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terça-feira, 7 de junho de 2011

O mau feitio de Ronaldo

A humildade não faz do seu vocabulário e acha-se o centro do universo. Mas é, indiscutivelmente, um dos grandes talentos do país, que muitas alegrias lhe deve.

É seguramente o segundo melhor jogador português de todos os tempos. Provavelmente ficará para história como o melhor, se não se deixar deslumbrar e conseguir fazer o que está destinado aos melhores: ser campeão pelo seu país. Cristiano Ronaldo, o menino pobre que deixou a Madeira ainda em idade de jogar ao berlinde para viver no lar do Sporting, é hoje uma das marcas comerciais mais fortes do universo futebolístico. Apesar de marcar golos como nenhum outro, no reino da bola há outro que é considerado o rei dos relvados: Messi de seu nome, argentino de nacionalidade. À semelhança de Cristiano, também Messi deixou a terra de baptismo, embora o actual melhor jogador do mundo tenha feito uma travessia bem maior do que o rival madeirense. Enquanto Ronaldo atravessou o Atlântico para chegar ao continente, Messi percorreu o mesmo oceano mas para alcançar Barcelona, deixando a Argentina para trás. Ambos teriam à volta de 13 anos. Ronaldo não é uma figura tão consensual como o seu grande rival. Enquanto este festeja todos os golos com os autores dos passes que lhe permitiram fazer golo, Ronaldo comemora como se fosse o maestro a quem todos precisam de prestar vassalagem. Se para Messi a discrição faz parte do vocabulário, Ronaldo faz da ostentação a sua marca. Não há nele uma pinga de naturalidade – só lhe falta fazer um laço no cabelo com a marca de uma griffe, parodiando os brasileiros.

De humilde tem pouco. Até a forma como terá sido pai se encaixa num filme de série B. É mimado e constantemente tem atitudes que envergonham quem gosta de futebol. Ao contrário do seu adversário, que parece flutuar no mundo da discrição e humildade.

Tem todos esses defeitos e mais alguns. Mas se Portugal tivesse tantos talentos como ele, o país não estaria na situação em que está – acreditando que o primeiro-ministro teria sido outro nos últimos anos. Ronaldo tem tudo para ser um grande exemplo para os mais novos. Um campeão obstinado em ser sempre melhor, mas sem ultrapassar as fronteiras da decência. Se Messi tem a seu favor o facto de jogar numa das melhores equipas de que há memória, Ronaldo demonstrou neste final de época que jamais se renderá ao poderio do seu adversário. É plausível que no próximo ano consiga aliar o prémio de melhor marcador ao de melhor jogador. Ronaldo jamais descansará enquanto não o conseguir. Acredito que o estatuto de melhor jogador português de todos os tempos está reservado para o jovem madeirense, que alia a predestinação ao trabalho. O mesmo não se pode dizer, infelizmente, dos governantes que nos conduziram à pré-falência.
«SOL»

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