As fundações públicas devem ser extintas. As
fundações privadas sem recursos têm de mudar de nome. E aquelas que,
embora dispondo de meios, não perseguem um fim social visível, devem
perder o seu estatuto de utilidade pública. Esta verdadeira limpeza
levará à eliminação de centenas destas entidades. No final, restarão
apenas cinco ou seis genuínas fundações.
Uma verdadeira fundação é
uma entidade cujo instituidor, dispondo de meios avultados, de um fundo,
decide disponibilizá-lo à comunidade para perseguir um dado desígnio
social, um qualquer benefício colectivo.
Nesta perspectiva, as
fundações públicas nem sequer são fundações. São departamentos públicos
travestidos, cujo estatuto lhes permite viverem de forma clandestina. Os
seus directores não estão sujeitos a regras da administração pública.
Podem contratar negócios sem qualquer controlo, permitem-se ainda
recrutar pessoal sem concurso. Utilizam os recursos públicos em função
dos seus interesses e dos seus negócios privados.
Já quanto às
actuais fundações privadas, podemos dividi-las em três grupos. Temos as
que pretendem alcançar um fim social útil, mas vivem maioritariamente de
recursos públicos. Assim, se não dispõem de fundos próprios, serão
instituições de solidariedade, associações, mas jamais fundações. Devem
mudar de regime.
Há um outro grupo cujos instituidores são pessoas de
muitas posses que registam os seus bens em nome de fundações
particulares, mas que nada dão à sociedade. Com este esquema, ficam
isentos de pagar IRC na sua actividade, os seus terrenos e prédios não
pagam impostos, como o IMT e o IMI. Até alguns dos seus carros ficam
isentos de pagar imposto de circulação e imposto automóvel. Estes
cavalheiros conseguem assim um paraíso fiscal próprio, verdadeiras
"off--shores" em território nacional. Retirem-lhes pois o estatuto de
utilidade pública.
Feito este expurgo, restará um restrito grupo de
entidades criadas por aqueles milionários que decidiram legar parte da
sua riqueza em benefício da sociedade que os ajudou enriquecer. São os
casos de Gulbenkian, Champalimaud e poucos mais. Para honrar a sua
memória, há que impedir que as suas organizações sejam confundidas com
pseudofundações, casas de má fama geridas por oportunistas.
1 comentário:
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:
Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível.
Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão.
Mas o Estado... é diferente!
Não se pode mandar o Estado para a prisão.
Então, ele continua a endividar-se...
Todos os Estados o fazem!
Colbert: - Ah, sim?
Mas como faremos isso, se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino - Criando outros.
Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino - Sim, é impossível.
Colbert - E sobre os ricos?
Mazarino - Sobre os ricos também não.
Eles parariam de gastar.
E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert - Então como faremos?
Mazarino - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente!
Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer, e temendo empobrecer.
É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais!
Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos.
Formam um reservatório inesgotável.
É a classe média!
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