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segunda-feira, 28 de abril de 2014

SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA: INTERVENÇÃO DE JÚLIO PRATAS, pela bancada da CDU/PCP-PEV


SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA COMEMORATIVA DOS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL
25 de Abril de 2014 - Novo Auditório da Casa dos Patudos 



INTERVENÇÃO DE JÚLIO PRATAS, pela bancada da CDU/PCP-PEV

SR. PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL
SR. PRESIDENTE DA CAMARA MUNICIPAL
SENHORES VEREADORES
SENHORES ELEITOS À ASSEMBLEIA MUNICIPAL 
CAROS CONVIDADOS; ALPIARCENCES,

Comemoramos hoje os 40 anos do 25 de Abril. O simples facto de o fazermos nas actuais circunstancias sociais e políticas é já um acto revolucionário. Não, não é exagero. Explica-se fundamentalmente na comparação entre o que Abril prometeu e cumpriu e o que a actualidade das sucessivas governações, legitimadas pelo voto , mas assoladas pelo incumprimento sucessivo de promessas, nos presenteou.
É no contexto político actual que se coloca a luta e comemoração ao mesmo tempo, pelos e dos ideais de Abril, Abril golpe de estado, Abril Revolução. É na luta contra a triste realidade anti Abril, anti trabalhadores, que hoje devemos focar a nossa atenção nestas comemorações. É tendo em atenção estas diferenças que comemoramos hoje a data libertadora, lutando contra a actual governação protagonizada por gente que se vendeu definitivamente à finança internacional vendendo deste modo o próprio País.
Não há dinheiro? Mentira. Há um só caminho? Mentira. Tem de se cortar nas pensões? Mentira. Tem de se privatizar o que dá lucro? Mentira e estupidez.
Quando muitos verberam demagógicamente a ideologia, o que estes senhores praticam, claramente, é uma ideologia radical do liberalismo mais despudorado e criminoso.
De certo modo, todos os Governos Constitucionais são responsáveis pelo estado a que isto chegou. Todos. Mais uns do que outros. Aparecem agora as desculpas de muitos dos seus protagonistas. Que as coisas não eram para ser assim, que não era isto que pretendiam, que a situação internacional alterou o que estava previsto, etc, etc. Chegam tarde. É bonito o arrependimento mas os danos causados são tremendos.
A oportunidade da nossa entrada na Europa tem a semelhança aos resultados do periodo das especiarias da Índia e do ouro do Brasil. Isto é: esfumaram-se rápidamente as possibilidades de todos , repito, de todos beneficiarem definitivamente com isso. A entrada na Europa nas condições em que foi efectuada foi um erro. Sem discussão, com mentira, com propaganda totalmente a favor. Viu-se no que deu . Não me esqueço do dinheiro que entrou, não me esqueço de que estamos a pagar esse dinheiro com lingua de palmo.
O golpe militar de Abril causado por questões conhecidas do foro interno militar e pela consciência de que a guerra colonial era uma crise sem solução, abriu a possibilidade a que Portugal avançasse para transformações nas estruturas de um País onde reinava o conformismo herdado de Salazar mas anterior a ele, atávico, um conformismo nascido da ignorancia e da desqualificação, do subdesenvolvimento. Sem o empurrão do vilipendiado periodo do PREC, Portugal seria hoje muito pior do que é. 
Só por má fé ou pura ignorância se pode resumir esse tempo de convulsão democrática a uma luta entre comunistas e não comunistas. É uma visão agradava para muita gente , mas já hoje sem a linearidade que muitos ainda querem impor como verdade absoluta e única. É bom lembrar que decorria uma Revolução e as Revoluções são períodos complexos difíceis de simplificar. Todas as Revoluções.
Ora a realidade resultante da historiografia moderna mostram que as questões não foram assim tão lineares. Mas a propaganda continua como se no tempo da alta tecnologia dos sofisticados computadores não existisse a possibilidade de uma leitura mais atenta dos acontecimentos. Não convém. O léxico do anticomunismo rasteiro continua em muitas e “ desvairadas gentes”.
Ainda hoje há quem coloque o General Spínola a participar e ajudar nas reuniões secretas do MFA, ou indique Álvaro Cunhal como pretendendo instaurar um regime soviético em Portugal. Assim ,” tout court”.
Aproveito para referir que desconhecia , a este propósito , um importante nicho de admiradores do referido general ao ponto de há alguns anos atrás terem atribuído o seu nome a uma rua de Alpiarça.
A este propósito devo dar aos mais incautos e admiradores do General do monóculo algumas , breves, notas biográficas deste cidadão. Participou na Guerra Civil Espanhola ao lado das tropas fascistas de Franco, participou na segunda guerra Mundial ao lado dos exércitos nazis de Hitler na frente Leste do conflito. Isto não vem na Internet. Professou ideias substancialmente diferentes das do MFA quanto á questão da descolonização,aceitou relutantemente a dissolução da PIDE, não concordava com a legalização do PCP ( um exemplo completo de democrata) , tentou um golpe militar de direita, fugiu para Espanha com material de guerra , fundando um movimento terrorista , apanhou a boleia da Revolução para ser Presidente da Républica. Por alguma razão Marcelo Caetano o chamou ao Carmo. Quem quiser saber mais alguma coisa acerca destes tempos e desta figura prussiana ,leia “ O Depoimento” escrito pelo antigo professor. Tudo caracteristicas pessoais que aconselharam a referida homenagem. Melhor , melhor , só a do autarca socialista de Santa Comba Dão que num passado dia 25 de Abril decidiu inaugurar uma praça da vila com o nome de “ Praça Salazar” . Enfim , visões diferentes mas democráticas do significado das coisas.
Mas o 25 de Abril trouxe avanços fantásticos no plano social, político, cultural do País: S. Nacional de Saúde, Educação, legislação laboral, vida partidária, um poder autárquico livre e democrático.
