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quinta-feira, 9 de maio de 2013

O Caos e a Ordem


Por: Anabela Melão

 O Estado em Portugal é uma ficção (cara, mas apenas ficção) e o único que mais ou menos tem ido andando (embora desorientado) é a superestrutura política, o Governo. Tem sido assim há décadas. Porém, depois deste fim de semana, também isso acabou. O Governo passou-se, também ele, para o domínio da ficção, com um guião escrito e posto em cena por Paulo Portas.
O primeiro-ministro anuncia ao País, sexta às 20H, uma série de medidas. Um ministro anuncia uma comunicação para 47H mais tarde… E dirá que a tal série de medidas não é, afinal, bem como o primeiro-ministro anunciou e que há medidas que, enfim, ele não aceita. Mais tarde, o primeiro-ministro mandará alguém dizer que a declaração de Portas é normal e aceitável e até tinha sido tudo combinado. A última palavra sobre a nova série de medidas foi, portanto, não do primeiro-ministro mas, sim, de um dos seus ministros… Tudo isto acaba por ser ficção, nun cenário em que a única realidade é a carga fiscal que cai sobre as costas dos Portugueses. O resto é mesmo ficção pura, para distracção dos espíritos e em concorrência (desleal) com as telenovelas.
Portugal não vive na ortodoxia e nem consegue já ser heterodoxo, à sua velha maneira, tão bem fixada por António Vieira. Portugal vive hoje uma situação paradoxal. Nem ortodoxo, nem heteredoxo, Portugal é paradoxo. Num tempo em que o Governo emigra para o domínio da ficção, os poderes fáticos, poderes informais mas realmente existentes, estão a esboroar-se e, literalmente, a perder o pé que, afinal, é de barro. Quando o Governo deserta a realidade, deixando mais campos abertos aos poderes fáticos, é quando estes fraquejam e se mostram não só incapazes de ocupar os espaços que lhes são oferecidos como se revelam incapazes de manter os que já tinham.
Esta situação paradoxal coloca, imediatamente, dois problemas. Primeiro, garante a insegurança a todos os agentes e indivíduos, tanto da instância política, como da generalidade dos aparelhos de Estado e também, claro, dos tais poderes fáticos. Segundo, esta situação tenderá, pela lei do horror ao vazio, a ser ultrapassada pela emergência de novas propostas e novos líderes políticos e, sobretudo, pela irrupção de novos poderes fáticos, com aproveitamente de fragmentos dos antigos, recomposições, “fusões e aquisições” em combinações com os emergentes, eventualmente, mais duros e “mafiosos”.
Esta “recomposição” dos poderes fáticos é facilitada e até estimulada pelo processo em curso de pauperização do Estado, de desmotivação e resguardo dos seus agentes (que se percepcionam expostos e sem defesa…) e, agora, por esta recente emigração do Governo para o domínio da ficção. Este é um Estado em colapso e sequente processo de fragmentação e caos. Uma realidade em movimento que não sabe para que direcção ir e se espalha em desvario. Uma realidade à espera que o seu movimento gere algures peso suficiente para “inclinar” as coisas no seu sentido… É um processo típico de “ordo ab chaos”. Longo, lento e violento."
 (blog inteligenciaeconomica)

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