O antigo Presidente da República e primeiro-ministro Mário Soares manifestou-se “muito preocupado” com a “decadência da Europa”, a que não são alheias “fracas lideranças” e o desvirtuamento das famílias políticas da democracia-cristã e do socialismo democrático.
“A Europa está mal e eu estou muito preocupado com o que se pode passar na Europa e com a decadência da Europa”, disse Mário Soares à Lusa. Numa declaração a propósito do Dia da Europa que se assinala segunda-feira, o principal responsável pela adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) considerou que a UE não tem estado à altura da solidariedade que o momento actual exige.
“Estávamos no centro do Mundo, numa situação ótima, éramos uma sociedade perfeita ou quase perfeita, de bem-estar, de liberdade e democracia. Agora, vamos passar dificuldades, como está a passar a Grécia e a Irlanda e outros países se seguirão”, declarou.
Uma situação para a qual contribuem as “fracas lideranças” que Mário Soares encontra à frente dos países europeus. No mesmo sentido, o professor universitário, antigo presidente do CDS e antigo ministro do Estado Novo Adriano Moreira defende que “o espírito dos fundadores está afectado e o progresso da União Europeia precisa de recuperar esse espírito, e também de recuperar líderes da mesma qualidade."
Na apresentação do livro “No centro do furacão”, que reúne textos de Mário Soares, muitos dos quais acerca do estado da Europa, o antigo Chefe de Estado e de Governo referiu-se também ao papel das “famílias políticas que fizeram a Europa”, o “socialismo democrático e democracia-cristã (que se baseava na doutrina social da Igreja)”, nesta “decadência” do projeto europeu.
Para Soares, “os democratas-cristãos ou acabaram ou os partidos que se assumem como democratas-cristãos tornaram-se populistas ou populares, com uma estrutura neo-liberal muito vincada”.
Por outro lado, “os socialistas deixaram também de ser socialistas, sobretudo com Blair e a terceira via, com uma estrutura que nada tinha a ver com o socialismo democrático”.
A debilidade europeia ficou igualmente patente na reação às revoltas no mundo árabe, defendeu Mário Soares, sublinhando que foram movimentos “a favor da liberdade”, cujos participantes “não dizem uma palavra contra Israel, contra os Estados Unidos e a Europa”. “Reclamam mais solidariedade, mais democracia, um fenómeno extraordinário que nos devia dar uma grande alegria porque é o reconhecimento que lançámos uma semente que floresceu. Mas não há reações ou há reacções desencontradas por parte dos líderes europeus”, afirmou.
«Lusa»
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