Colunista do "Financial Times" acusa o primeiro-ministro português de se "preocupar apenas com o seu quintalinho" e de ter mentido ao país e diz que Portugal geriu a crise de forma "assustadora". Para Wolfgang Munchau, a comunicação de Sócrates ao país, na semana passada, foi apenas um "alerta trágico-cómico" da crise na Europa.
“Não se pode gerir uma união monetária com governantes como o sr. Sócrates ou com ministros das Finanças que espalham rumores sobre a desintegração” da zona euro. É desta forma que Wolfgang Munchau, colunista do FT, inicia o último parágrafo de um texto publicado ontem onde critica a forma como os responsáveis europeus têm lidado com a crise do euro.
Para o comentador, a actuação do primeiro-ministro português ajuda a perceber os problemas da Europa na resolução da crise da moeda única. “A razão política pela qual esta crise vai de mal a pior é um problema de actuação colectiva que continua por resolver. Ambos os lados têm falhado. O deputado avarento e economicamente iletrado do Norte da Europa é tão responsável como o primeiro-ministro do Sul da Europa que só se preocupa com o seu quintalinho. O governo grego comportou-se de forma relativamente correcta, mas a forma como Portugal tem gerido, e continua a gerir, a crise é assustadora”, escreve Munchau.
O colunista alemão critica José Sócrates por “ter escolhido adiar para o último minuto o pedido de ajuda financeira. O seu anúncio, na semana passada, foi um alerta trágico-cómico da crise. Com o país à beira da extinção financeira, foi à televisão nacional orgulhar-se de ter garantido um acordo melhor do que a Grécia e a Irlanda. Além disso, garantiu que o entendimento não seria muito doloroso. Quando os detalhes foram conhecidos, poucos dias depois, percebeu-se que nada disso era verdade. O pacote contém cortes de custos severos, congela os salários da função pública e as pensões, aumenta os impostos e prevê uma recessão profunda nos próximos dois anos”.
Pela forma como governantes como Sócrates actuaram em relação ao pedido de ajuda de Portugal e os ministros das Finanças europeus geriram a informação sobre a reunião de sexta-feira para discutir alterações ao pacote de ajuda grego, Wolfgang Munchau considera que o problema da zona euro “não é uma crise da dívida. É uma crise política. A zona euro vai confrontar-se, em breve, com a escolha entre um impensável passo em direcção a uma união politica ou um igualmente inimaginável passo a trás”.
Até porque, “como os historiadores económicos sabem desde sempre, uma união monetária sem uma união política não é viável”. Assim, o especialista em temas da zona euro, defende que o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, deve assumir publicamente a sua posição a favor de uma maior integração política.
«JN»
Sem comentários:
Enviar um comentário