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terça-feira, 11 de maio de 2010

A CRISE por detrás (ou à frente) da crise

Numa altura em que globalmente nos confrontamos com uma total indefinição quanto ao caminho para encontrar a luz ao fundo do túnel, a crise económica faz-se acompanhar por uma concomitante perca de valores, respeito e referências.
Se o modelo falhou, altere-se o modelo. E se falharam as pessoas, alterem-se as pessoas. Mas o que parece, aos olhos do cidadão comum, é que o cenário pós-caos se assemelha ao do ante-caos. Olha-se e vê-se mais do mesmo. Os mesmos modelos com as mesmas pessoas.
Até à queda da URSS, a política mundial acusava uma bipolaridade, com os antípodas (EUA, a Ocidente, num modelo de economia de mercado e com uma margem de liberdade q.b., e URSS, com uma economia centralizada e sem liberdade) a servirem-se do resto do Mundo, numa espécie de relação lacaio-fidalgo. O colapso da URSS, ultrapassada a euforia momentânea, foi o pretexto para se implementar modelos plagiados dos ocidentais, o que - demonstra-o a actualidade - não está a resultar. Não necessariamente pelo modelo em si, mas pelo mau plágio!.
O sonho europeu está em crise. Esqueceu-se que este pressupunha algo mais do que um aglomerado pior ou melhor concebidos de arquétipos jurídicos. "A Europa não se fará de um golpe, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto", dizia, há 60 anos, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Robert Schuman.
Sessenta anos após a Declaração Schuman de 9 de Maio de 1950, que deu início ao projecto europeu, a crise da Zona Euro abala o edifício político. Para recuperarem a confiança, sugere-se aos Vinte e Sete que abandonem os estereótipos das décadas precedentes (Frankfurter Allgemeine Zeitung). Como deverá a Europa resolver a crise grega, que está a pôr em risco a sobrevivência do euro? O economista Joseph Stiglitz, laureado com o Prémio Nobel, defende que não será com a imposição de cortes draconianos no sector público e nas prestações sociais.
As consequências sociais e económicas das actuais medidas são inaceitáveis. Os países cujos défices dispararam em resultado da recessão global viram-se subitamente empurrados para uma o colapso, a lembrar a Argentina, há 10 anos.
Não vou aqui discutir a solução: não sei se será pondo em prática o equivalente a uma desvalorização, com a inevitável descida uniforme dos salários; se com a saída da Alemanha da zona euro ou a divisão da zona euro em duas sub-zonas; ou, aplicando as reformas institucionais (incluindo um quadro orçamental “adaptado”) que deveriam ter sido implementadas quando o euro foi lançado.
Falta, segundo creio, e, acima de tudo, cumprir os ideais de solidariedade a que a Europa se propôs quando criou o euro. Se a Europa não conseguir, mais não lhe resta que, como na vida, assumir o fracasso e seguir em frente.
Mas, com certeza que concordarão que pagar um preço elevado em termos de desemprego e de sofrimento humano, em nome de um modelo económico falido, seguramente é que não vale a pena (até porque a alma vai ficando perigosamente pequena).
À dimensão de cada cidadão, cada País da EU ter-se-á deixado avassalar pelo Poder, pelo Ter, perdendo de vista o Ser. Está na hora de mudar sem nada destruir, de fazer diferente, com ideias diferentes vindas de pessoas diferentes. Mais do mesmo não! Não se trata de apadrinhar uma nova vaga de yuppies, de viabilizar projectos de vida individuais de jovens iluminados ou de velhos profetas! Trata-se de fazer um novo caminho, caminhando. Desta vez sem vergonha de o fazer com (maior) humildade

Por: Anabela Melão

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