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segunda-feira, 28 de abril de 2014

SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA: INTERVENÇÃO DE FERNANDO LOURO, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça


SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA COMEMORATIVA DOS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL




SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA COMEMORATIVA DOS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL
25 de Abril de 2014 - Novo Auditório da Casa dos Patudos 


INTERVENÇÃO DE FERNANDO LOURO, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça 

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal
Senhoras e Senhores Deputados Municipais
Senhores Vereadores
Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia de Freguesia, e demais autarcas aqui presentes.
Ex.mos Representantes das Autoridades e Instituições do Concelho
Ilustres Convidados
Colegas do Orfeão da SFA
Órgãos da Comunicação Social,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Comemora-se este ano 40 anos do 25 de Abril de 1974.
Mais uma data redonda, relevante, que se comemora no país, e em Alpiarça em particular, a par das comemorações do centenário do concelho.
A revolução do 25 de Abril mudou decisivamente o panorama político e social em Portugal, ao terminar com uma ditadura de 48 anos e reinstalar o regime democrático.
O Povo de Alpiarça, sente em particular esta data, porque se há alguém que durante a ditadura muito lutou e se sacrificou pela libertação do país do jugo fascista, como antes já tinha lutado por outras libertações, esse alguém foi com toda a certeza o Povo de Alpiarça.
Por essa razão, com toda a justiça, nesta noite da Assembleia Municipal vai ser homenageado com a atribuição da medalha municipal da liberdade. 
A data do 25 de Abril é recorrentemente sinónimo de liberdade, dia 25 de Abril, dia da Liberdade.
Foi aquilo que mais sentimos nessa data, o fim da opressão, o início da Liberdade. 
O fim da guerra colonial; o fim do garrote da censura; o fim da prisão política, o fim das perseguições e torturas, o fim dos tribunais plenários e de condenações por delito de falar, escrever e cantar, conforme as opções de cada um.
Felizmente o delito de pensar, esse nunca pôde ser censurado nem punido
Mas foi muito mais que isso.
Foi a esperança de uma igualdade social.
Foi uma série de direitos adquiridos no que respeita à saúde, à educação, ao trabalho, à habitação condigna, à Justiça, ao direito a sindicatos livres, etc. etc. 
Foi a consolidação do poder local democrático.
Acho importante lembrar que esta revolução, desencadeada por militares, rapidamente foi assumida pelo povo, tornando-se uma revolução popular.
Nas eleições para a Constituinte em 1975, registou-se um índice de participação no ato eleitoral superior a 91%. Foi elaborada uma Constituição que no essencial consagrou as conquistas de Abril.

Nesta data das comemorações, nos discursos que se costumam proferir, tem sido recorrente a critica às políticas que se têm praticado, e que procuram contrariar e inverter os valores constitucionais e os valores de Abril.
Uma política fraca para os fortes, e forte para os fracos, nomeadamente as classes sociais mais fragilizadas.
Embora eu prefira um discurso que lembre aquilo que eu mais senti em 1974, alegria, sonho, e esperança, acho importante e necessário fazer essa análise.
Nomeadamente num momento em que todos sentimos que a governação do país está essencialmente dependente do estrangeiro, troika, Alemanha, FMI, e os grandes interesses financeiros. Serão os políticos eleitos, ou serão os grandes banqueiros e os grandes empresários. Ou aquilo tudo se confunde. Não sabemos bem, ou talvez até saibamos.
As verdades das promessas eleitorais, passam a ser as mentiras do dia seguinte.
Num momento em que sentimos estar em causa a própria democracia, já que nos dizem recorrentemente que os portugueses não têm opções.
Ou fazemos aquilo que nos estão a impor ou será o fim.
Políticas que apenas empobrecem a generalidade do povo português e que pelo contrário vão continuando a enriquecer os mais poderosos.
O país está a ficar privatizado, tudo se privatiza, Sobretudo se der lucro. Os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Chocantemente e escandalosamente ricos. 

Também é necessário refletir e questionar… que podemos fazer para inverter esta situação? Será que estamos de tal forma conformados e acomodados a tudo isto? Será que deixámos de ter nas nossas mãos a capacidade de mudar? 
Outros, nos seus discursos, preferem no essencial esquecer os valores de Abril, preferem esquecer os verdadeiros responsáveis pelo momento que estamos a viver, preferem falar, sem o mínimo de senso.

Um determinado senhor, muito poderoso na Europa, mas muito subserviente perante aqueles que na verdade detêm o poder, resolveu elogiar o Ensino em Portugal durante o Estado Novo. Fez isto nas vésperas do 25 de Abril. Aqui não há ingenuidades, as coisas não acontecem por acaso. Apenas se esqueceu de dizer que nesse tempo, do ensino “maravilha” havia uma taxa de alfabetização reduzida e que o ensino secundário e universitário era para uma minoria de portugueses, e que apenas após o 25 de Abril o Ensino foi democratizado e passou a ser acessível a todos. Esqueceu-se, enfim.
Permitam-me referir. Eu e muitos outros, só pudemos estudar, com muito sacrifício das famílias. Meu pai foi um dos primeiros emigrantes a sair de Alpiarça, ainda na década de 50. Emigrar clandestinamente, já que naquele tempo a emigração era proibida.
Emigração, chaga social que afasta as pessoas das suas raízes e que separa as famílias. Antes hipocritamente proibida, hoje descaradamente incentivada.

Não me encontrava em Portugal, quando se deu o 25 de Abril. Estava em Angola, na guerra colonial, quando regressei em 1975, encontrei um país novo. Afastado do cinzentismo de décadas. Encontrei um país colorido, um país que vivia, com alegria e Esperança. Em festa, mas também em luta.
Encontrei as gentes nas ruas, com muito entusiasmo, muita generosidade.
Muito preocupadas com o coletivo, esquecidas do individualismo, muito solidárias e fraternas.
Muita esperança no futuro.

Esta faceta da solidariedade e fraternidade também importa recuperar, em oposição ao egoísmo.
Importa que os nossos governantes nos tratem como pessoas, e não por contribuintes, por utentes, por eleitores, por um número.
Nos tratem com respeito.

Não quero terminar, sem lembrar os militares de Abril, que há 40 anos atrás, corajosamente, prepararam e concretizaram o golpe militar que permitiu o fim da ditadura e abriram as portas para as todas as transformações que se sucederam.
Obrigado a todos.

Viva o 25 de Abril.
Viva o Povo de Alpiarça

Fernando Louro (25 de Abril de 2014)