Em Fevereiro de 2008, tirei esta fotografia na Linha do Norte, no apeadeiro da Póvoa de Santa Iria. O comboio regional que faz a linha Tomar-Lisboa-Tomar parou neste apeadeiro por causa das chuvas torrenciais que afectaram o país todo nesse dia. Enquanto as pessoas desesperavam dentro das carruagens porque iam chegar atrasadas ao trabalho, estive a observar o trabalho dos funcionários da Refer, a perseguir o nível das águas e ao mesmo tempo lembrava-me das cheias de outros tempos.
Houve um ano em particular, o ano de 1988. O meu pai trabalhava em Alpiarça e para saber qual a melhor rota para poder ir trabalhar no dia seguinte, todos os dias à noite ia com ele ver o nível das cheias na Ribeira de Santarém, mesmo junto à passagem de nível. Era uma romaria de gente, com pessoas a levar coisas do rés-do-chão para o primeiro andar das casas e os bombeiros de barco a entregar comida. Depois passávamos a ponte D. Luis até à Tapada.
Se a água já estivesse quase a chegar ao cruzamento para Alpiarça e Almeirim, era uma desgraça: para o meu pai estar às 08:30 no emprego, tinha de sair às 5 da manhã para ir dar uma volta enorme, por Rio Maior, Carregado, Vila Franca de Xira, Porto Alto e aí não sei se dava para ir a direito por Benavente até Alpiarça. Eu não me queixava muito, até gostava daquelas viagens nocturnas e tinha uma grande vantagem: Santarém ficava uma ilha, e muitos professores não vinham dar aulas! A
h! E dizia-se na Ribeira de Santarém que se o Tejo passasse alguma vez os pés da estátua da Santa Iria, Lisboa ficava inundada...
Por: Carlos Gouveia
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