.

.

.

.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ordem de emigrar





 A Economia Social patente no ‘Memorando de Entendimento’, que não foi discutido na campanha eleitoral, é muito clara no seu objectivo de criar condições favoráveis à mobilidade do factor trabalho a fim de este se dirigir para os centros de crescimento económico onde existe capital, e abandonar os sectores e os países em depressão à míngua de investimento.

É uma velha lei das zonas monetárias que obriga o factor humano a seguir a moeda onde ela se encontra. Em claro, abre-se um novo ciclo de emigração para os portugueses.

Assim, no ponto que versa o ‘Mercado do Trabalho e Educação’, as medidas tendem a "facilitar a transição dos trabalhadores em todas as profissões, empresas e factores", fragilizando deliberadamente o vínculo dos contratos de trabalho, reduzindo os períodos do subsídio de desemprego, e as indemnizações de despedimento. Embora essas medidas sejam apresentadas como "políticas activas para o mercado de trabalho", não se percebe como uma economia como a portuguesa, com o desemprego a crescer, possa absorver tanta disponibilidade de mão-de--obra. O caminho possível será pois a mobilidade para o mercado comunitário sob a figura da livre circulação de trabalhadores, ou para destinos extracomunitários sob o nome mais conhecido de emigração.

Até as disposições positivas facilitam essa sangria de pessoas de Portugal. Os países receptores querem receber recursos humanos formados nos países de origem à custa dos orçamentos dos Estados periféricos. Deste modo, o "combate ao défice educativo e ao abandono escolar precoce" fica a cargo da República Portuguesa.

Também a rubrica ‘Mercado habitacional’ está cheia de boas intenções, pois é preciso libertar "as famílias" do pesadelo da aquisição de T1 ,2 ou 3, que aliás enriqueceu os promotores, bancos incluídos. "Promover a mobilidade dos trabalhadores" implica eliminar a compra de casa própria, fonte de endividamento das famílias e de crédito malparado na banca, e promover um miraculoso mercado de arrendamento urbano. Com as novas leis, tudo será mais rápido e feito para circular. Até o processo de divórcio simplificado ajudará a libertar raízes e a partir!

Num país em graves dificuldades de crescimento económico e fraco de investimento, a mobilidade dos recursos humanos, assumida pela ‘troika’ no quadro do endividamento, não se destina tanto ao mercado interno quanto ao externo. É uma ordem para emigrar.

«Medeiros Ferreira/CM»

Sem comentários: