade incontornável: a perda do sentido identitário de uma grande gente a quem tanto deve a República e a Democracia.

Aquela que, antes de Abril (e ainda estamos em Maio), era conhecida como a “Moscovo Portuguesa”, pelas melhores razões (aquelas que nos enchem de orgulho), pode vir a ser conhecida, pelas piores razões, apenas mais uma “Terra Vermelha”, porque jorra, pelas suas ruas, travessas, portas e janelas, vielas e atalhos, o escarlate do sangue do povo alpiarcense.

Permitam-me que relembre, como vossa filha, (até para os que não compreenderam a mensagem e sobretudo para os que não a aceitaram) o lema que faz dos maçons (goste-se ou não se goste, e sobretudo para os que não gostam) um grupo de homens e mulheres que demandam um mundo melhor: SEJAM LIVRES, SEJAM IGUAIS, SEJAM FRATERNOS.

A todos deixo um “abraço fraternal”.

Bem-hajam.

Por: Anabela Melão

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