Bancos concederam 864 milhões às famílias, enquanto às empresas deram quatro mil milhões
A torneira do financiamento à economia voltou a apertar em Julho para os particulares, muito mais do que para as empresas. A banca concedeu um total de 4,87 mil milhões de euros em novos créditos a empresas e a famílias, o que representa uma quebra de 26% face ao montante concedido em Julho de 2010.
Os dados provisórios do Banco de Portugal, divulgados ontem, mostram que os particulares estão a sofrer maiores restrições no acesso a financiamento do que as empresas. No total, as instituições emprestaram às famílias 864 milhões para habitação, consumo e outros fins. Este foi o segundo mês consecutivo em que os empréstimos aos particulares ficaram abaixo da fasquia dos mil milhões, o que nunca aconteceu desde que há registos (2003). Por sua vez, as empresas conseguiram quatro mil milhões de euros em crédito, ou seja, 4,6 vezes mais que às famílias.
Este cenário resulta da necessidade da banca reduzir a alavancagem (ajustar os níveis de crédito ao volume de recursos captados), uma das imposições da troika. Sem acesso aos mercados de crédito, o sector tem vindo a apertar os critérios de concessão de novos empréstimos ao exigir mais garantias e ao aumentar o juro exigido aos clientes. Em simultâneo, fruto da conjuntura económica, regista-se uma redução da procura por parte dos particulares.
Para a habitação foram concedidos 368 milhões, o valor mais baixo de sempre e menos 30 milhões face a Junho e uma redução de 607 milhões quando comparado com Julho de 2010. Estas operações estão a ser concedidas a preços cada vez mais elevados. A TAEG (taxa anual efectiva global), que representa o custo total do crédito, está a aproximar-se dos 5%. Os financiamentos para consumo e outros fins também registaram uma quebra, enquanto o crédito às Pequenas e Médias Empresas (PME) e às grandes sociedades aumentou face a Junho.
No segmento empresarial, as grandes empresas (aquelas que registam um volume de negócios superior a um milhão de euros) conseguiram mais financiamento que as PME.
Os bancos já tinham alertado que o financiamento vai ser cada vez menor, mais caro e, sobretudo, direccionado para o sector empresarial. É previsível que nos próximos meses os bancos restrinjam ainda mais a concessão de crédito, apesar dos apelos do Banco de Portugal e do governo para que a torneira não se feche por completo.
A troika já está instalada nos oito maiores bancos onde vai analisar à lupa os créditos concedidos aos 50 maiores clientes de cada instituição e a avaliar a adequação das garantias dos empréstimos e as provisões associadas a cada contrato, As instituições receiam métodos de avaliação "extremistas" que as obriguem a registar mais imparidades, o que implicará mais reforços de capital. No total, entre particulares e empresas, a banca tem em carteira 10,4 mil milhões de euros em crédito malparado. Nas famílias, o incumprimento atingiu 4,38 mil milhões de euros, o que corresponde a 3,1% do total dos financiamentos e o nível mais alto desde Maio de 1998. Nas empresas aumentou para 6 mil milhões de euros, ou seja, 5,16% do total de créditos concedidos.
No mês de Agosto, os bancos portugueses voltaram a aumentar os financiamentos junto do Banco Central Europeu em 1,79 mil milhões para mais de 46 mil milhões de euros, o que acontece pela primeira vez desde Maio.
Em Julho, as famílias depositaram 10,79 mil milhões de euros nos cofres dos bancos, o valor mais elevado em dois anos e meio. A conjuntura económica obriga os portugueses a aumentar a taxa de poupança, ao mesmo tempo que os bancos aumentam a remuneração dos depósitos para aumentarem a liquidez em caixa e assim diminuírem o recurso aos empréstimos do BCE.
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