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| Por: Anabela Melão |
«Pode, se o deixarem à solta: é o que Vítor Gaspar está há quase dois
anos a tentar fazer a Portugal. Ele dará cabo do país e não deixará
pedra sobre pedra se não for urgentemente dispensado e mandado regressar
à nave dos loucos de onde se evadiu. (...)
Gaspar não sabe sair do
desastre em que nos meteu e, como um timoneiro de uma nave em rota de
perdição, ele já não vê nem passageiros nem carga, ou empregos e vidas a
salvar: prefere que o navio se afunde com todos e ele ao leme. Sem
sobreviventes nem testemunhas. (...)
Sim, incompetência: porque o
mais extraordinário de tudo é pensar que Vítor Gaspar impôs ao país uma
política de austeridade suicida que o conduziu a uma das maiores
recessões da sua história e sem fim à vista e, em troca, não conseguiu
as duas [coisas] que ele e os demais profetas da sua laia de fanáticos
juravam ir alcançar sobre as ruínas do país: nem fez a reforma do estado
nem controlou o crescimento da dívida pública – pelo contrário, perdeu-lhe o controlo. (...)
É assim que Vítor Gaspar governa o país, perante a aquiescência do
primeiro-ministro e a cumplicidade do Presidente da república. Eles
sustentam que tudo fará sentido e valerá a pena no dia em que Portugal
regressar aos mercados. Não é um sonho, é um delírio: quanto mais o PIB
cai mais sobe a dívida pública, calculada em percentagem do PIB. (...)
Mesmo com um Governo italiano arrastando ainda e uma vez mais o
fantoche de Berlusconi, mesmo com uma França chefiada pelo triste
Hollande ou uma Espanha chefiada pelo incapaz Rajoy, mesmo com a Grécia
de Samaras, a Europa do sul está finalmente a mover-se, por instinto de
sobrevivência. Sem perder tempo, Lette foi direito à origem do mal: a
Berlim e a Bruxelas. Ele não fará abalar Angela Merkel nas suas
convicções e interesses próprios e não conseguirá também fazer com que
Durão Barroso deixe de oscilar conforme o vento, até ficar tonto. Mas,
se conseguir unir o sul e juntar-lhe outros povos acorrentados pelos
credores e condenados à miséria, enquanto o norte prospera sobre a ruína
alheia, de duas uma: ou a Europa se reconstrói como uma livre
associação de Estados livres ou implode às mãos da Alemanha. Qualquer
das soluções é melhor do que esta morte lenta a que nos condenaram.
(...)
É claro que nada disto dá que pensar a Vítor Gaspar, que vem
de outro planeta e para lá caminha, nem a Passos Coelho, que estremece
de horror só de pensar que alguém possa desafiar a autoridade da sua
padroeira alemã. Nisso também tivemos azar: calhou-nos o pior país para
viver esta crise. Mas este Governo vai rebentar, tem de rebentar. Porque
a resposta à pergunta feita acima é não. Não, um homem sozinho não pode
dar cabo de um país com quase nove séculos de história.»
(by Miguel
Sousa Tavares in Expresso)
Gaspar não sabe sair do
desastre em que nos meteu e, como um timoneiro de uma nave em rota de
perdição, ele já não vê nem passageiros nem carga, ou empregos e vidas a
salvar: prefere que o navio se afunde com todos e ele ao leme. Sem
sobreviventes nem testemunhas. (...)
Sim, incompetência: porque o
mais extraordinário de tudo é pensar que Vítor Gaspar impôs ao país uma
política de austeridade suicida que o conduziu a uma das maiores
recessões da sua história e sem fim à vista e, em troca, não conseguiu
as duas [coisas] que ele e os demais profetas da sua laia de fanáticos
juravam ir alcançar sobre as ruínas do país: nem fez a reforma do estado
nem controlou o crescimento da dívida pública – pelo contrário, perdeu-lhe o controlo. (...)
É assim que Vítor Gaspar governa o país, perante a aquiescência do
primeiro-ministro e a cumplicidade do Presidente da república. Eles
sustentam que tudo fará sentido e valerá a pena no dia em que Portugal
regressar aos mercados. Não é um sonho, é um delírio: quanto mais o PIB
cai mais sobe a dívida pública, calculada em percentagem do PIB. (...)
Mesmo com um Governo italiano arrastando ainda e uma vez mais o
fantoche de Berlusconi, mesmo com uma França chefiada pelo triste
Hollande ou uma Espanha chefiada pelo incapaz Rajoy, mesmo com a Grécia
de Samaras, a Europa do sul está finalmente a mover-se, por instinto de
sobrevivência. Sem perder tempo, Lette foi direito à origem do mal: a
Berlim e a Bruxelas. Ele não fará abalar Angela Merkel nas suas
convicções e interesses próprios e não conseguirá também fazer com que
Durão Barroso deixe de oscilar conforme o vento, até ficar tonto. Mas,
se conseguir unir o sul e juntar-lhe outros povos acorrentados pelos
credores e condenados à miséria, enquanto o norte prospera sobre a ruína
alheia, de duas uma: ou a Europa se reconstrói como uma livre
associação de Estados livres ou implode às mãos da Alemanha. Qualquer
das soluções é melhor do que esta morte lenta a que nos condenaram.
(...)
É claro que nada disto dá que pensar a Vítor Gaspar, que vem
de outro planeta e para lá caminha, nem a Passos Coelho, que estremece
de horror só de pensar que alguém possa desafiar a autoridade da sua
padroeira alemã. Nisso também tivemos azar: calhou-nos o pior país para
viver esta crise. Mas este Governo vai rebentar, tem de rebentar. Porque
a resposta à pergunta feita acima é não. Não, um homem sozinho não pode
dar cabo de um país com quase nove séculos de história.»
(by Miguel
Sousa Tavares in Expresso)

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