O que hoje se passa é um sistemático retrocesso em todas estas areas e mais algumas.
A descolonização foi cumprida, a democratização cumprida mas em franca recessão, o mesmo acontecendo ao ultimo D do desenvolvimento, também este a andar para trás.
Não é uma visão catastrofista da situação, é a infeliz realidade sentida pela grande maioria dos portugueses. A democracia deveria visar o bem comum e não a corrupção e o enriquecimento, muitas vezes sem se saber como, de alguns outros.
Em governos que prometem e não cumprem, que agitam uma legitimidade politica incontestável, mas não uma legitimidade social, a democracia e o desenvolvimento teem andado para trás. Trabalha-se neste país para se pagar aos agiotas nacionais e internacionais. Num país que passa pela vergonha de ter crianças com fome ( Ramalho Eanes), pratica-se a desvalorização do trabalho. Para o Governo a pobreza é um estado natural. Estamos a caminho de um Portugal assistencial. A imprensa económica e os média domesticados falam de tudo isto num visivel empobrecimento intelectual do jornalismo e da politica. Jovens sem preparação, colunistas e comentadores de cueiros ligados aos partidos do poder, mascarados de independentes, , trepadores sociais moldados na subserviência e no “ lambebotismo” nacionais. Onde estão os valores, o orgulho de um país , a sua identidade? Fomos claramente transformados num protectorado da finança internacional, do FMI, da matrona alemã. Há a retórica política, a semântica, as novas palavras para enganar tolos, o discurso redondo, que nada diz , que nada explica. 
O discurso oficial é contra velhos reformados, pensionistas, desempregados. Emigrem! Ai aguentam aguentam! A deslocação da liberdade faz-se para os mais ricos. Não é por acaso que num país de tanga o numero de multimilionários aumenta de ano para ano. Estamos numa sociedade fundamentalmente autoritária e anti democrática , sem que aparentemente tal incomode muitos dos que se afirmam da democracia e liberdade.
Daí que quando hoje comemoramos o 25 de Abril mais do que falar do passado interesse lutar pelo presente. Essa também uma lição de Abril: lutar por um Portugal diferente para melhor evidentemente.
Uma palavra sobre Alpiarça, sobre a nossa vida em sociedade . Inevitável para falar da situação da política autárquica , inquinada hoje pelo estabelecimento de um espírito trauliteiro nas diversas reuniões da autarquia. Lamenta-se que as oposições , perante um Presidente da Assembleia Municipal e um Presidente da Câmara, reconhecidamente dialogantes, correctos e diligentes nas suas intervenções, surjam recorrentemente as manifestações mais primárias de um anti-comunismo rasteiro que não olha a meios para atingir (os seus ) fins, que não me parecem ser legítimos por esta via. No fundo não há verdadeiro debate de ideias. Há o desrespeito constante, a provocação a insinuação serôdia. Há um ar displicente, um rancor profundo e reservado, um ódio mal disfarçado. Existe uma vaidade patente , um narcisismo notado, tudo isto empobrecendo o debate político, tudo isto traduzindo um pequeno universo mental, vociferando contra tudo e contra todos. O conteúdo das intervenções da oposição à CDU é toldado pelo estilo, pelo que a maioria delas não existe mais, pela forma deplorável como é feita.
Exigia-se à partida um nivel elevado, mais elevado na discussão. Com propostas, com contraditório, com critica, com opiniões diferentes, opostas às do executivo mas sem raiva e sobretudo com o respeito devido a todos os eleitos.
Se não se propõe uma coexistência política pacifica dada a sua impossibilidade, exige-se por seu lado uma coexistência política pautada pelo respeito aos eleitos da maioria, da grande maioria. Tal é sempre possivel desde que exista vontade para tal, com bom senso , sem abdicar de todos os direitos que são de todos, da liberdade de opinião ,sem cultivar “ o quanto pior melhor”.
Não é seguramente com o comportamento actual que se defendem os interesses de Alpiarça, que todos fazem questão de afirmar.
Tomar como até hoje parece ter sucedido a calma, o espírito dialogante , a paciência dos Presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal como sinal de fraqueza e de que a tactica está a resultar não me parece uma atitude inteligente por parte do Bloco Central que forma a oposição.
Depois há que ter autoridade moral para dar lições de democracia e liberdade a toda a gente. No que me diz respeito fico sistematicamente siderado quando ouço alguém com” rabos de palha e esqueletos no armário”, bem na vida, arengar sobre estes temas. Sobretudo aqueles a quem chamo “ acomodados do 25 de Abril” ou trepadores sociais, aos que subservientemente vivem na sombra de quem lhes pode ser útil agora , e à cautela, no futuro, para satisfação dos seus projectos de vida.
O apelo é portanto no sentido da reformulação de procedimentos.
Para terminar gostaria de referir que a luta pelos ideais completos que Abril nos proporcionou, irá inevitavelmente continuar , com mais força. Contra estes governos , contra a corrupção, contra a injustiça.
As forças políticas portuguesas , especialmente as do famoso e elegante “ arco da governação” devem dizer aos portugueses o que são , optando pelas suas matrizes programáticas ou assumindo as suas transformações. O que é a social democracia hoje? O que é a democracia cristã? . O que se vê distintamente ´nos poderes é uma mancha de radicais, neoliberais e de criaturas cujo partido é o EURO.
No que respeita à CDU o caminho está traçado. Coerentemente. Com Trabalho, Honestidade e Competência, Lutando pelos injustiçados, lutando por Abril, por Portugal, lutando por Alpiarça.
Viva o 25 de Abril
Viva Alpiarça.