.

.

.

.

quarta-feira, 31 de março de 2010

José Relvas, o homem da 'revolução'

A voz que proclamou a República era a de um abastado agricultor ribatejano com espírito de político

Na manhã de 5 de Outubro de 1910 a voz que gritou "Viva a República" da varanda dos Paços do Concelho, em Lisboa, José Mascarenhas Relvas, era a de um homem habituado a liderar comícios e dirigente influente do Partido Republicano.

José Relvas, nascido na Golegã em Março de 1858, foi o "escolhido" para proclamar a República porque era um dos dirigentes "mais antigos" do directório do Partido Republicano, lavrador abastado que granjeou prestígio nacional, sobretudo enquanto líder associativo dos agricultores ribatejanos.

João Bonifácio Serra, historiador e coordenador da Casa dos Patudos, legada por José Relvas ao município de Alpiarça, destaca ainda outro facto: Relvas integrou a missão que em Julho/Agosto de 1910 foi a França e Inglaterra "avisar os governos desses países de que a revolução republicana estava iminente em Portugal".

Para João Serra, o que singulariza José Relvas é que este não aderiu ao Partido Republicano "por uma questão meramente ideológica ou por simpatia, mas para fazer uma revolução".

José Relvas aderiu ao Partido Republicano já numa fase avançada da vida (perto dos 50 anos), no contexto da crise política provocada pela chamada ao poder, por parte do rei D. Carlos, do ministro João Franco, oferecendo-lhe a ditadura, "o que gerou um fortíssimo movimento de contestação política".

João Serra acrescenta ainda outro elemento, o facto de José Relvas ser "a primeira figura de proa" da "ala conservadora revolucionária" do Partido Republicano, que se agrupa em torno do jornal A Luta.

Ao contrário do previsto pelo partido, que tinha determinado que os seus dirigentes não podiam pertencer ao Governo, José Relvas acaba por assumir a, crucial, pasta das Finanças, sendo ele o responsável, nomeadamente, pela introdução da reforma monetária que criou o escudo.

José Relvas voltou a ser chamado pelo primeiro Governo Constitucional, liderado pelo seu grande amigo João Chagas, para o cargo de ministro plenipotenciário em Madrid, uma embaixada "política" e "extremamente delicada" no contexto ibérico da relação com a monarquia espanhola.

É em divergência política com o Governo, pela lei que impede a acumulação de funções, que José Relvas regressou a Portugal em finais de 1913 para assumir o seu lugar no Senado, por entender que a sua legitimidade vinha do cargo para o qual havia sido eleito. Acabou por resignar em 1915, dedicando-se aos seus negócios no contexto complicado da I Guerra Mundial.

«DN»

Sem comentários: