"Para mim, a manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma operação militar e derrubar o Governo", defendeu Otelo, em entrevista à Agência Lusa, num comentário à "manifestação da família militar", no sábado, em Lisboa.
"Não gosto de militares fardados a manifestarem-se na rua. Os militares têm um poder e uma força e não é em manifestações colectivas que devem pedir e exigir coisas", disse.
Mas diz compreender as suas razões e considera que as mesmas podem conduzir a "um novo 25 de Abril".
"Os militares têm a tendência para estabelecer um determinado limite à actuação da classe política". Esse limite, considerou, foi ultrapassado em 1974 e culminou com a "revolução dos cravos".
Hoje, Portugal está "a atingir o limite", disse, corroborando o que há seis meses dissera à Lusa: "Se soubesse o que sei hoje não teria possivelmente feito o 25 de Abril".
O coronel na reserva acredita que há condições para os militares tomarem o poder e vai mais longe: "bastam 800 homens".
Em comparação com o golpe de 1974 -- do qual afirma ser um "orgulhoso protagonista" --, Otelo considera que um próximo seria até mais fácil, pois "há menos quartéis, logo menos hipóteses de existirem inimigos" da revolução.
Questionado sobre a real possibilidade dos militares tomarem o poder, como há 37 anos, Otelo responde perentório: "Não tenho dúvida nenhuma que sim".
"Os militares têm sempre essa capacidade, porque têm armas. É o último bastião do poder instituído", afirmou.
"Estou convicto que, em qualquer altura, se os militares estiverem dispostos a isso, podem avançar sempre para uma tomada de poder", adiantou.
O estratega do golpe do 25 de Abril faz uma análise crítica dos últimos 37 anos: "Se eu adivinhasse que o país ia gerar uma classe política igual à que está no poder, e que está a passar a certidão de óbito ao 25 de Abril, eu não teria assumido a responsabilidade de dar essa alvorada de esperança ao povo".
"Estabelecemos com o povo português um compromisso muito forte que era o de criar condições para um acesso a nível cultural, social e económico de um povo que tinha vivido 48 anos debaixo de ditadura", acrescentou.
"Assumimos esse compromisso, não o cumprimos e não o estamos a cumprir porque entregámos o poder a uma classe política que, desde o 25 de Abril, tem vindo a piorar", afirmou. Otelo considera mesmo que, à medida que o tempo corre, tem-se registado "um retrocesso enorme".
"Gozamos da liberdade de reunião, de manifestação e de expressão, mas começa a haver um caminho para trás", frisou.
Para Otelo Saraiva de Carvalho, a revolução "está agonizante" e há quem disso beneficie.
"A classe política - sobretudo o que podemos abstractamente chamar de direita - está a retomar subtilmente tudo aquilo que eram as suas prerrogativas antes do 25 de Abril e a passar a certidão de óbito" à revolução.
"A minha mágoa é essa", adiantou, sem esconder o pessimismo em relação ao futuro: "Perdemos o compasso da história".
As associações sócio-profissionais de militares têm marcada para sábado uma concentração nacional em protesto contra as "medidas duríssimas" apresentadas pelo Governo na proposta do Orçamento para 2012, nomeadamente a redução de remunerações e pensões, cortes nos subsídios de férias e de Natal e o aumento generalizado dos impostos.
«DE»
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