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quinta-feira, 8 de maio de 2014

OPINIÃO: A base social e eleitoral de Esquerda (incluindo a do PS) continua o caminho para o desencanto

Foto
Por: Isabel Faria
Esta imagem está escrita em castelhano, mas não necessita de tradução e adapta-se, às mil maravilhas, à situação portuguesa. 

E assim é desde 1974/1975, quando a social-democracia, representada pelo PS se aliou à Direita para impedir o avanço e a consolidação da revolução e os Partidos à Esquerda do PS, se foram consumindo entre cisões, sectarismos e desconfianças (uma tentativa de unidade, em 1975, decorria, então, o PREC, entre o PCP e várias organizações da chamada Extrema-Esquerda, numa altura em que ainda tudo era possível, foi formada a 25 de Agosto e o PCP saiu a 27 de Agosto…).

As décadas que se seguiram foram feitas assim: A Direcção do PS continuou, na grande maioria das vezes, a trair a sua base social e eleitoral e os Partidos e Movimentos à sua Esquerda, continuaram a trilhar os caminhos da “pureza ideológica”, do desnorte, do sectarismo e da falta de ousadia.

Este caminho nunca foi beliscado, nem sequer com a junção de vários Partidos e militantes de Esquerda sem partido, naquilo que seria o BE. Se, dentro do Bloco, a unidade ainda conseguiu, durante muito tempo, prevalecer sobre a “pureza” , nem o BE nem o PCP nunca se mostraram, verdadeira e honestamente, interessados em iniciar qualquer tipo de aproximação que pudesse aparecer aos olhos do eleitorado como uma alternativa, efectiva, de Poder.

Em 2011, quando o PCP e o BE se aliaram à Direita para afastar Sócrates e o PS do Governo, os dirigentes de ambos os partidos, pressionados pelos seus militantes e pelo seu eleitorado, aceitaram reunir-se na AR e comprometeram-se a iniciar um processo de diálogo continuo e de apresentação de propostas conjuntas, tendo, no entanto, desde logo manifestado a sua indisponibilidade para estudar qualquer hipótese de apresentar listas conjuntas. Nas Legislativas de Junho de 2011, o BE sofreu uma pesada derrota, perdendo metade do seu Grupo Parlamentar, e o PCP teve 8% dos votos. A Direita ganhou as Eleições. O PSD e o PP uniram-se e formaram Governo. Nós e o País estamos aqui.

Na tal reunião das Direcções do PCP e do BE, em Abril de 2011, as suas Direcções comprometeram-se a manter o diálogo e a apresentar propostas de iniciativas conjuntas. Nos anos que se seguiram, foram votando em conjunto a esmagadora maioria das vezes na AR, os seus dirigentes vão às manifestações do 1º de Maio e do 25 de Abril, mas em lugares separados, encontram-se, em comitivas separadas, em alturas de Greves Gerais, nunca organizaram sequer uma sessão publica, popular, fora do Parlamento, conjunta e em conjunto, contra a austeridade, por exemplo, continuam militantemente sem se ousarem aplaudir mutuamente nas intervenções dos seus deputados na AR, na vá a pureza ser manchada. Ah, e o Verão passado voltaram a encontrar-se para … tomar café.

Entretanto, a base social e eleitoral de Esquerda (incluindo a do PS) continua o caminho para o desencanto, o afastamento e a abstenção, por absoluta falta de alternativas viáveis, credíveis e, sobretudo, mobilizadoras. Dentro de três semanas, cada um na sua bicicleta irá concorrer às Europeias e eleger, na melhor das hipóteses, 4 deputados. Dentro de um ano, nas Legislativas, cada um continuará a pedalar sozinho e fará questão de pavonear a sua incapacidade de colocar os interesses do país, dos trabalhadores e do Povo Português, acima do seu enorme umbigo. O resultado conhecemo-lo há décadas.  

Um dia a história julgará não só a Direita assassina, como o PS com ela conivente e a Esquerda, perante ela, impotente. O problema é que os julgamentos da História não nos dão nem trabalho nem pão, nem País.
Dito e escrito isto, obviamente, que no dia 25 de Maio votarei e votarei à Esquerda. E espero com o meu voto também mostrar à “minha” Esquerda que não chega ser Oposição (é oposição há décadas e estamos aqui). É preciso ousar juntar as letrinhas das setas e meter as mãos na massa. O futuro e a memória do passado exige-lhes isso.