O filósofo José Gil e o sociólogo António Barreto admitiram que o resgate de Portugal retira soberania ao país, mas consideraram positiva a privatização, com limites, de empresas que ainda estão no perímetro estatal.
«Não há dúvida nenhuma que, em múltiplos campos, e não só no campo financeiro, a presença da troika vem tirar soberania ao nosso executivo, à nossa governação, considerou José Gil, o autor do livro ‘Portugal, Hoje: O Medo de Existir”, editado em 2004.
«Na educação, como noutros campos, vai haver cortes graves que são decididos pela troika, acrescentou José Gil
Portugal vai receber um empréstimo de 78 mil milhões de euros nos próximos três anos ao abrigo de um acordo de ajuda financeira com a troika do Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, ficando obrigado a aprovar um conjunto de medidas para reduzir os gastos do Estado que abrangem diversos sectores.
No sector da educação, as medidas incluem a «racionalização» dos currículos e a criação de centros escolares, com o objectivo de reduzir os custos do Estado, que deverão atingir os 195 milhões de euros em 2012 e os 175 milhões de euros em 2013.
Para o sociólogo António Barreto, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Portugal tem sobretudo de se queixar se si mesmo pelo que considerou a perda de «uma fatia importante» da soberania.
«Se Portugal perde soberania, é porque cometeu erros demais, porque deve dinheiro a mais», afirmou.
«Quem é devedor de quantidades astronómicas de dinheiro, como o Estado português e a sociedade portuguesa, fica obviamente com menos liberdade. Quem deve, tem menos liberdade, e isso lamento», acrescentou António Barreto.
António Barreto considerou que as privatizações não retiram soberania a um país e afirmou que «há países que têm muitas empresas públicas e são dependentes» admitindo, no entanto, dúvidas quanto à privatização da Caixa Geral de Depósitos.
«Em relação às outras empresas públicas, ou parcialmente públicas, ou que têm intervenção do Estado, na maior parte não vejo nenhum argumento decisivo para as manter na esfera estatal», referiu.
«O que me aborrece pessoalmente é que o Estado não tenha (…) a sua própria política de privatização - ou não - e que seja o resultado de uma imposição externa devido aos erros que Portugal cometeu ao longo dos anos», acrescentou.
José Gil considerou também que a privatização de empresas não retira soberania ao país, mas criticou opções políticas ultra-liberais.
«Há muitas empresas que devem ser privatizadas, mas os políticos não podem agir em Portugal, abrindo um espaço de mercado livre e de concorrência, como se Portugal fosse um grande país, como os Estados Unidos», afirmou.
«Portugal é um país pequeno e não há espaço nem unidades de concorrência para que essa concorrência suscite, por ela própria, um incentivo à economia, ao desenvolvimento. O modelo tem sido sempre o modelo ultra-liberal, e isso parece-me mal», concluiu.
«Lusa/SOL»
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