Há uma contradição insanável nas empresas portuguesas: os patrões queixam-se amargamente dos custos de trabalho, enquanto os trabalhadores se lamentam dos seus salários de miséria. E o problema é que ambos têm razão.
De facto, um trabalhador que ganhe 900 euros (é este aproximadamente o salário médio mensal), custará à sua entidade patronal mais 23,75% de TSU, a que se vem juntar 1% de seguro, ou seja, perfazendo um total mensal de 1123 euros. Se nos lembrarmos ainda que o trabalhador recebe 14 meses e que trabalha apenas 11, tendo ainda de ser substituído no seu mês de férias, este valor deve ser ponderado e já vamos em 1532 euros mensais de encargos - isto para um salário de 900 euros.
Mas, no entanto, destes 900 euros, o trabalhador tem ainda de descontar 11% para a segurança social, para além duma taxa aproximada de 10% de IRS, ou seja recebe líquido cerca de 711 euros. Feitas as contas, o trabalhador recebe menos de metade do que a empresa gasta consigo em termos laborais. E isto num salário de 900 euros brutos; daqui para cima, o cenário tende a agravar-se.
A todos estes custos, há ainda que juntar os que são relativos à medicina no trabalho, formação e outras regalias sociais de difícil quantificação.
Com a actual estrutura de custos de trabalho, as consequências estão aí à vista: salários líquidos de miséria, empresas descapitalizadas, e o desemprego a disparar de forma galopante.
«RR/PT»
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